
Diamantino Antunes é bispo da diocese de Tete, região do nordeste de Moçambique, com uma vasta fronteira e corredor de passagem que liga África do Sul, Zâmbia e Maláui.
Com 27 anos de vida em Moçambique, o bispo português passou por outras províncias - Niassa Inhambane, Maputo - até chegar a Tete em maio de 2019.
Cerca de um ano depois, a região prepara-se, tanto quanto a realidade social o permite, para a chegada da pandemia provocada pelo novo coronavírus, de que há já registo de 91 casos em Moçambique, nenhum em Tete.
Com a vida pastoral da diocese parada, por força do estado de emergência decretado pelo Governo moçambicano e que vigora pelo menos até final de maio, Diamantino Antunes juntou-se ao esforço de sensibilização das populações para a necessidade de usar máscara e desinfeção dos espaços onde circulam pessoas.
"A dificuldade é o diagnóstico porque a testagem é um universo muito ínfimo", disse Diamantino Antunes à agência Lusa, assinalando as dificuldades acrescidas de uma fronteira "pouco vigiada" e por onde, apesar de encerrada, continuam a passar pessoas, incluindo tráfico humano.
Diamantino Antunes reconheceu os esforços das autoridades, considerando que tomaram as principais decisões para tentar conter a pandemia, mas admitiu que medidas como o confinamento domiciliar são impraticáveis.
"Vivemos um confinamento aberto porque na realidade social em que temos é difícil ter um confinamento domiciliar. As casas estão muito pequenas, a vida das pessoas faz-se na rua e a casa é para guardar as coisas, não para viver", apontou.
"As pessoas precisam de trabalhar, precisam de sair de casa, precisam ir à rua para comerciar, precisam de ir aos campos para recolher alimentos. Um confinamento social como existe na Europa aqui seria impossível", defendeu.
Por isso, e apesar de ao nível dos serviços públicos ser percetível uma redução das pessoas nos trabalhos, a atividade económica segue com aparente normalidade.
"A maior parte das pessoas vive do mercado informal e da agricultura e a atividade económica não está paralisada. Isso teria consequências gravíssimas porque as pessoas vivem do dia a dia, do seu trabalho, não tem outros meios de subsistência", afirmou.
Por agora, e devido ao desconhecimento ainda grande sobre a gravidade da doença, a situação parece ser de uma preocupação relativa.
"As pessoas não estão em pânico porque estão habituadas a este tipo de pandemia. Temos a malária, cólera, sida e outras doenças que assolam a região. Esta é mais uma", salientou.
Diamantino Antunes, que representa a Igreja Católica na comissão de saúde pública da província, adiantou à Lusa que existe um ventilador para toda a província de Tete, que tem uma superfície maior de que Portugal e onde vivem cerca de três milhões de habitantes.
"Estamos impreparados para esta doença", admitiu, reconhecendo, no entanto, os esforços das autoridades públicas na sensibilização para o distanciamento social como uma das formas de prevenir a doença.
A conferência episcopal de Moçambique decidiu suspender todas as celebrações públicas, encerrar escolas e centros de formação, mantendo apenas a funcionar, ainda que com limitações, os centros de saúde e de assistência social.
O trabalho é, por agora, mais de sensibilização e de informação sobre a pandemia, mas as estruturas da Igreja foram colocadas à disposição do Governo, caso sejam necessárias para internamento de doentes, referiu o bispo de Tete.
Diamantino Antunes assumiu dificuldades em perspetivar o que o futuro poderá trazer para a região, mas manifestou a expectativa de que o novo coronavírus possa passar ao lado da província.
"Embora não seja cientificamente comprovado, esperamos que o calor - as temperaturas aqui em Tete são muito elevadas - mantenha distante de nós o vírus, mas isto não basta", declarou, acreditando que o esforço para o distanciamento social "dará bons resultados".
"Se o vírus chega a nós, será sem dúvida um desastre porque estamos impreparados para dar uma assistência médica aos doentes", acrescentou.
Moçambique regista 91 casos acumulados de infeção pelo novo coronavírus na maioria nas províncias de Cabo Delgado e Maputo, sem registo de mortes.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 282 mil mortos e infetou mais de 4,1 milhões de pessoas em 195 países e territórios.
Mais de 1,3 milhões de doentes foram considerados curados.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
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