"Entendemos que todos os professores devem aderir à vacinação", disse à Lusa João Cardoso, presidente do Sindicato Nacional dos Professores (Sindep) de Cabo Verde.

"Mas também manifestamos o nosso repúdio pela forma como o Governo implementou essa decisão de um dia para o outro", acrescentou o sindicalista, lembrando que a vacinação de pessoas com mais de 18 anos começou muito mais tarde em Cabo Verde.

Há uma semana, o ministro da Educação cabo-verdiano, Amadeu Cruz, anunciou que será exigido certificado de vacinação ou teste à covid-19 aos professores e funcionários das escolas do país no regresso às aulas, que ocorreu na segunda-feira.

Para o presidente da organização sindical, deveria haver um trabalho de sensibilização e socialização, envolvendo vários intervenientes, desde a comunicação social, as confissões religiosas, os sindicatos e partidos políticos, sobre a vacinação.

"Nesse aspeto nós discordamos da forma como foi introduzida a resolução do Governo", insistiu Cardoso, dando conta que, por causa da obrigatoriedade, tem assistido à aglomeração de pessoas para fazer o teste e também para tomar a vacina contra a covid-19.

"Por isso é que nós não estamos de acordo com a forma como o Governo tomou essa decisão num curto intervalo de tempo. Deveria ser num tempo mais alargado, com sensibilização, envolvendo todos", vincou o presidente do Sindep.

O sucessor de Nicolau Furtado na liderança do maior sindicato dos professores do arquipélago considerou que "estar a fazer obrigatoriedade de um dia para o outro é uma posição muito musculosa", que não deve acontecer "num Estado de direito democrático".

"Deve-se fazer a socialização, a sensibilização e a partir daí tudo bem, aqueles que resistem por resistir, sem qualquer justificação plausível, aí sim", advogou.

O presidente do Sindep admitiu consequências para os professores e restantes funcionários das escolas, sublinhando que é uma responsabilidade, já que estão em contactos com muitos alunos.

"O sindicato não poderá estar do lado daqueles que recusam simplesmente em fazer a vacinação", explicou, lembrando que há pessoas que não podem ser vacinadas, considerando que nestes casos o Estado é quem deve acarretar com os custos dos testes.

O presidente do Sindicato dos Professores da Ilha de Santiago (Siprofis) também reconheceu a necessidade de todos os professores se vacinarem contra a covid-19, recordando que fez esse apelo ao Ministério da Educação logo no início da pandemia.

"Penso que os professores, como indivíduos que trabalham e estudam a evolução das ciências, devem acreditar e consciencializar-se para o bem de todos. Penso que qualquer indivíduo dos serviços públicos tem de estar vacinado para prevenir contra a covid-19", explicou Abraão Borges.

Entendendo que os professores "devem pensar nos outros", o sindicalista salientou que nem se deveria chegar ao ponto da obrigatoriedade de teste ou de vacina, mas sim deveria prevalecer a questão da consciência de cada um.

"E saber que ao vacinar-se está a contribuir para melhoria da saúde pública e a eliminação da covid-19 nas escolas e na sociedade cabo-verdiana", apontou, apelando à extensão da vacinação aos alunos.

À semelhança do que acontece em todos os serviços públicos, o presidente do Siprofis disse que ninguém está obrigado a vacinar-se, mas avisou que também ninguém deve fugir da sua responsabilidade de contribuir para o bem da saúde pública.

O novo ano letivo em Cabo Verde arrancou com cerca de 130 mil crianças, adolescentes e jovens. Destes, cerca de 16.500 em jardins de infância, 83.500 no ensino básico obrigatório (do 1.º ao 8.º ano de escolaridade) e cerca de 30.000 no ensino secundário (do 9.º ao 12.º ano).

No total, cerca de 6.000 professores foram colocados nas escolas e foram recrutados mais de 200 novos docentes, adiantou Amadeu Cruz, acrescentando que 75% do pessoal docente já recebeu pelo menos a primeira dose de uma das vacinas contra a covid-19.

Cabo Verde já vacinou com pelo menos uma dose da vacina mais de 71% da população adulta (a vacinação em Cabo Verde só abrange maiores de 18 anos) e no mês de outubro, segundo o Governo, conta atingir a meta de 70% da população com o esquema de vacinação completo.

Até quarta-feira, o país tinha 36.816 casos positivos acumulados de covid-19 desde o início da pandemia, dos quais 324 óbitos associados à doença, 35.507 os casos considerados recuperados e tinha 961 casos ativos.

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