Romário Cunha está a ser um dos destaques de Portugal no Euro de sub-17. Titular nos três jogos da fase de grupos, o guardião fez um balanço da primeira fase da competição e em vésperas do duelo com a Itália, deu voz à ambição lusa de conquistar um título que lhe escapa desde 2016. O jogador do SC Braga deixou uma promessa caso se sagre campeão europeu e aproveitou para recordar os primeiros pontapés na bola... longe da baliza.

— Portugal apurou-se para as meias-finais do Europeu. Quais eram as vossas expetativas para esta prova?

— O objetivo inicial era superar a fase de grupos. Fizemos uma boa fase de grupos, fomos capazes de aliar bons resultados a boas exibições.

— Dos três jogos, o mais dramático foi contra a Alemanha, estiveram virtualmente eliminados, mas conseguiram arrancar a vitória no fim.

— Sim, marcou-nos muito. O empate era suficiente e ao intervalo estávamos mais felizes do que os alemães, claro. Mas na segunda parte eles jogaram de forma mais agressiva e conseguiram marcar. Ainda assim, reagimos bem e empatámos e conseguimos a reviravolta no final. Foi incrível, o jogo vai ficar marcado na memória de todos.

— Este tipo de vitórias fortalece o grupo, ainda para mais numa competição curta?

— Sem dúvida, esse tipo de vitória fortalece e une ainda mais o grupo. O resultado pode ser muito importante para o que se segue. O jogo mostrou o espírito que há no grupo, mas também a qualidade. Jogámos contra duas seleções candidatas à vitória, se calhar mais candidatas do que Portugal. Talvez agora as pessoas nos coloquem à frente dessas seleções. Vamos fazer de tudo para levar a Taça para Portugal.

— Recuando à estreia no Europeu, foi duro arrancar contra a Albânia, a seleção anfitriã?

— Foi um grande desafio. Havia oito mil adeptos do lado da Albânia, muito barulho no estádio, mas lidámos bem com a pressão inicial, tivemos discernimento, jogámos o nosso jogo e ganhámos com alguma naturalidade.

— Já estão há vários dias juntos, como é que passam o tempo livre no estágio?

— Estamos sempre entretidos. Por norma descansamos de manhã e treinamos de tarde. Às vezes brincamos, conversamos ou estudamos. O nosso dia a dia passa muito por aí. Incluo-me no lote dos mais brincalhões, mas há malta perigosa aqui [risos].

«O meu irmão faltou a uma frequência da faculdade para me vir à Albânia»

— Nestes momentos é importante ter também o apoio da família e amigos. O Romário já esteve com a sua família?

— A minha família fez um esforço para cá estar, inclusive o meu irmão faltou a frequências da faculdade [risos]. Antes de entrar em campo, pensei nos esforços que todos fizeram para estarem presentes. Agradeço-lhes muito o que fazem por mim.

— Já fez alguma promessa se Portugal for campeão?

— O meu cabelo merecia uma máquina zero se isso acontecesse [risos]. Tenho de pensar, mas poderá ser o mais certo se formos campeões europeus.

— O que representa para o Romário ser o titular de Portugal no Europeu?

— É um orgulho. É uma sensação incrível, era um sonho de criança. Trabalhamos diariamente para estar nestes palcos.

— Como é que o Romário se descreve enquanto guarda-redes?

— Sou comunicativo, ativo no jogo e gosto de comunicar com os meus colegas. O guarda-redes deve estar sempre concentrado e preparado para agir. A posição assim o exige. Por exemplo: quase não tive trabalho contra a Albânia, ao contrário do que aconteceu contra a França. A concentração deve estar no máximo, porque a qualquer momento podemos ser expostos a situações desconfortáveis.

— Tem alguma referência?

— Sempre gostei muito do Ederson. Atualmente, gosto muito de ver o Diogo Costa jogar pela forma como se comporta no jogo. Está sempre muito ativo a ajudar os colegas, uma qualidade que tento colocar no meu jogo.

— Permita-me que recuemos ao momento em que o Romário começou a jogar.

— Tinha cinco anos. Constantemente pedia aos meus pais para me deixarem jogar, só que eu era um bocadinho maroto no infantário. Os meus pais diziam-me que só iria para o futebol se tivesse um bom comportamento. Acho que fui um rapaz bem-comportado durante uns tempos e entrei para o futsal. Depois saltei do pavilhão para o campo e começou a verdadeira história.

«Durante duas épocas joguei uma parte à baliza e outra à frente»

— Mas não começou como guarda-redes.

— Até aos 9/10 anos joguei à frente. Um dia decidi ir para a baliza, não me pergunte porquê. Mas com uma condição: tinha de jogar uma parte à frente. Era o único que tinha duas camisolas [risos]. Joguei assim durante duas épocas, salvo erro, no Ribeira de Pena, no distrito de Vila Real.

— Antes de ser guarda-redes em que posição jogava?

— Jogava onde fosse necessário. Gostava de jogar solto, era um pouco rebelde nesse aspeto. O mister ralhava um pouco comigo porque queria jogar em todo o lado. Aceitei ser guarda-redes quando passei para o Sport Vila Real e Benfica, era uma oportunidade para evoluir e seguir o meu sonho.

— De que forma o facto de ter jogado à frente o ajuda na posição de guarda-redes?

— Ajudou-me a entender melhor o jogo e a jogar com os pés. Sempre gostei de jogar quer na escola, quer nos campos da aldeia. Perdeu-se um bocadinho esse hábito e considero que isso é prejudicial.

— O Romário tem 17 anos, mas joga nos sub-19 do SC Braga. Já trabalhou com a equipa principal?

— Sim, já treinei com a equipa principal. Foi incrível, uma experiência muito boa que me permitiu evoluir ainda mais.

— Aos 17 anos, quais são os sonhos que o Romário tem?

— Para já, quero ganhar o Euro. Sonho estrear-me pela equipa principal do SC Braga, jogar a Champions, representar Portugal [AA] e disputar um Mundial.