Patrícia Mamona ainda não sabe quando é que regressará à competição. A triplista olímpica, medalhada prata nos Jogos de Tóquio 2020 (realizados em 2021 devido à pandemia), continua a recuperar de uma grave lesão no joelho esquerdo, contraída em 2023, nos Europeus de Pista Curta, em Istambul, na Turquia, e de que teve uma recaída no ano seguinte, que implicou intervenção cirúrgica e a consequente ausência dos Jogos Olímpicos de Paris.

Há dois anos fora das pistas, a atleta, de 36 anos, assume ter enfrentado um processo doloroso de saúde física e mental, mas acredita poder voltar ao melhor nível para terminar a carreira como ambiciona, após a participação nos Jogos de Los Angeles em 2028.

— Como está a decorrer a recuperação, e em que ponto é que está?

— Está a estar a correr bem, ao seu ritmo. Creio que, acima de tudo, tenho de aprender a respeitar o meu corpo, porque um dos motivos por que tive de submeter-se a esta cirurgia foi querer apressar o processo de recuperação e não correu bem. Agora estou a fazer a recuperação a seu ritmo. Quero voltar o mais rápido possível às pistas, mas também quero regressar bem. Não só a saltar, mas a saltar bem. Não quero fazer apenas provas nacionais, quero voltar às grandes competições internacionais. Por isso, creio que esta época, em princípio, ainda vou estar um pouco resguardada, estarei à procura de recuperar totalmente e de conseguir ganhar forma. Mas ainda tenho como grande objetivo acabar a minha carreira nos Jogos Olímpicos.

— Quer então dizer que ainda está a fazer treino condicionado?

— Sim. Já faço um pouco de tudo, menos triplo salto, porque é bastante impactante e quero sentir que estou pronta e em boa forma antes de começar a saltar.

— Quanto tempo é que poderá mediar o treino sem limitações e o regresso à competição?

— Não faço a mínima ideia. O corpo é que vai dizer. Como disse, querer apressar o processo pode ter os seus senãos e foi o que aconteceu... Fui para os Europeus, em que fui medalhada de bronze, e esta ganância, essa adrenalina, essa obsessão de querer medalhar saiu-me caro. Aprendi muito com esse momento. Entretanto, tentei voltar mais rápido e correu mal. Depois de estar totalmente recuperada, serão os treinos que têm de indicar quando realmente estarei preparada para competir. Não faço a mínima ideia de qual vai ser o meu nível após uma recuperação destas.

— Por que é que voltou a apressar o 'processo'?

— Talvez, pela proximidade dos Jogos Olímpicos. Havia muita pressão. E não era só pressão do público, mas a pessoal, porque queria acabar a minha carreira em Paris e queria acabar bem, o que infelizmente não aconteceu. Por isso, o meu corpo é que vai dizer quando estiver pronto e preparado para voltar a competir. Não tenho data prevista. Infelizmente, não consigo prever o futuro. Os erros saíram-me caros, por isso estamos muito cautelosos, estamos a caminhar de forma gradual, sabendo que, no treino, há muitos indicadores que são necessários para garantir se vou estar bem ou não para começar a competir.

— Como é que se encontra do ponto de vista da saúde mental?

— Fisicamente, se calhar estou melhor [sorri]. Mentalmente, com certeza, também estou muito melhor... Mas é um percurso de altos e baixos, não vou mentir. Ainda sinto, pode dizer-se, um bocadinho de inveja boa dos meus companheiros que estão a competir, mas que me dá forças e motivação para continuar e todos os dias ir à pista. Nunca tinha tido uma lesão grave. As lesões fazem parte do desporto e saber gerir esse tipo de emoções negativas é muito importante. E tem sido um carrossel. Mas tenho tido muita ajuda, não só a nível familiar, também a nível profissional, com a minha equipa técnica, com o psicólogo, o grupo de treino que tem sido espetacular a motivar-me para voltar a treinar e, eventualmente, a competir. Porque quero decidir quando é que acabarei a minha carreira: quero acabar a competir.

— (...)

— Fiz o luto e disse para mim mesma: ‘e agora o que é que posso fazer para conseguir voltar ao ativo?' Decidi concentrar-me na recuperação, rodear-me das pessoas que têm conhecimento na matéria. Apego-me muito a isto, para que a fome de voltar a competir aumente, para quando estiver bem possa despejar todo este acumular de sentimentos negativos. Começo a dar pequenos passos, a perceber que estou a melhorar, e isso é motivador, é aquela luz ao fundo do túnel. Para ser-se atleta tem se ter disciplina, de conseguir meter, de vez em quando, as emoções de lado, e isso se implicar passar por processos de dor e de saúde mental mais críticos, temos de estar preparador. O meu foco é procurar soluções com o intuito de voltar a competir ao melhor nível.