No relatório "Steel Outlook 2025", hoje divulgado e que contém análises, projeções e desafios para o mercado global do aço, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) acusa a China e, em menor grau, a Índia, de com estes subsídios massivos inundarem e desestabilizarem o aço mundial, mas também outras atividades conexas.

Apela ainda a uma maior cooperação internacional entre os governos e a indústria.

De acordo com os cálculos da OCDE, o volume das subvenções à indústria siderúrgica na China, através de empréstimos a taxas de juro inferiores às do mercado, preços de energia subsidiados, auxílios diretos e tratamento fiscal preferencial, é 10 vezes superior ao dos países da OCDE e representou mais de 2% das receitas das empresas nos últimos 15 anos.

Os autores do estudo salientam que a China passou de uma produção de 26 milhões de toneladas de aço em 1976 (quando representava 6% do total mundial) para uma capacidade atual de mais de 1.000 milhões de toneladas, num total mundial de cerca de 2.000 milhões de toneladas.

Ao mesmo tempo, as fundições da OCDE viram o seu peso diminuir para metade em 20 anos, ficando-se pelos 22% em 2024.

Segundo o relatório, as consequências negativas não se limitam à indústria siderúrgica do mundo desenvolvido, mas ameaçam também as indústrias com utilização intensiva de aço, como a automóvel ou a das máquinas-ferramentas, que não podem ser abastecidas a preços tão baratos como os dos seus rivais na China ou em outros países com estas práticas, porque a concorrência está totalmente distorcida.

Só desde 2020, as exportações chinesas de aço mais do que duplicaram para um recorde de 118 milhões de toneladas em 2024, enquanto as suas importações diminuíram quase 80% para 8,7 milhões.

No mesmo período, as entradas de aço provenientes do estrangeiro aumentaram cerca de 13% na União Europeia e no Reino Unido, 18% no Japão e na Coreia do Sul, 40% na América do Norte, 52% na Turquia, 60% na América do Sul e 77% na Oceânia.

A OCDE estima que a tendência ascendente se manterá e que as capacidades de produção aumentarão até 6,7% entre 2025 e 2027, representando mais 165 milhões de toneladas, 58% das quais na Ásia, principalmente na China.

Este aumento da oferta potencial será muito superior ao aumento da procura, que prevê que se situe em torno dos 0,7% por ano até 2030, devido a vários países do sudeste asiático - mas não a China, onde se prevê uma contração -, bem como do Médio Oriente e do Norte de África.

Consequentemente, as capacidades excedentárias deverão aumentar 20% até 2027, altura em que totalizarão 721 milhões de toneladas, ou seja, quase 300 milhões de toneladas mais do que o que é atualmente produzido em todos os países da OCDE.

Para os autores do estudo, os subsídios generalizados não só distorcem a concorrência e constituem um incentivo à manutenção destes excedentes, como também atrasam os esforços de descarbonização de um setor que gera cerca de 8% das emissões mundiais de dióxido de carbono (CO2).

Neste contexto, defendem que a cooperação internacional deve ser reforçada, no âmbito do fórum criado em 2016 sob os auspícios da própria OCDE, de forma a corrigir estas tendências e a distorção do mercado, melhorando a viabilidade económica das empresas e facilitando a descarbonização do aço.

PD // JNM

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