Numa carta de objeção enviada ao organizador do evento e ao vice-presidente da Aliança de Hong Kong para Apoio aos Movimentos Democráticos Patrióticos da China, Richard Tsoi, as autoridades alegam a impossibilidade de a vigília de cumprir as medidas de distanciamento social.

Em Hong Kong, o Governo já tinha estendido as restrições até 04 de junho, quarta-feira, precisamente quando é assinalada a data, proibindo a concentração de pessoas.

"As reuniões públicas agora são uma atividade de alto risco devido às multidões. A polícia acredita que o ato não apenas aumentará as hipóteses de os participantes contraírem o vírus, mas também ameaçará a vida e a saúde dos cidadãos, colocando assim a segurança pública está em risco ", indicou Richard Tsoi.

Apesar desta proibição, os organizadores da vigila apelam aos habitantes de Hong Kong para acenderem velas na cidade e manterem a distância de segurança.

Os organizadores do evento garantem que vão ao Victoria Park fazer um minuto de silêncio em memória do massacre de Tiananmen, um acontecimento que até hoje Pequim continua sem reconhecer.

No ano passado, cerca de 180.000 pessoas na antiga colónia britânica assinalaram a data e lembraram e vítimas do massacre.

Em Macau, a vigília também foi proibida e as autoridades alegaram as mesmas razões que o vizinho Hong Kong: prevenção da covid-19, apesar de o território não registar casos há cerca de dois meses.

Na semana passada, a Amnistia Internacional, em resposta enviada à agência Lusa, considerou "alarmante que o Governo de Macau tenha proibido pela primeira vez a vigília anual do aniversário de Tiananmen".

A organização não-governamental (ONG), numa resposta assinada pelo vice-diretor regional para a região do Sudeste Asiático, sublinhou que a "polícia alegou preocupações com a saúde por causa da covid-19, apesar de não haver novos casos".

"O vírus não deve ser usado como desculpa para conter a liberdade de expressão e reunião", denunciou.

Já a ONG Human Rights Watch (HRW) acusou a China de, com estas decisões, "continuar a esconder-se atrás da covid-19 para conseguir a repressão pública", em especial "em Hong Kong".

O vice-diretor da HRW para a Ásia, Phil Robertson, afirmou à Lusa que "esta é uma forma de tentar travar os protestos" pró-democracia na antiga colónia britânica, pensando que o atual momento de combate à pandemia pode atenuar as reações da comunidade internacional "aos abusos da China ao nível dos direitos humanos".

Hong Kong e Macau são os únicos locais na China onde têm sido autorizadas manifestações sobre o massacre de Tiananmen, um acontecimento que continua a não ser reconhecido por Pequim.

No antigo território britânico, a vigília atrai dezenas de milhar de pessoas, e no antigo território administrado por Portugal, algumas centenas.

Hong Kong e Macau foram as últimas parcelas do território da China sob administração estrangeira.

A transferência da administração de Macau ocorreu no final de 1999, pouco mais de dois anos depois de a China ter recuperado a soberania sobre a antiga colónia britânica de Hong Kong.

Em ambos os casos, Pequim aplicou o princípio "Um País, Dois Sistemas", que permitiu a Hong Kong e Macau manterem o sistema capitalista e o seu modo de vida, incluindo direitos e liberdades de que gozavam as respetivas populações.

As duas regiões têm autonomia em todas as áreas, exceto na diplomacia e na defesa.

MIM (JMC) // FPA

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