O setor financeiro norte-americano recebeu com grande prudência a nova ordem da Casa Branca, que orienta os reguladores a permitirem que os Planos Poupança Reforma 401(k) dos pensionistas americanos possam incluir ativos como criptomoedas. Para os operadores, esta possibilidade “acrescenta uma nova camada de risco às carteiras de reforma dos investidores comuns, que podem não compreender totalmente os riscos envolvidos”, noticiou a agência Reuters nesta segunda-feira.

“Isto é totalmente novo. Nada disto foi ainda testado sob stress, seja num choque de mercado ou numa liquidação prolongada”, afirmou Christopher Bailey, diretor de reforma da Cerulli Associates, uma empresa de investigação em gestão de ativos. “Há preocupações com a liquidez e questões relacionadas com taxas, entre outras.”

Enquanto os defensores da indústria e a administração Trump afirmam que os investimentos em private equity ou criptomoedas prometem retornos mais elevados, os críticos sublinham que estes investimentos são inerentemente mais arriscados, não têm o mesmo nível de divulgação de informação e apresentam taxas mais elevadas do que os planos de reforma tradicionais.

“Penso que as pessoas não estão a falar o suficiente sobre o potencial de taxas mais elevadas”, referiu Philitsa Hanson, responsável de produtos, ações e gestão de fundos da Allvue Systems, fornecedora de software e soluções para gestores de ativos privados. A ordem executiva, disse, “levanta mais questões do que respostas. Alguém precisará de ser muito criterioso na forma como estes tipos de ativos poderão ser incorporados” nos planos 401(k).

Os fundos de private equity e outros fundos de ativos alternativos têm vindo a captar cada vez mais capital de particulares abastados, mas são tradicionalmente concebidos para investidores institucionais e incluem, regra geral, níveis mais elevados de taxas e comissões associadas. O private equity, por exemplo, há muito que segue a estrutura “2 e 20”: os gestores recebem uma taxa fixa de 2%, além de 20% de quaisquer ganhos. Em contraste, os fundos mútuos, que atualmente representam a maior parte dos ativos dos planos 401(k), cobram taxas que, em média, são de apenas 0,26%, segundo o Investment Company Institute.

Dmitriy Katsnelson, vice-diretor de investimento da Wealthspire Advisors, que gere 30 mil milhões de dólares para particulares e famílias com elevado património, observa que, se a ordem executiva desencadear uma mudança rápida e significativa no leque de planos de investimento disponíveis, isso inverterá a tendência das últimas décadas. “Tem sido tudo uma questão de cortar taxas, sem causar danos”, afirmou. “Vai demorar algum tempo até que as pessoas criem uma estrutura para que isto funcione e ponderem os riscos.”

Os gestores de ativos alternativos deverão, provavelmente, criar novos produtos com taxas mais baixas, maior liquidez e mais transparência, se quiserem aceder aos biliões de dólares e aos 90 milhões de investidores com planos de reforma patrocinados pelos empregadores.

Jason Kephart, analista da Morningstar, afirmou que as taxas de alguns investimentos alternativos não estão claramente definidas e, nalguns casos, precisam de ser decifradas a partir de notas de rodapé. Estas “podem até estar a subestimar o custo real para o investidor final, e tenho dificuldade em ver como é que os patrocinadores dos planos de reforma se vão adaptar a isso”, disse, acrescentando: “Acredito que haverá mais esclarecimentos sobre todas estas taxas, exatamente onde se aplicam, e que essa informação será tornada transparente.”