Os dados foram revelados na primeira cimeira mundial dos Sistemas Alimentares, hoje iniciada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, onde se pretendem ações para uma transformação que forneça melhor nutrição e saúde às pessoas, agricultura sustentável, trabalho digno e proteção ambiental.

A ONU alerta que a transformação dos sistemas alimentares é crucial, porque ao mesmo tempo que a fome está a aumentar em todo o mundo, existem outros tipos de malnutrição, como a obesidade, causados por falta de poder económico para "uma dieta saudável", com uma "ampla gama de impactos negativos na saúde, educação, género e economia".

O secretário-geral da ONU, António Guterres acrescentou que "dois mil milhões de pessoas no mundo têm excesso de peso ou são obesas", enquanto "462 milhões estão abaixo do peso" médio para a sua idade e estatura. Dados que não devem suprimir o facto de que um terço dos alimentos são desperdiçados.

Segundo um comunicado hoje divulgado pela ONU, juntaram-se mais de 2.000 ideias ao longo de um ano e meio de pesquisa em todo o mundo, com o foco em "alimentar populações em crescimento de formas que contribuam para a nutrição, saúde e bem-estar das pessoas, restaurem e protejam a natureza, sejam neutras para o clima, adaptadas às circunstâncias locais e proporcionem empregos decentes e economias inclusivas".

"Relatórios recentes descobriram que os sistemas alimentares são responsáveis por até um terço das emissões de gases de efeito estufa, até 80% da perda de biodiversidade e usam até 70% da água doce", é o aviso no comunicado.

Os conflitos, desastres ambientais e volatilidade económica contribuem para mais insegurança, malnutrição, pobreza e altos níveis de desigualdade, sublinha a ONU.

António Guterres que a comunidade global precisa de "incrementar ou reforçar sistemas de alimentação e nutrição em casos de emergência nas áreas afetadas por conflitos ou desastres naturais" e precisa de investir "em sistemas de alerta precoce para prevenção da fome".

Ao longo de todo o processo, acrescentou Guterres, é necessário "fortalecer a resiliência dos sistemas alimentares locais a choques externos, como conflitos, mudanças climáticas e pandemias".

A cimeira que hoje se iniciou e decorre até sexta-feira, e onde se esperam declarações de líderes de mais de 90 países, quer assim juntar a cooperação dos governos, setor privado, sociedade civil e comunidades locais para sistemas alimentares "que respeitam os direitos humanos, através de Diálogos Nacionais em 148 países".

A ONU quer também a aposta em "boas práticas", dando o exemplo de "sistemas alimentares indígenas", assim como um maior investimento "em ciência e inovação", com envolvimento de todas as pessoas, especialmente mulheres e jovens, povos indígenas, empresas e produtores.

De acordo com uma declaração de ação, hoje adotada na Cimeira, os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) da Agenda 2030 são as bússolas para a transformação que se pretende.

O exemplo é que "os sistemas alimentares têm um papel fundamental a desempenhar para erradicar a pobreza e alcançar o ODS 1" ou "abordar a coexistência de supernutrição e desnutrição será crucial para cumprir os objetivos de saúde do ODS 3".

"A gestão sustentável da pesca é fundamental para a conservação e uso sustentável dos oceanos e mares e para o cumprimento do ODS 14", defende a organização, acrescentando que o ajuste dos sistemas alimentares pode contribuir para ritmos de consumo e produção mais sustentáveis, como delineado no objetivo 12.

Além de ir ao encontro dos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável, a transformação dos sistemas alimentares deverá seguir cinco "áreas de ação": nutrição para todos; soluções baseadas na natureza; proporcionar meios de subsistência equitativos, trabalho decente e empoderamento das comunidades locais; resiliência às vulnerabilidades e choques e por último, meios de implementação acelerados.

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