Ganhar a uma seleção francesa não é impossível. Chegou a parecer. Em 1986, em 2000, em 2006 parecia uma sina, com a carga dramática de quem faz tudo bem antes de embater contra uma parede. Mas sabemos todos, da maneira mais sofrida possível, desde 2016, que ganhar a uma seleção francesa não é impossível. O que não parecia possível até hoje era ver uma seleção portuguesa ser de tal maneira superior a França em todos os planos do jogo, ao ponto de não ser preciso sofrer, chorar, lutar.

Nove anos depois, Portugal volta a ser campeão da Europa sub-17, o terceiro título para Portugal no escalão - o primeiro foi em casa, em 2003. Os números da vitória, 3-0, sobre a melhor escola de formação da Europa, ou pelo menos aquela com melhor matéria prima, contam boa parte do jogo: em Tirana, na Albânia, a seleção nacional manietou com facilidade, tática e fisicamente, uma França que vinha de uma impressionante fase de grupos. A primeira vitória oficial de Portugal sobre a França neste escalão valeu, logo, um troféu.

Ben McShane - Sportsfile

O início calculista de parte a parte, de risco mínimo, rapidamente foi colocado de lado pela seleção orientada por Bino Maçães, que tornou um ligeiro ascendente num rápido domínio quando as variações de jogo e as combinações a poucos toques começaram a entrar e Portugal impôs-se no plano físico. Ainda assim, o último terço foi território desconhecido para os jogadores portugueses na primeira meia-hora de jogo. A partir daí, tudo mudou.

A insistência de Bernardo Lima, a ganhar uma segunda bola à entrada da área, deixou a jogada em Anísio Cabral, que à segunda bateu Ilan Jourdren.

A tímida tentativa de reação da seleção gaulesa foi rapidamente contida por Portugal, que depois do golo continuou por cima - aliás, nunca mais deixaria de estar por cima. Aos 38’, surgiu o 2-0, numa jogada rápida que começou nos pés do guarda-redes Romário Cunha. Emmanuel Mbemba falhou uma primeira abordagem, com o lance a ser ganho por Anísio Cunha. O jogador do Benfica, afoito, lançou Duarte Cunha de cabeça em direção à baliza e seria de cabeça que Duarte Cunha controlaria a bola, para depois, com um pequeno toque, tirar o guardião francês do lance e marcar.

Ao intervalo, o trauma da derrota na final do ano passado parecia coisa do passado.

Com França pouco reativa, apática até, a 2.ª parte seria controlada sem questões pela selação nacional. Bino Maçães mexeu bem a partir do banco, com Gil Neves a marcar ao primeiro lance, num golo que é quase todo de Bernardo Lima. O médio do FC Porto ganhou uma bola em zona alta, aguentou a carga e lançou entrelinhas o recém-entrado Neves, que finalizou com o pé esquerdo.

Armando Babani

O 3-0 não era fruto do acaso ou das circunstâncias. No ataque, Portugal foi eficaz e simples, atrás nada permitiu a França no corredor central. Lateralizando em demasia o jogo, os franceses raramente assustaram Romário Cunha, apenas um par de vezes chamado a intervir. A partir dos 70’, Portugal mexeu taticamente, reforçou-se atrás, mas sem nunca perder a ânsia pela baliza, agora com outras formas de lá chegar. França muito cedo pareceu uma equipa perdida, desiludida consigo mesma. Uma verdadeira reação nunca apareceu, até porque coletivamente Portugal travou até o pensamento aos jogadores franceses.

Nos últimos momentos, Yoan Pereira ainda enviou uma bola ao poste, tal como Eymard do outro lado, num dos únicos remates perigosos de França à baliza de Romário Cunha. Mas há muito que a final estava decidida. Em novembro, Portugal apresentar-se-á como campeão europeu no Mundial do escalão, no Catar.