
"Da forma que estou a ver, é capaz de ter segunda volta, entre os candidatos mais diretos José Maria Neves e Carlos Veiga, porque têm a vantagem de ter apoio partidário. Acho que os votos vão ser divididos entre eles", previu à Lusa Jabaru Silva, 64 anos, da Praia.
O prognóstico do eleitor numa segunda volta contrasta com a vontade, que é encontrar um vencedor logo no domingo, para acabar com os ajuntamentos de pessoas em comícios, arruadas, carros de som a circular, entre outras ações.
Por isso, é de opinião que a campanha eleitoral, que termina hoje, deveria ser feita apenas por via de meios digitais (online), para evitar os ajuntamentos a que se tem assistido em todo o país, mesmo ainda em tempos de pandemia da covid-19.
"Sou contra isso. Junta muitas pessoas. Infelizmente, não se pode fazer nada, foi decidido assim e tem de ser aceite", desabafou o eleitor, natural da zona do Brasil, em Achada de Santo António, o bairro mais populoso da cidade da Praia.
Ainda no mesmo bairro, o eleitor João da Costa, 54 anos, disse que a campanha eleitoral está a decorrer na normalidade, sem qualquer problema de maior.
Questionado sobre se acredita que o vencedor vai ser encontrado no domingo, responde: "Não é impossível, mas tem de haver uma segunda volta. Há dois candidatos fortes, outros que podem também ter alguns votos, pelo que a segunda volta é que vai resolver".
Este eleitor considera ser boa uma segunda volta nessas eleições, entendendo que significa que o povo está consciente das escolhas que está a fazer.
"Qualquer candidato que concorre às presidenciais tem a sua qualidade e pode conseguir alguns votos, mas há dois candidatos que são muito mais fortes, que têm apoio dos seus partidos", avaliou João da Costa, referindo-se a Carlos Veiga, apoiado pelo Movimento para a Democracia (MpD, no poder) e a José Maria Neves (suportado pelo Partido Africano da Independência de Cabo Verde, PAICV, oposição).
Quem também não tem dúvidas que vai haver um segundo turno é Gregório da Veiga Varela, 61 anos. "Acho que vai haver (segunda volta) sim. Há dois candidatos que estão a fazer boa campanha. Não sabemos se é 'Paulo' ou 'Manuel' que vai ganhar", afirmou.
Quanto à campanha eleitoral, este sapateiro de profissão disse que está a decorrer bem e que toda a gente está a gostar, cabendo agora ao povo escolher quem vai suceder a Jorge Carlos Fonseca como Presidente da República de Cabo Verde.
"No dia 17 tem de haver um resultado final, não vai haver segunda volta", prognosticou, por sua vez, Agnelo 'Nelo' Barbosa, 57 anos, morador em Achadinha, e sapateiro há mais de 30 anos no Sucupira, o maior mercado a céu aberto de Cabo Verde.
E explica a sua opinião. "É um que tem de ganhar, não haverá história de segunda volta. São sete candidatos, mas apenas um é que vai ganhar", afirmou, considerando que será melhor assim para acabar logo com o "rebuliço".
Da sua banca montada num dos passeios de uma das zonas mais movimentadas da Praia, Nelo acompanha um bocado da campanha eleitoral, vendo passar à sua frente carros de som, jovens vestidos com t-shirts e a distribuir autocolantes das candidaturas.
De poucas palavras, entre limpar, costurar ou engraxar algum sapato, disse à Lusa que a campanha eleitoral está a decorrer "na paz", sem problema de maior, mesmo relacionado com a pandemia da covid-19.
Cabo Verde realiza eleições presidenciais em 17 de outubro de 2021, às quais já não concorre Jorge Carlos Fonseca, que cumpre o segundo e último mandato como Presidente da República.
O Tribunal Constitucional admitiu as candidaturas de José Maria Neves, Carlos Veiga, Fernando Rocha Delgado, Gilson Alves, Hélio Sanches, Joaquim Jaime Monteiro e Casimiro de Pina.
Esta é a primeira vez que o país regista sete candidatos oficiais a Presidente da República em eleições diretas, depois de até agora o máximo ter sido quatro, em 2001 e 2011.
A campanha eleitoral, que arrancou em 30 de setembro, termina às 23:59 de hoje, e em caso de uma segunda volta, vai acontecer em 31 do mesmo mês.
De acordo com a Constituição de Cabo Verde, o Presidente da República é eleito por sufrágio universal e direto pelos cidadãos eleitores recenseados no território nacional e no estrangeiro.
Só pode ser eleito Presidente da República o cidadão "cabo-verdiano de origem, que não possua outra nacionalidade", maior de 35 anos à data da candidatura e que, nos três anos "imediatamente anteriores àquela data tenha tido residência permanente no território nacional".
Cabo Verde já teve quatro Presidentes da República desde a independência de Portugal em 1975, sendo o primeiro o já falecido Aristides Pereira (1975 - 1991) e por eleição indireta, seguido do também já falecido António Mascarenhas Monteiro (1991 -- 2001), o primeiro por eleição direta, em 2001 foi eleito Pedro Pires e 10 anos depois Jorge Carlos Fonseca.
As últimas presidenciais em Cabo Verde, que reconduziram o constitucionalista Jorge Carlos Fonseca como Presidente da República, realizaram-se em 02 de outubro de 2016 (eleição à primeira volta, com 74% dos votos).
RIPE // VM
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