João Saldanha, presidente do PR, reconheceu em entrevista à Lusa que a mesma promessa foi feita pelo atual Governo, e não foi concretizada, mas vinca que o seu partido tem a estratégia adequada, ao contrário do que diz ter acontecido até ao momento.

"Timor-Leste tem todas as condições e oportunidades para fazer isto. No setor da agricultura podemos criar muitos postos de trabalho se nos concentrarmos no seu desenvolvimento. Na manufatura também há muitas oportunidades e no turismo ainda mais", afirmou.

"O Governo diz que tem criados postos de trabalho, mas a realidade não mostra isso. É preciso planeamento e o plano de recuperação económica não enquadrava todo os setores", sustenta Saldanha.

Com uma agenda fortemente virada para o fortalecimento da economia nacional, o presidente do PR considera que a pandemia de covid-19 foi uma "oportunidade perdida para a mudança de orientação, para reduzir a dependência nas importações", especialmente de produtos alimentares.

"Temos 75 mil hectares de várzeas, mas a produtividade é muito baixa. Há aqui uma grande oportunidade que podíamos expandir e intensificar", sustenta.

"Se começarmos na agricultura, a que está ligada talvez 80% da população, podemos ter grande impacto: corrigir o balanço comercial, controlar os preços, reduzir o emprego e acabar de uma vez com a fome em Timor-Leste", sustenta.

Saldanha considera que existem "mais de 400 mil pessoas economicamente inativas" e que as medidas que o PR propõe ajudariam a mudar essa realidade num mandato: "podemos fazer uma mudança radical em cinco anos".

Um dos problemas atuais, considera, tem a ver com o crédito disponível no mercado e que "não é produtivo", pelo que defende maior crédito para o setor económico, lembrando ainda que o consumo acaba por levar dinheiro para o exterior.

Por isso, explica o presidente do partido, o PR quer que o Governo destine 100 milhões de dólares (91 milhões de euros) à banca para "créditos sem juros" para os setores produtivos do país.

Conceder certificados de terra ajudaria igualmente a desbloquear o problema que muitos cidadãos e empresas encontram, defende.

"Há bastantes pessoas que querem começar empresas, fazer investimento. Mesmo investidores do estrangeiro que não conseguimos captar porque o clima de investimento, o ambiente de negócio, não está adequado", afirmou Saldanha.

"A burocracia é complicada e nós queremos um governo que desimpede, não um governo que trava tudo. Um governo que deixa de ser obstáculo e que procura dar prioridade ao setor privado nacional e internacional, tratar melhor os investidores", considerou.

Saldanha admite que existe uma perceção de corrupção, mas diz que o maior problema é a burocracia lenta, "que abre as portas para ineficiências", recorrendo a uma metáfora da agricultura: "se tens tubos de irrigação para a várzea e o tubo está cheio de buracos, a água que chega não dá para fazer nada".

"Algumas pessoas têm beneficiado de alguma corrupção, e têm intenções mesmo corruptas, mas a maioria é a ineficiência e a incompetência. O dinheiro sai e é mal gasto, e a maioria vai toda parar ao estrangeiro", considera.

Saldanha insiste na necessidade de garantir estabilidade governativa, seja como um governo de maioria absoluta ou não, e insiste num executivo "mais magro, mas que trabalhe melhor", onde os recursos sejam "mais controlados".

Questionado sobre para qual dos grandes partidos é que o PR se inclina, o líder diz que pode trabalhar com qualquer dos lados, vincando que considera haver mais resultados com o Congresso Nacional para a Reconstrução de Timor-Leste (CNRT), de Xanana Gusmão.

Ainda assim, sublinha, apoio a outro partido só se "diminuir a incompetência, reduzir ineficiências", para que Timor-Leste possa entrar a sério no crescimento económico "a dois dígitos".

Por outro lado, Saldanha considera uma prioridade combater a violência que surge da influência das artes marciais, vincando que a solução passa por arranjar mais emprego e mais oportunidades para os jovens.

"Um dos problemas é falta de emprego. E o outro a qualidade de educação desde o nível básico até ao ensino superior. Não podemos competir, não formamos pessoas como deve ser", explicou.

O PR, recordou Saldanha, foi fundado durante a crise de 2006, unindo um conjunto de cidadãos que "pretendiam inserir as suas vozes no processo político da nação", objetivo que, insiste, ainda hoje continua, com uma aposta de longo prazo.

"Apostamos sempre no objetivo mais longo, já que a curto prazo haverá sempre muitos desafios. Acompanhamos a situação política e o desenvolvimento nacional, guiados por uma visão de uma casa para todos os timorenses e com todas as oportunidades", explicou.

Na sua estreia eleitoral, nas legislativas de 2007, o PR obteve 4.408 votos (1,06%), sendo o quinto menos votado entre as 14 forças concorrentes, sendo que em 2012 foi a 12ª força política (entre 21 concorrentes), obtendo 4.270 votos (0,91%).

Cinco anos depois, nas eleições de 2017, o PR foi a 14ª força política, entre 21 concorrentes, obtendo 3.951 votos (0,70%), tendo nas antecipadas de 2018 visto cair ainda mais a sua percentagem, para 0,66% (com 4.121 votos), sendo a segunda pior força política entre oito concorrentes.

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