
Na zona oriental de Lisboa mora um histórico: o Clube Oriental de Lisboa, emblema que conta com cinco participações no primeiro escalão e já conquistou por duas vezes a extinta II Divisão, correspondente à atual Liga 2, está de regresso aos campeonatos nacionais após já ter garantido a conquista da 1.ª Divisão da AF Lisboa.
Além da história, algo que distingue particularmente este conjunto é o facto de ser uma verdadeira seleção para os residentes em Chelas, Marvila e uma boa parte dos Olivais, bairros muito populosos que convergem num só clube, o que resulta numa particular presença de atletas que, num passado muito recente, desenvolviam a sua carreira em competições profissionais.
O caso mais evidente encontra-se em Joãozinho, lateral esquerdo que representou emblemas de gabarito como o Sporting e o SC Braga e, nos últimos anos, se notabilizou com a braçadeira de capitão do Estoril, na Liga. Atualmente, compete no distrital de AF Lisboa e não considera ter dado um passo atrás.
«Estou no clube do meu pai, nasci e fui criado aqui em Chelas. É claro que o patamar é diferente, o nível também e claramente o nível competitivo no profissional é superior ao que encontramos na distrital, mas acabei por surpreender-me pela positiva, pela qualidade que vi em algumas equipas e também jogadores que fomos apanhando, não é fácil jogar em campos pequenos», explica.
Atualmente com 35 anos, Joãozinho recusa ter rumado ao Oriental para acabar a carreira. «Com a minha idade já olho mais ao prazer de estar dentro do campo e aos jogos que vou fazendo. Os meus números [seis golos e oito assistências em 32 jogos] são sinal de que o meu corpo não está acabado e que não há idades – olha-se para um Pepe, um Otamendi, um Coates, referências dos três grandes de Portugal e vê-se o que esses jogadores são», exemplifica.
«O Pepe ainda fazia mais um ano à vontade, ou a maneira como o Otamendi joga e os minutos que tem ou o Coates, no Sporting e agora no Nacional de Montevideu a jogar Copa Libertadores… acredito que olhem mais para os minutos que fazem durante a temporada, porque é sinal de que estão a fazer um bom trabalho fora do campo e também dentro de campo», analisa Joãozinho, tomando os três jogadores como exemplo a seguir.
Da Liga 3 para o clube da terra
Tiago Pereira é, tal como Joãozinho, natural de Chelas e conviveu no profissionalismo até ao início da presente época, tendo deixado o Varzim, na Liga 3, para rumar ao Oriental, onde nunca tinha jogado apesar de… o ter tentado, no início da sua carreira, tendo reprovado no período de testes e rumado ao vizinho ADCEO, na Encarnação.
«É uma história engraçada. Vim cá treinar ao Oriental quando era iniciado e era muito pequenino, já guarda-redes na altura, e então não fiquei porque eles não quiseram. É engraçado, na altura não fiquei e agora vim como sénior e posso aqui jogar», constata com um sorriso, indicando que a proximidade com o clube nunca se perdeu mesmo quando rumou ao SC Braga, que representou durante seis épocas, até este regresso que considera ter sido no «momento certo».
«Foi com a ajuda de um grande amigo meu, um rapaz com quem crescemos juntos, e que é muito amigo do nosso treinador. As pessoas, sabendo que eu sou daqui, ajudam-me bastante e quiseram que voltasse», conta o guardião de 29 anos.
E não se resumem, ainda assim, em Joãozinho e Tiago Pereira os casos de jogadores que lidaram com o profissionalismo: no plantel há também Fábio Arcanjo, médio criativo que é irmão de Telmo Arcanjo, que representa o Vitória de Guimarães, e ambos foram criados em Marvila, como Fábio destaca com orgulho. «É com enorme prazer que represento o meu Clube Oriental de Lisboa pela ligação enorme, por ser o clube do meu bairro, onde cresci e vivi momentos incríveis, Sinto-me em casa», confessa.
É com enorme prazer que estou no meu COL, o clube do meu bairro. Sinto-me em casa
Outro caso muito curioso neste grupo reside em Deritson Lopes, que irá regressar ao Campeonato de Portugal, competição na qual se estreou pela mão de… Ruben Amorim, quando ambos coincidiram no Casa Pia. No dia 20 de dezembro de 2018, o central foi chamado a jogo para cumprir os últimos três minutos de um embate com o Praiense e, por isso, conquistou a competição tal como o técnico que agora orienta o Manchester United.
Parco em palavras, Deritson dirige a sua atenção ao presente, ao serviço do Oriental. «Vim para o Oriental e esta é uma das melhores épocas que estou a viver. Isso deve-se ao fato de haver esforço e um excelente trabalho em equipa, a nossa equipa é unida e isso reflete-se nos resultados. Só quero agradecer a todos os nossos adeptos, que nos apoiaram desde sempre», relatou o defesa, de 30 anos, a A BOLA, feliz pelo sucesso conseguido.