Filho de um industrial portuense, nascido em 15 de abril de 1934, Mário de Araújo Cabral foi o primeiro português a correr na Fórmula 1. A estreia aconteceu no Grande Prémio de Portugal de 1959, no circuito de Monsanto, ao volante de um Cooper-Maseratti.

Mas a carreira nos automóveis acabou por acontecer devido a uma lesão num pé que o afastou dos Jogos Olímpicos, na disciplina de ginástica, que praticou no Ginásio Clube Português, no Porto.

Correu ao lado de alguns dos nomes mais conhecidos de então, como o britânico Stirling Moss ou Jack Brabham.

"Havia alguns pilotos com quem me dava melhor e outros com quem não tinha grande relação. O Stirling Moss era muito distante, o oposto de Phill Hill com quem tinha excelente relação. Os mais próximos eram o Masten Gregory e o Bruce McLaren, que então me aconselhou a comprar o carro dele para 1963. Comprei-o a meias com a Centro-Sud e estreei-o no Grande da Alemanha", lê-se num depoimento do piloto publicado no livro Nicha, do jornalista Adelino Dinis.

No Grande Prémio de Portugal de 1960, no circuito da Boavista, alinhou novamente, mas os carros eram pouco competitivos face à concorrência, pelo que Nicha Cabral partiu do último lugar da grelha.

Na prova, problemas mecânicos ditaram o abandono na 37.ª volta, numa altura em que seguia em sétimo lugar, à frente de Tony Brooks, em Ferrari.

O ano de 1965 marca a carreira do piloto portuense, devido a um grave acidente sofrido no Grande Prémio de França de Fórmula 2, em Roen-Les-Essarts, quando seguia a 200 quilómetros/hora.

"Devido ao impacto, o volante ficou dobrado com a marca das minhas costelas - parti sete", recordou 'Nicha' Cabral, no livro biográfico, prosseguindo com a descrição da violência do acidente.

Mesmo assim, 'Nicha' celebrou a 'sorte'.

"Felizmente não levei nenhuma grande pancada. Passei entre as árvores e fui projetado para um monte de silvas e arbustos ondei andei umas dezenas de metros às cambalhotas. Só sei que estava de pé a fundo, a ultrapassar um piloto atrasado, e que o meu carro descolou. Não perdi os sentidos depois do acidente, fiquei deitado no chão e lembro que fiz sinal para não me mexerem. Dado o meu estado grave, fiquei à espera mais de 30 minutos por uma ambulância especial que tinha uma espécie de pá para me apanhar. Fiz 26 ou 27 fraturas. Só na perna direita tinha 16 pequenas fraturas, mais sete costelas, dois joelhos, o pé esquerdo, o braço direito e o maxilar. Uma das costelas, perfurou a pleura e o pulmão", descreveu.

Em 1973, no Grande Prémio de Portugal, em Fórmula 2, ficou em oitavo lugar, ao volante de um March, e no circuito de Benguela, em Angola, obteria a última vitória da sua carreira.

O último ano de atividade foi em 1975. A última prova em que participou foi nas 4 Horas de Jarama, em Espanha, com Emílio Villota, piloto de Fórmula 1 e pai da malograda Maria de Villota.

Em 1995, ainda participou numa prova do Europeu de Turismos, com um Ford Sierra, nos 500 quilómetros do Estoril, fazendo equipa com o alemão Manuel Reutter.

Apesar de parado há algum tempo, conseguiu ser mais rápido do que o companheiro de equipa, que ainda estava em atividade.

Foi, também, o primeiro vencedor no Autódromo do Estoril.

Ao longo da vida, 'Nicha' Cabral foi conhecido como 'bon vivant', tendo manifestado mesmo, a certa altura, o desejo de ser ator. Era amigo de Paulo Newman, com quem partilhava a paixão pelos carros.

"Era uma pessoa fantástica, com boa disposição, cheio de carismas e de histórias", recordou o amigo Artur Lemos, que mantém há vários anos uma página na rede social Facebook dedicada ao piloto.

Ao longo da carreira participou, também, nas 24 Horas de Le Mans.

AGYR // JP

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