
João Lourenço disse hoje, na Assembleia Nacional, que as eleições autárquicas previstas para este ano, "não foram adiadas, porque nunca foram convocadas", salientando que seria "irrealista e irresponsável" realizar o sufrágio este ano.
Em declarações à imprensa, o deputado da Convergência Ampla de Salvação de Angola -- Coligação Eleitoral (CASA-CE) Manuel Fernandes sublinhou que o seu grupo parlamentar não ficou satisfeito com o discurso do Presidente, porque queriam dados concretos sobre as autárquicas.
"O Presidente da República pura e simplesmente justificou, e defendeu-se, que a sua não concretização não é da responsabilidade dele, mas acha que deve haver uma envoltura mais abrangente", disse.
Relativamente ao relato sobre o Estado da Nação, Manuel Fernandes considerou que o discurso foi generalista, que devia ter sido muito mais incisivo nas questões apresentadas, sobretudo no que diz respeito à questão das autárquicas.
"O ideal seria ver o Presidente apontar um cronograma que visasse a realização das eleições autárquicas pelo menos no próximo ano", referiu.
Sobre o combate à corrupção, o deputado da CASA-CE frisou que João Lourenço deixou esperanças e garantias de que à medida que se vai combatendo e descobrindo o desfalque feito serão anunciados os resultados, acrescentando que o importante é que "se consiga devolver ao Estado aquilo que foi surripiado".
Na mesma linha, o deputado da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) Raul Danda disse que o Presidente angolano "passou muito a leste daquilo que são as principais questões", nomeadamente as ligadas às autárquicas.
"O Presidente continua a ser bastante omisso relativamente a datas para a realização das eleições autárquicas e voltou a dar o dito pelo não dito, infelizmente", frisou.
Para Raul Danda, o chefe de Estado angolano passou igualmente muito a leste de questões ligadas à pobreza, juventude, desemprego, "que é terrível, galopante", sobretudo no que diz respeito às soluções.
O parlamentar considerou "muito fraquinhos" os argumentos sobre o combate à corrupção e à impunidade, por não haver informações sobre o valor real e o estado em que se encontram as empresas que estão a ser entregues ao Estado, como aconteceu na quarta-feira com os generais Hélder Vieira Dias "Kopelipa" e Leopoldino "Dino" do Nascimento.
Por seu turno, o deputado do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder) João Pinto considerou "realista e com muito suco" o discurso, felicitando o Presidente pela intervenção "substantiva" e "serena".
Sobre a insatisfação dos seus colegas da oposição por não haver ainda um horizonte temporal para se realizar as primeiras eleições autárquicas, João Pinto realçou que "faz parte do jogo democrático", apelando a que mantenham esperança, porque o momento é de dificuldades.
Quanto ao combate à corrupção, João Pinto afirmou que os dados apresentados mostram seriedade, pois havia dúvidas sobre se era possível recuperar bens de figuras que tinham "uma ligação com o partido no poder ou com o poder, de forma muito consolidada".
O líder da bancada parlamentar do Partido de Renovação Social (PRS), Benedito Daniel, disse que a sua expetativa era que o Presidente avançasse uma data para as eleições autárquicas, "porque isso ia ajudar os partidos políticos a fazerem o seu calendário e a prepararem-se".
Por sua vez, Lucas Ngonda, da representação da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), lamentou que João Lourenço não tenha referido se as eleições autárquicas se vão realizar "amanhã ou depois", rebatendo a falta de condições para a realização do sufrágio.
"O Presidente da República devia dar um horizonte, dizer que este ano não, mas talvez não tenha querido mais assumir esse risco, porque já o tinha assumido, portanto, é compreensível", disse Lucas Ngonda, para quem o resto do discurso foi de balanço.
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