"Foi um grande risco e um grande desafio para nós, até porque vários Governos, incluindo de países de grande dimensão, como a Nigéria, tinham feito a mesma solicitação", disse, em entrevista à Lusa, a responsável do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) em Timor-Leste, Munkhtuya Altangerel.
"Cinco meses depois vemos que valeu a pena esse risco e conseguimos já comprar medicamentos, equipamento médico e material de proteção pessoal no valor de 4,4 milhões de dólares [3,7 milhões de euors]. Falta apenas entregar a Timor-Leste cinco itens de uma longa lista", explicou.
Recorrendo a equipas do setor farmacêutico em Copenhaga e Genebra e a escritórios na China e em Bancoque, o PNUD organizou um amplo processo de aprovisionamento, numa altura de interrupções na rede de distribuição internacional e de complexas dificuldades logísticas e de transporte.
A longa lista de material comprado em nome de Timor-Leste -- três lotes foram já entregues, o primeiro deles um mês depois do contrato ser assinado -- inclui 15 tipos de medicamento essenciais, ventiladores, "o equipamento mais difícil de encontrar", testes para a covid-19, laringoscópios, máscaras e outro material de proteção pessoal.
"Assinamos o contrato em abril e no final de maio conseguimos trazer o primeiro carregamento. Atuámos de uma forma flexível e rápida. Foi quase um milagre ter conseguido isto, dadas as condições dos mercados", explicou.
Presente em todo o mundo -- é a agência das Nações Unidas com maior presença internacional -- e com um mandato abrangente (atuando em desenvolvimento humano, saúde, ambiente, condições de vida da população e governação, entre outras), o PNUD já atua no setor do aprovisionamento há algum tempo.
Uma rede que permite a Governos, especialmente de países mais pequenos, aceder às "amplas redes do PNUD em casos de emergência", que se mostraram vitais no caso da resposta à pandemia da covid-19.
No caso de Timor-Leste, e logo no início da pandemia, o Governo acordou com o PNUD um processo de aprovisionamento para o setor da saúde, no valor de 5,7 milhões de dólares, para adquirir equipamento médico, material de proteção pessoal e medicamentos.
Essencial em todo o processo, explicou Altangerel, foi garantir a qualidade do material, com novos fornecedores a aparecerem no mercado, mas onde "a qualidade não estava garantida".
O facto de estar a agir em nome de vários países, deu igualmente dimensão às compras, permitindo conseguir preços competitivos.
Altangerel admite que depois da experiência, o PNUD está já a analisar com o Governo a possibilidade de, no futuro, recorrer a este sistema de aprovisionamento para compras de material e medicamentos não relacionados com a pandemia.
Ainda que os custos de transporte sejam elevados, dado o relativo isolamento de Timor-Leste, o sistema, explica a responsável, garante qualidade, especialmente em medicamentos e material mais especializado.
Crucial é também, sublinha, garantir que o equipamento que vem se pode aplicar no país, o que exige adaptação mas também um extenso processo de formação de quadros técnicos.
Como exemplo dá o caso de ventiladores que, no caso de Timor-Leste, tiveram que ser adaptados de sistemas de fornecimento central de oxigénio com adaptadores para poderem ser usado para fornecimento individual de oxigénio.
O passo seguinte foi, em colaboração com a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde, organizar a formação de técnicos, tanto presenciais como virtuais, com um especialista no terreno a formar vários profissionais.
A nível dos medicamentos, Altangerel nota que é igualmente crucial garantir que chegam onde são necessários, especialmente estruturar os canais de fornecimento para os armazéns de medicamentos nos municípios.
"É preciso garantir a adequada gestão de stock e a entrega regular de medicamentos para as várias regiões do país e as zonas remotas", frisou.
"Queremos apoiar a reforçar a capacidade do SAMES [Serviço Autónomo de Medicamentos e Equipamentos de Saúde], para que a rede de fornecimento funcione. Temos de garantir que os medicamentos chegam às pessoas", frisou.
Timor-Leste tem atualmente um caso ativo de covid-19, com 27 doentes já recuperados e está no seu quinto período de 30 dias de estado de emergência, com restrições nas entradas, tendo o Governo solicitado a extensão por mais 30 dias.
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