
De acordo com um relatório sobre as perspetivas económicas mundiais publicado hoje, o crescimento global deverá atingir 2,3% este ano, uma queda de 0,4 pontos percentuais (p.p.) em relação ao que a instituição tinha antecipado no início do ano.
Esta tendência está em linha com as previsões publicadas nos últimos meses pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), confirmando a continuação do abrandamento da economia mundial.
"Há apenas seis meses, parecia estar à vista uma aterragem suave (...). Agora parece que estamos a caminhar para uma nova turbulência. Se não corrigirmos a trajetória, as consequências para os padrões de vida podem ser profundas", alertou o economista-chefe do BM, Indermit Gill, numa conferência de imprensa online, citada pela AFP.
Em causa estão os efeitos do aumento das taxas alfandegárias nos Estados Unidos por Donald Trump e a guerra comercial que daí resultou entre Washington e Pequim, com o consequente abrandamento do comércio mundial.
"Devido ao elevado nível de incerteza política e à crescente fragmentação do comércio, as nossas perspetivas para 2025 e 2026 deterioraram-se", disse Gill.
Embora o Banco exclua o risco de uma recessão este ano, considera que "se as previsões para os próximos dois anos se concretizarem", a economia mundial registará o seu crescimento médio mais fraco desde a década de 1960 nos primeiros sete anos da década de 2020.
O abrandamento está particularmente concentrado nas principais economias, sobretudo nas mais avançadas.
As perspetivas para a economia dos EUA foram revistas em baixa em quase 1 p.p. em relação a janeiro, prevendo-se agora 1,4% este ano, antes de uma ligeira recuperação para 1,6% em 2026.
As estimativas para economia da zona euro foram também revistas em baixa, em 0,3 pontos percentuais em relação ao relatório anterior, prevendo-se um crescimento de 0,7% este ano e um pouco melhor em 2026, com 0,8%.
As consequências são também muito reais para os países emergentes e em desenvolvimento, que "com exceção da Ásia, são atualmente zonas sem desenvolvimento", afirmou Gill.
Para estes países, o crescimento médio deverá atingir 3,8% este ano, antes de subir ligeiramente para 3,9% em 2026 e 2027, uma média de 1 p.p. inferior à registada durante a década de 2010, sendo que a inflação deverá manter-se em níveis superiores aos registados antes da pandemia de Covid-19.
O abrandamento é acentuado nos principais países emergentes, com o crescimento chinês a situar-se agora em 4,5% este ano e a abrandar nos dois seguintes, enquanto a Índia está a aguentar-se melhor, com 6,3% em 2025.
O resto do mundo poderá, no entanto, recuperar se as tensões comerciais entre as principais economias mundiais abrandarem, o que teria um efeito positivo ao reduzir a incerteza política e a volatilidade financeira registadas nos últimos meses.
Em particular, se "todos trabalharem de boa-fé", nomeadamente para "reduzir as barreiras pautais e não pautais com os Estados Unidos", sublinhou Indermit Gill.
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