"Com base nas evidências recolhidas pela Comissão, concluímos que foram cometidos crimes de guerra na Ucrânia", afirmou o presidente da comissão, Erik Mose, num primeiro relatório feito perante o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, que analisou bombardeamentos russos a áreas civis, execuções, tortura, maus-tratos e violência sexual.

"Ficámos chocados com o grande número de execuções perpetradas nas áreas que visitámos", admitiu Erik Mose, que indicou que a missão investigou estes assassinatos em 16 cidades ucranianas, embora tenha recebido relatos de crimes deste tipo em muitos outros lugares.

Muitos destes assassinatos foram cometidos contra pessoas detidas, adiantou o presidente da comissão, referindo que muitos dos mortos estavam com as mãos amarradas atrás das costas, ferimentos na cabeça e cortes na garganta, o que mostra que foram alvo de execuções sumárias.

O presidente da comissão também denunciou que soldados da Federação Russa cometeram violência sexual e de género a vítimas com idades "entre os 4 e os 82 anos", e que, em alguns casos, os familiares foram obrigados os maus-tratos e torturas.

A comissão - também formada pelo colombiano Pablo de Greiff e pela bósnia Jasminka Dzumhur -- "documentou casos em que crianças foram violadas, torturadas e detidas ilegalmente", sendo assassinadas em alguns casos.

Testemunhas entrevistadas pela comissão relataram ter sido submetidas a espancamentos, choques elétricos e nudez forçada durante detenções ilegais, em alguns casos após serem levadas da Ucrânia para território russo.

O líder norueguês da comissão também denunciou o uso repetido de artefactos explosivos em zonas não militares, que afetaram áreas residenciais, escolas, hospitais e outras infraestruturas, e que, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, provocaram a morte de cerca de 6.000 civis em sete meses de conflito.

"Uma parte dos ataques que investigámos foi lançada sem distinção entre civis e combatentes", disse, referindo que essa é uma das provas da existência de crimes de guerra.

As conclusões são as primeiras comunicadas pela comissão desde a sua criação pelo Conselho de Direitos Humanos, em março passado, e abrangem especialmente os atos perpetrados em fevereiro e março nas zonas próximas de Kiev, Chernigov, Kharkiv e Sumy.

"A recente descoberta de mais valas comuns ilustra a gravidade da situação", apontou o presidente da comissão, que indicou que as autoridades ucranianas colaboraram com nas investigações, enquanto a Rússia se recusou sempre a sequer comunicar com a comissão.

Cerca de 450 sepulturas foram descobertas, há uma semana, perto de Izium, cidade na região de Kharkiv, no nordeste da Ucrânia, recentemente reconquistada às forças russas.

De acordo com as autoridades locais, foram descobertas 443 sepulturas, incluindo uma que continha os corpos de 17 soldados ucranianos e uma inscrição que dizia "Exército ucraniano, 17 pessoas. Izium, morgue".

PMC // APN

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