
O mundo registou em 2024 o maior número de conflitos armados desde 1946, destronando o anterior recorde para o mesmo período, de 2023, indica um estudo norueguês publicado esta quarta-feira que alerta para os riscos do isolacionismo norte-americano e aponta África como a região mais afetada.
No ano passado, foram registados 61 conflitos em 36 países, alguns dos quais dilacerados por vários conflitos ao mesmo tempo, diz o Instituto de Investigação da Paz de Oslo (PRIO, na sigla em inglês).
Em 2023, o registo foi de 59 conflitos em 34 países, de acordo com o relatório do PRIO, citado pela agência de notícias France-Presse (AFP).
"Isto não é apenas um pico, é uma mudança estrutural. O mundo atual é muito mais violento e muito mais fragmentado do que era há 10 anos", comentou a editora principal do relatório que analisa tendências desde 1946, Siri Aas Rustad.
A África continua a ser o continente mais afetado, com 28 conflitos, seguida da Ásia (17), do Médio Oriente (10), da Europa (três) e das Américas (dois). E mais de metade dos Estados afetados está dividida por dois ou mais conflitos.
O número de mortes manteve-se mais ou menos estável em comparação com 2023, em cerca de 129 mil, fazendo de 2024 o quarto ano mais sangrento desde o fim da Guerra Fria em 1989, segundo o estudo, que atribui o registo às guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza, mas também, aos confrontos na região etíope de Tigray.
O risco de “abandonar a solidariedade global”
"Este não é o momento para os Estados Unidos, ou qualquer outra grande potência mundial, se fecharem sobre si próprios e renunciarem ao envolvimento internacional", defende Siri Aas Rustad.
A editora considera que o isolacionismo, "face à violência crescente no mundo, seria um erro profundo com consequências humanas duradouras", referindo-se em particular à linha "America First" (A América primeiro) defendida pelo Presidente norte-americano, Donald Trump.
"Seja sob a presidência de Donald Trump ou de uma futura administração, abandonar a solidariedade global agora significaria abandonar a própria estabilidade que os Estados Unidos ajudaram a construir depois de 1945", afirmou.