"Impor sanções à Rússia é uma questão de valores. Muitos países europeus estão ao nosso lado contra a agressão russa, mas infelizmente não vemos Israel juntar-se" às sanções, sustentou Zelensky, num discurso proferido em ucraniano e traduzido para inglês.

O chefe de Estado ucraniano, que falava a partir do seu gabinete em Kiev, declarou "estar reconhecido ao povo israelita" pelo seu apoio, acrescentando: "Teríamos gostado de receber o apoio do vosso Governo".

Convidado em março pelo Knesset (parlamento israelita) a falar aos deputados por videoconferência, Zelensky pediu a Israel para "fazer uma escolha" e apoiar o seu país fornecendo-lhe armamento, inclusive o seu sistema de defesa antimísseis "Redoma de Ferro".

"Como não ajudar as vítimas de uma tal agressão? Perguntam-me frequentemente como é que Israel ajudou e o que mais poderá Israel fazer, mas eu não sei o que responder", disse hoje Zelensky.

O Estado hebreu adotou uma postura cautelosa após a invasão russa da Ucrânia, a 24 de fevereiro, usando como argumento as relações privilegiadas com os dois países. Além disso, Israel tem mais de um milhão de cidadãos originários da ex-União Soviética.

Zelensky jogou hoje a carta dos laços históricos entre Israel e a Ucrânia, afirmando que a casa da infância da antiga primeira-ministra israelita Golda Meir se situava "a cinco minutos" das instalações da Presidência ucraniana.

"Por favor, lembrem-se de como as nossas histórias estão ligadas, como são estreitas as nossas relações, e perguntem-se qual deveria ser o nível de entendimento entre nós (...) Por que é que há uma má comunicação, uma falta de entendimento com os representantes do vosso Governo? Não sei", disse o líder ucraniano aos universitários israelitas.

Desde o início da invasão russa da Ucrânia, mais de 30.000 ucranianos fugiram para Israel, segundo números oficiais, vários dos quais beneficiando da "Lei do Retorno", que confere aos judeus, filhos e netos de judeus o direito de obterem a nacionalidade israelita.

Entretanto, o Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita confirmou a reabertura nos últimos dias da sua embaixada em Kiev, encerrada por razões de segurança quando a guerra começou.

A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 16 milhões de pessoas de suas casas -- mais de oito milhões de deslocados internos e mais de oito milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Também segundo as Nações Unidas, cerca de 15 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.

A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e a imposição à Rússia de sanções que atingem praticamente todos os setores, da banca ao desporto.

A ONU confirmou que 4.662 civis morreram e 5.803 ficaram feridos na guerra, que hoje entrou no seu 120.º dia, sublinhando que os números reais poderão ser muito superiores e só serão conhecidos quando houver acesso a zonas cercadas ou sob intensos combates.

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