
O anúncio foi feito, na Praia, pelo ministro da Indústria, Comércio e Energia, Alexandre Monteiro, em conferência de imprensa para anunciar novas medidas para mitigar o impacto da guerra na Ucrânia, no dia em que o valor médio dos combustíveis à venda no país aumentou mais de 25%, para vigorar durante o mês de julho.
O ministro lembrou que desde início do conflito que o Governo tomou medidas emergenciais de estabilização dos preços, entre as quais a suspensão entre abril e junho do mecanismo de fixação de preços dos combustíveis, que evitaram que as famílias e empresas sofressem um impacto de mais de 300 milhões de escudos (2,7 milhões de euros).
"Este impacto foi absorvido pelo Governo de Cabo Verde e este período permitiu ao Governo avaliar a situação e trabalhar medidas estruturantes de julho a dezembro", afirmou Monteiro, notando que a atualização -- feita todos os meses -- já não levou em conta a suspensão temporária.
Entre as medidas, está a alteração da taxa de direitos de importação, que na gasolina passou de 20% para 10%, do 'fuel' de 5% para 0%, enquanto gasóleo já era isento, e houve também uma alteração do imposto sobre o consumo especial no gasóleo e na gasolina, em que a taxa 'ad valorem' de 10% passou para valor fixo de 6%.
Durante este mês, a taxa de manutenção rodoviária para o gasóleo será retirada, uma medida justificada pelo aumento "atípico" deste combustível no mercado, levando o Governo a "abdicar" de cerca de 50 milhões de escudos (453 mil euros) de receitas.
De acordo com a nova tabela de preços máximos, que vigorará até 31 de julho, o litro de gasóleo normal passou hoje a ser vendido em Cabo Verde a 181,30 escudos (1,65 euros), um aumento de 18,19%, o de gasolina a 189 escudos (1,73 euros), uma descida de 0,9%.
O ministro disse que sem nenhuma medida tomada o preço do gasóleo seria de 203,2 escudos (1,84 euros), evitando assim um aumento de 48 escudos (0,43 euros) este mês.
Já a gasolina, referiu que sem nenhuma medida o preço seria hoje de 219,5 escudos (1,99 euros), tendo, por isso, evitado um aumento de 30,5 escudos (0,27 euros) com as medidas estruturantes.
Na eletricidade, revelou que sem nenhuma medida a tarifa sofreria um aumento e 18,7 escudos por quilowatt (kwh), enquanto com as medidas estruturantes a Agência Reguladora Multissetorial da Economia (ARME) anunciou um aumento de 11,87 escudos/kwh.
"Para proteger as famílias, o Governo vai assumir 7,1 escudos/kwh do aumento fixado pela ARME. Com estas medidas, as famílias pagarão apenas 4,75 escudos/kwh", reforçou o ministro, notando que as famílias beneficiárias da tarifa social não terão aumentos.
Até final do ano, o porta-voz do Governo revelou que as medidas na eletricidade representam um esforço financeiro de mais de 1.080 milhões de escudos (9,7 milhões de euros) para proteger as famílias e as empresas.
"O Governo continua determinado e empenhado na implementação de soluções estruturantes, que tornam o país progressivamente mais resiliente e melhor preparado para enfrentar os choques externos", garantiu o ministro, lembrando que ainda há "muita incerteza" quanto à guerra e os preços no mercado internacional estão a custar o dobro ao país.
Por isso, pediu mudanças de atitude em relação ao consumo de energia. "Precisamos de ser mais eficientes no consumo de eletricidade e de combustíveis", apelou Monteiro, dizendo que o Governo está a utilizar "todos os instrumentos de que dispõe" e a mobilizar recursos para proteger as famílias e a economia dos impactos da guerra.
Em 20 de junho, o primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, declarou a situação de emergência social e económica no país devido aos impactos da guerra na Ucrânia, dizendo que isso vai permitir ao país mobilizar recursos junto dos parceiros internacionais.
O arquipélago enfrenta uma profunda crise económica e financeira, decorrente da forte quebra na procura turística - setor que garante 25% do Produto Interno Bruto (PIB) do arquipélago - desde março de 2020, devido à pandemia de covid-19.
Para 2022, devido às consequências económicas da guerra na Ucrânia, nomeadamente a escalada de preços, o Governo cabo-verdiano baixou a previsão de crescimento de 6% para 4% e prevê uma inflação de 8%, a mais elevada dos últimos 25 anos.
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