"Moçambique produzirá 2,8 milhões de toneladas de cereais (milho, arroz, sorgo, milhete), um aumento de 7,8% em relação ao último ano", refere a última atualização da Rede de Sistemas de Alerta Antecipado de Fome (rede Fews, sigla inglesa) acerca de Moçambique, num documento que consolida dados até final de maio.

A rede cita dados do Departamento de Culturas e Aviso Prévio (DCAP) do Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural (Mader) de Moçambique.

Estima-se que tenham sido produzidas 2,1 milhões de toneladas de milho, seguidas de arroz (376.000 toneladas), sorgo (287.000 toneladas) e milhete (38.000 toneladas). 

Para as sementes de leguminosas e tubérculos, a perspetiva é que alcancem respetivamente 883.000 toneladas e 19 milhões de toneladas, aumentos de 7% e 13% em relação ao último ano, refere-se no documento. 

"Prevê-se que as importações de cereais, particularmente de milho, sejam menores que em 2019, mas provavelmente será necessário importar quase todo o trigo de que o país precisa, assim como metade das necessidades de arroz", acrescenta-se.

O período de colheitas em curso tem diminuído a insegurança alimentar, exceto no sul de Moçambique por causa do terceiro ano de seca e na zona costeira de Cabo Delgado, no Norte, devido a violência armada, nota a Fews.

Todo o cenário está a ser também agravado pelas restrições impostas devido à covid-19, que limitam o acesso das famílias a rendimentos, bem como o abastecimento a partir da África do Sul.

As colheitas permitiram também que, no centro e norte, de março para abril, houvesse uma redução do preço de grão de milho, uma das bases da dieta alimentar moçambicana.

No Sul, devido à seca que prejudicou as culturas, os preços "permaneceram atipicamente estáveis".

"Comparado a abril de 2019, o preço do grão de milho na região sul foi 10% a 13% mais alto, enquanto nas regiões central e norte os preços foram 6% a 26% mais baixos", descreve.

A disponibilidade de água para consumo humano e animal "é preocupante no interior das províncias de Gaza e Inhambane", acrescenta a rede. 

As fontes "estão a secar gradualmente, forçando as famílias a percorrer distâncias maiores" para se abastecerem, mas, ainda assim, "não se espera que o acesso à água atinja os níveis críticos registados na seca induzida pelo El Niño em 2016". 

Prevê-se que as fontes e outras reservas de água se renovem com o início da estação chuvosa 2020/2021, no último trimestre, com previsão de pluviosidade média.

A Fews, Rede de Sistemas de Alerta Antecipado de Fome, agrega organizações norte-americanas e serve como ferramenta de auxílio à ação humanitária.

A situação nutricional em Moçambique é precária com 43% das crianças menores de cinco anos a sofrer de desnutrição crónica, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO). 

De acordo com a organização, a dieta moçambicana está limitada pela baixa diversidade de produção, acesso difícil a alimentos nutritivos e reduzida informação sobre questões nutricionais.

O milho e a mandioca, principais alimentos básicos, são cultivados por 80% de todos os pequenos agricultores moçambicanos e cobrem mais de um terço da terra cultivada, sendo o trigo e o arroz outros artigos importantes do cabaz.

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