"Comportamento como aquele visto na noite passada não é aceitável em qualquer circunstância", afirmou hoje, na abertura da sessão parlamentar.  

Em causa estão cenas de confusão registadas numa votação na quarta-feira à noite de uma proposta do Partido Trabalhista para proibir a exploração de gás de xisto ["fracking"], que acabou por ser bloqueada pelo Governo por 326 contra 230 votos. 

Durante a tarde foi noticiado que os deputados Conservadores foram instruídos a votar contra a proposta, pois uma derrota seria vista como uma moção de censura à primeira-ministra. 

A dúvida sobre a disciplina de voto criou confusão e o processo foi ensombrado por acusações de coação e rumores de demissões na liderança da bancada parlamentar.   

Minutos depois, o deputado Chris Bryant urgiu a vice-presidente da Câmara dos Comuns Eleanor Laing a investigar, alegando ter existido intimidação, incluindo física.

Bryant relatou hoje à BBC ter visto um grupo de cerca de 20 deputados, incluindo os ministros da Saúde e da Economia, Therese Coffey e Jacob Rees-Mogg, a rodear um par de colegas indecisos. 

"Foi muito agressivo", declarou, referindo "muitos gritos, dedos no ar, gesticulação" e pelo menos um deputado a ser empurrado à força para a sala de voto a favor do Governo. 

O Conservador Charles Walker descreveu a situação à BBC como "indesculpável" e "absolutamente vergonhosa", manifestando-se "furioso" com as cenas a que assistiu e disse que "a paciência chegou ao limite".

"A menos que nos organizemos e nos comportemos como adultos, receio que muitas centenas dos meus colegas, talvez 200, saiam por vontade dos seus eleitores", disse, a propósito de uma potencial derrota eleitoral. 

Também à BBC, o Conservador Simon Hoare confessou sentir "fúria, desespero, tristeza" perante a instabilidade no Governo e grupo parlamentar. 

"É preocupante", reconheceu, defendendo uma "grande remodelação governamental" e dando à primeira-ministra "cerca de 12 horas" para mostrar que é capaz de "virar o barco". 

"Hoje e amanhã são dias decisivos", disse, apontando para o "crescente sentimento de pessimismo em todas as alas do partido". 

O antigo negociador do processo de saída do Reino Unido da União Europeia (UE), David Frost, juntou a voz ao crescente coro de vozes a pedir a demissão de Liz Truss, em funções há apenas 44 dias. 

"Liz Truss deve sair o mais depressa possível. O sucessor, seja quem for, deve ser capaz, competente, e capaz de comunicar eficazmente", escreveu hoje num artigo de opinião no jornal Daily Telegraph. 

A posição da primeira-ministra tornou-se ainda mais precária na quarta-feira com a demissão de Suella Braverman de ministra do Interior, entretanto substituída por Grant Shapps. 

Na carta de renúncia, acusou Truss de romper com compromissos feito, nomeadamente na política migratória, e urgiu-a a assumir a responsabilidade pelos erros cometidos na estratégia económica, que criou turbulência nos mercados financeiros. 

"O funcionamento do governo depende de as pessoas aceitarem responsabilidade pelos seus erros. Fingir que não cometemos erros, continuar como se ninguém visse que os cometemos, e esperar que as coisas fiquem bem por magia não é politicamente sério. Eu cometi um erro, eu aceitei responsabilidade, eu demiti-me", afirmou Braverman.  

BM // APN

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