"Estamos a realizar a segunda comissão mista depois de 15 anos. É preciso ter em conta que é muito tempo, mas vamos recomeçar e recomeçar bem, com o reforço do diálogo político e diplomático, com consultas bilaterais setoriais, com acordos e intenções", afirmou Ulisses Correia e Silva, numa declaração conjunta, na Praia, com o homólogo são-tomense, Jorge Bom Jesus, que está a realizar uma visita oficial a Cabo Verde.

Antes desta declaração, no Palácio do Governo, as delegações ministeriais dos dois países assinaram cinco novos acordos para reforço da cooperação bilateral, em áreas como a educação, turismo, agricultura, economia, formação profissional e comunidades, concluindo assim a segunda reunião da comissão mista.

"O que nós queremos aqui é, de facto, potenciar aquelas áreas em que uns e outros têm maior avanço", afirmou Jorge Bom Jesus, reforçando a importância das relações históricas entre os dois países, mas também as de consanguinidade entre ambos os povos, desde o período colonial, dando como exemplo a ilha do Príncipe, em que "pelo menos" metade da população é de origem cabo-verdiana.

Questionado sobre os 15 anos que passaram entre a primeira e esta segunda reunião da comissão mista, Ulisses Correia e Silva afirmou que não é este Governo (em funções desde 2016) que deve explicar, enquanto Jorge Bom Jesus reconheceu que a "instabilidade política" em São Tomé e Príncipe contribui para este período de afastamento.

"Tenho que reconhecer que passamos nos últimos 10, 15 anos, por alguma instabilidade política, governos que não chegavam ao fim. Possivelmente tudo isto terá pesado não só na materialização de acordos como na regularidade dessas comissões mistas", disse o primeiro-ministro são-tomense.

Antecedendo a assinatura dos cinco acordos e de um processo verbal, bem como a declaração conjunta dos dois chefes do Governo, a comissão mista entre Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, presidida pelos respetivos chefes da diplomacia dos dois países, Rui Figueiredo Soares e Edite Costa Ten Jua, reuniu-se pela primeira vez desde 2007, quando foi assinado o Acordo Geral de Cooperação.

"Este momento é, para nós, de história. Sobretudo porque trata-se de uma comissão mista que não realizamos há sensivelmente 15 anos. Portanto, há toda a vontade e todo o interesse no sentido de quebrarmos os paradigmas e inaugurarmos novos tempos, sobretudo depois deste período, deste contexto pandémico, e neste período de pós-pandemia", sublinhou Jorge Bom Jesus.

Numa altura em que ambos os países, dependentes do turismo, tentam a retoma económica, o primeiro-ministro são-tomense deixou o repto ao homólogo cabo-verdiano: "Nada melhor que juntarmos as nossas forças para minimizarmos as nossas fraquezas".

O primeiro-ministro de Cabo Verde explicou que com base nos acordos hoje assinados, os estudantes são-tomenses terão acesso às universidades cabo-verdianas, mas também vai "aumentar de forma significativa" o número de vagas e bolsas para ensino profissional de jovens de São Tomé e Príncipe. Até 2025, serão 200 vagas para formandos de São Tomé e Príncipe frequentarem cursos de formação profissional em Cabo Verde, nomeadamente em instituições na área da hoteleira, turismo e energia

"Na convicção que se trata de um instrumento muito importante de empoderamento de jovens, capacitando-os para o mercado de trabalho e também para o empreendedorismo", sublinhou Ulisses Correia e Silva.

Acrescentou que os acordos assinados hoje contemplam ainda o aumento de cinco milhões de escudos para 50 milhões de escudos (de 45 mil euros para 450 mil euros) na linha de microcrédito para empreendedorismo, para "aumentar a amplitude desta intervenção".

"O microcrédito é também um instrumento fundamental e articula-se com a formação", destacou Ulisses Correia e Silva, realçando que esta medida vai ajudar os jovens nos dois países a criarem o seu emprego "e o dos outros".

O chefe do Governo apontou ainda a formação profissional e o microcrédito como exemplos de projetos tripartidos, já que além dos dois países também contam com a parceria do Banco Mundial ou da Cooperação do Luxemburgo.

Os entendimentos acordados entre os dois governos envolvem ainda as comunidades emigrantes, com destaque para o projeto que Cabo Verde quer "pôr de pé".

"É a Casa de Cabo Verde em São Tomé e Príncipe, onde possamos representar um pouco daquilo que é a história que nós partilhamos, para ser um espaço também comunitário para todos", destacou Ulisses Correia e Silva.

Os dois chefes do Governo afirmaram o "empenho" em tornar estes acordos em realidade, inaugurando uma nova fase no relacionamento bilateral em que o "foco" são ambas as comunidades.

"Nós auguramos que esta comissão mista seja de facto um recomeço de relações muito mais fortes, de relações muito mais estreitas. E os acordos dão corpo a esta intenção", enfatizou Ulisses Correia e Silva.

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