Benfica e Sporting disputam, este domingo, a Taça de Portugal no Jamor. Jogam, no fundo, por um lugar na história. Uma partida que pode dar o segundo título da temporada aos encarnados, enquanto os leões tentam a dobradinha, um feito que não alcançam desde 2002.

Em jogo está um troféu emblemático feito há mais de uma década com mestria por Domingos Guedes, numa empresa sediada em Gondomar, nos arredores do Porto. A ourivesaria, fundada em 1980, trabalha com a FPF e com a Liga há vários anos e é igualmente responsável pela produção de objetos para outras prestigiadas competições das mais diversas modalidades.

«Passámos a trabalhar no desporto por necessidade. A Liga recorreu à nossa empresa quando precisou de fazer a Taça de campeão nacional. Começou uma bola de neve que atualmente é difícil de travar. Fugimos da publicidade porque já não temos tempo para mais», começa por dizer o empresário de 74 anos a A BOLA.

Com uma simpatia desarmante, Domingos Guedes abre-nos as portas da sua oficina e convida-nos para uma visita guiada pelas instalações. Ao lado de Joana Cardoso, uma das funcionárias, explica como é que é feita a Taça de Portugal.

«A Taça de Portugal é um ícone. Começou por ser feita por quem fazia as joias da Coroa, no Bairro Alto. Essas pessoas eram descendentes de gente de Gondomar», faz questão de frisar.

Com uma miniatura do prestigiado troféu que encerra a época desportiva do futebol nacional à sua frente, o empresário considera-o um símbolo da portugalidade.

«Nesta taça está representada a história de Portugal. Temos as Caravelas Quinhentistas, o Padrão dos Descobrimentos, a Cruz Templária, a janela do Convento de Cristo, a arte barroca, enfim, é um trabalho bastante artesanal», esclarece.

Começa então a visita guiada pela oficina e não deixamos de reparar nos inúmeros troféus espalhados pelo local: uma réplica da ‘orelhuda’ da Champions (irá para o museu de CR7) ou da taça de vencedor do Open da Austrália, que será para Rafael Nadal. Ao mesmo tempo que observamos o que nos rodeia, Domingos Guedes enumera as etapas da elaboração do troféu da Taça de Portugal, cuja peanha é em madeira.

«Precisamos de cerca de dois meses para fazer a Taça de Portugal. É um trabalho muito delicado e que obriga a muitas horas de dedicação. O molde é feito à mão, fazemos a montagem, a cinzelagem, há uma série de processos complexos até ao momento da soldadura. Depois segue para o polimento e por fim, vai para o banho», relata.

Não é, de resto, possível vermos a Taça original, que já tinha saído de Gondomar rumo ao Jamor. Para trás fica o trabalho minucioso de mais de 20 pessoas, rostos e nomes que ninguém irá recordar quando Hjulmand ou Otamendi erguerem o troféu no Estádio Nacional.