
O Sporting comandou a edição 2024/25 da Liga Betclic em 31 das 34 jornadas e mereceu revalidar o título pela primeira vez em 71 anos, opina o ex-futebolista Jorge Cadete, aplaudindo os três campeonatos nas últimas cinco temporadas.
"Perante a supremacia do Benfica e o ciclo grande [de êxito] do FC Porto, foi difícil para o Sporting conseguir afirmar-se [nas derradeiras décadas]. Desportiva e financeiramente, atravessou momentos não tão elevados em termos de qualidade dos plantéis. Depois, foi bastante prejudicado pelas arbitragens em diversas épocas das décadas de 1980 e 1990, mas o que importa é o presente. O Sporting recuperou toda a sua grandeza", sublinhou à agência Lusa o ex-avançado internacional português dos 'verdes e brancos' (1987-1995).
O Sporting festejou o 21.º título, ao fechar com 82 pontos, contra 80 do Benfica, segundo classificado, sendo que já não havia um vencedor com três treinadores na mesma edição desde 1967/68, quando o chileno Fernando Riera, Fernando Cabrita e o brasileiro Otto Glória participaram na conquista do 16.º troféu, e segundo de três seguidos, das águias.
Cadete recorda que os leões "praticamente não triunfaram" desde a promoção de João Pereira, ex-técnico da equipa B, ao perderem oito pontos em 12 possíveis da 12.ª à 15.ª rondas, volvido o pleno inicial de 11 vitórias com Ruben Amorim, campeão em 2020/21 e 2023/24, que foi contratado pelos ingleses do Manchester United em novembro de 2024.
No dia de Natal, Rui Borges chegou do Vitória de Guimarães para tranquilizar o Sporting, que tinha acabado de ser suplantado pelo Benfica na liderança, mas viria a inverter esse contexto no dérbi caseiro da 16.ª ronda (1-0) e nunca mais teve derrotas no campeonato, resgatando em definitivo na 29.ª o primeiro lugar perdido na semana anterior para o rival.
"O Sporting escolheu um treinador com uma parte humana um pouco similar à do Ruben Amorim, apesar de ser completamente diferente a nível de comunicação e estratégia. Há grande mérito para o Rui Borges e não é o facto de ele ter nascido em Trás-os-Montes e em Mirandela que fará dele um treinador inferior a qualquer outro. O local de nascimento não traduz a qualidade da pessoa. Ele soube manter-se sério no trabalho e lá conduziu o barco a bom porto", referiu Cadete, vincando a entrega do plantel e o apoio dos adeptos.
Uma vaga sem precedentes de lesões foi limitando os leões, mas sem impedir o ataque mais eficaz (88 golos concretizados) e a defesa menos batida (27 sofridos) de revalidar o troféu pela primeira vez desde 1953/54, temporada do primeiro 'tetra' do futebol nacional.
"Não é para qualquer equipa ter de fora quatro médios que normalmente jogavam. Vê-se nos outros campeonatos que, por norma, as grandes equipas começam a ter resultados negativos quando perdem um ou dois titulares do meio-campo, mas o Sporting suplantou isso. Desde logo, aporta há longos anos uma formação brilhante e jovens talentosos, que exibiram maturidade para chegar à equipa principal com 17 ou 18 anos e não sentirem a diferença que havia na minha altura. Têm outra maturidade e preparação física e mental", explicou Jorge Cadete, de 56 anos, formado em Alvalade e vencedor de uma Supertaça.
Os deslizes de Benfica e FC Porto, que comprometeu a luta pelo título na viragem do ano civil, também "deram força e ânimo" ao Sporting para "resistir nas dificuldades e acreditar que podia ser campeão", num trajeto norteado pelos 39 tentos do avançado sueco Viktor Gyökeres, melhor marcador da Liga Betclic pela segunda edição seguida, após 29 em 2023/24.
"Ele chegou, viu e venceu. Apesar de haver a informação de que poderia sair, manteve a seriedade como profissional e continua a mostrar a sua qualidade como goleador. Todos sabemos que a cultura nórdica é completamente diferente da latina e os futebolistas que vêm de lá têm, por norma, grande poder atlético. Por vezes, isso faz a diferença", expôs.
Autor de 96 golos em 101 jogos nas diversas competições ao fim de quase duas épocas inteiras, Gyökeres é o 17.º melhor marcador da história do Sporting e superou em março Cadete, que marcou por 81 vezes em 203 encontros e foi líder dos artilheiros da edição 1992/93 do campeonato, com 18 tentos, antes de se notabilizar nos escoceses do Celtic.
"Espero que consiga atingir dois objetivos: continuar no Sporting e lograr a Bota de Ouro europeia. Agora, não se pode conceder pontos inferiores por golo a um campeonato em que há menos jogos e pontos superiores a outro com mais jogos e possibilidades de ser premiado", criticou o ex-dianteiro, que também jogou no Benfica (1999-2001) e aponta à vitória leonina perante as águias na final da Taça de Portugal, no domingo, no Estádio Nacional, em Oeiras, visando a sétima dobradinha do clube, e primeira desde 2001/02.