
"Não há hipótese, que fazer? O Governo quando quer tem de acontecer", diz à Lusa Francisco Matsinhe, a tirar uma nota de 100 meticais (cerca de 1,3 euros) para pagar os 40 meticais (55 cêntimos de euros) impostos pela tabela de preços das novas portagens.
Inconformado, Matsinhe diz preferir esperar para ver se o Governo tem razão, quando defende que as portagens são necessárias para a mobilização de recursos que possam garantir manutenção e transitabilidade de qualidade.
"Não sei se vamos ter estrada de qualidade com o que pagamos, quero ver depois", desabafa, colocando a viatura em marcha, depois de a cancela da portagem de Zintava, à saída da cidade de Maputo, abrir, confirmando que a "portageira" já recebeu o dinheiro.
Nova na função como as próprias portagens, a mulher teve de perguntar a um "supervisor de portagem" o nome da sua profissão, ali mesmo na presença da Lusa.
"És portageira e aí onde estás chama-se cabina", explica o supervisor, ajudando numa atividade para a qual Ângelo Lichanga, presidente da Rede Viária de Moçambique (Revimo), concessionária da estrada circular, diz que foram mobilizados e formados 300 colaboradores.
Também resignado, Youssel, cidadão turco residente em Maputo, prefere ver o lado bom de passar a pagar pela utilização da rodovia, acreditando que a mesma vai poder continuar em bom estado.
"O serviço de portagem é bom, não se demora na fila e com o dinheiro cobrado será possível manter a estrada sem problemas", declara, ao volante do seu pequeno carro.
Para um outro automobilista da circular, que prefere não ser identificado, "o Governo foi esperto, porque começou a cobrança das portagens, quando não há alternativa".
"As estradas dentro dos bairros de Maputo, que seriam alternativa, estão completamente alagadas, porque estamos em tempo de chuvas e todos somos obrigados a recorrer à estrada circular", queixa-se.
David Matsinhe, transportador de passageiros e que conduz um miniautocarro de 15 lugares entre a baixa de Maputo e o distrito de Marracuene, diz esperar que o Governo respeite a palavra, usando o dinheiro das cobranças para a manutenção da infraestrutura.
"Se o Governo cumprir a palavra, será muito bom continuarmos a pagar as portagens", afirma Matsinhe.
O presidente da Revimo assegurou que o dinheiro das portagens será destinado aos custos de manutenção.
"Os utentes perceberam que têm um serviço que vai permitir uma transitabilidade com comodidade e segurança", diz Ângelo Lichanga.
Os automobilistas, prossegue, têm aceitado bem a cobrança nas portagens, e o tráfego está a fluir dentro das previsões.
De acordo com estudos da Revimo, a portagem mais movimentada é a de Kumbeza, com 26 mil veículos, seguida de Costa do Sol, 13 mil, Matola Gare, oito mil e por fim Zintava, dois mil.
Depois do anúncio de segunda-feira à noite da entrada em vigor da cobrança das portagens, vários automobilistas tentaram passar pela rodovia sem pagar, alegando que não sabiam das novas condições.
"Apareceram aqui automobilistas confusos, mas com uma conversa calma, acabaram por se conformar", diz uma portageira.
Temendo distúrbios que podiam ser provocados por uma medida que está a dividir opiniões, elementos da Unidade de Intervenção Rápida e da Polícia de Proteção estão presentes, embora discretamente, em vários pontos das portagens da Estrada Circular de Maputo.
O Governo moçambicano disse na segunda-feira em comunicado que o Tribunal Administrativo autorizou a cobrança da tarifa de portagem na Estrada Circular de Maputo, enquanto analisa uma providência cautelar submetida pelo Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD).
"O Tribunal Administrativo dá provimento à sua solicitação [do Governo], tendo referido estarem verificados os termos que conduzem à exceção do cumprimento da regra da suspensão provisória automática", lê-se numa nota de imprensa do Ministério das Obras Públicas e Habitação.
As tarifas de portagem são de 40 meticais (55 cêntimos de euro) para ligeiros e 580 meticais (oito euros) para pesados, com descontos que vão até 75% para transportes coletivos e 60% para utilizadores frequentes.
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