
Quem com ferros... Malta, com ferros pode sagrar-se campeão. Para Rui Borges, tudo começou ali, na ilha de Malta, a 25 de julho de 2024. No Estádio Centenário de Ta’Qali, casa do Floriana, o Vitória de Guimarães dava o pontapé de saída numa campanha muito longa e que só vai acabar em... Alvalade.
O treinador que iniciou a maratona dos vimaranenses com um triunfo por 1-0 em jogo a contar para a primeira mão da segunda pré-eliminatória da Liga Conferência é o mesmo que no próximo sábado pode assinar a proeza de maior relevo na carreira depois de ter sobrevivido a uma bola ao poste de Pavlidis no dérbi do século.
Rui Borges, tão cedo, não irá esquecer-se do remate do grego que foi devolvido pelo ferro, conforme não se esqueceu do auspicioso triunfo perante o modesto Floriana.
A partir daí, a... “malta” passou a fazer parte do léxico característico do técnico que sucedeu a João Pereira, um dos homens com quem vai ter de tripartir os louros do título no caso de o atual detentor revalidar o troféu mais apetecido em Portugal.
O Rui e a sua malta, seja qual for a sentença da 34.ª jornada, são já um dos hinos mediáticos do campeonato, porventura deixando na sombra a “tropa” que Bruno Lage convocou vezes sem conta e que face ao empate na Luz depende de outros para ter sucesso na última ofensiva que resta.
Aliás, esse é o cenário de guerra em que o general benfiquista deu há muito um tiro certeiro e ainda por cima desferido a longa distância. Nas conferências de Imprensa, Lage fez questão de enfatizar a convicção de que a Liga só iria conhecer o vencedor no photo finish, o que está reservado para os desafios que opõem os gigantes da capital aos gigantes do Minho.
Na hipótese de o Benfica terminar em segundo lugar, as derrotas seguidas consentidas perante Sporting e Sporting de Braga na viragem de 2024 para 2025 não deixarão de figurar como dois dos deslizes mais significativos das águias, com a agravante de a primeira volta ter sido fechada à boleia do desaire caseiro ante os arsenalistas.
Apesar de no início de janeiro a “vingança” ter sido consumada com a eliminação de Carlos Carvalhal nas meias-finais da Taça da Liga e com a conquista da prova a expensas do eterno rival, a verdade é que durante o tempo regulamentar a “tropa” de elite de Lage ainda não foi capaz de abater o leão.
Perdidos os três pontos em Alvalade por cortesia de Geny Catamo, os encarnados superiorizaram-se na final da Taça da Liga mas somente no desempate por grandes penalidades, tirando partido do desacerto daquele que se arrisca a concluir a temporada como um dos heróis do bicampeonato.
Francisco Trincão permitiu a defesa de Trubin em Leiria e quatro meses volvidos assinou o golo que pode representar para o Sporting o fim de um jejum que dura desde as lendárias atuações dos Cinco Violinos.
O RUIGIDO DO LEÃO
Desde 1953/54 que o Sporting não repete a vitória na Liga, o que a consumar-se daqui a cinco dias catapultará Frederico Varandas para a história (três campeonatos em sete anos contra três nos... 40 anos anteriores) e permitirá a Ruben Amorim disputar a final da Liga Europa na qualidade de bicampeão nacional.
Por muito que recuse a fatia de mérito que lhe pertence na eventualidade de o Marquês assistir a uma festa verde e branca, Ruben sabe que para todo o sempre vai figurar no currículo algo que ele próprio deixou no ar quando fez cair o microfone nas celebrações de há um ano.
Se tudo correr bem aos anfitriões na receção ao Vitória, ninguém vai conseguir apagar da nuvem os pontos que o Sporting conquistou com os dois primeiros treinadores na época e a começar por Rui Borges ninguém ousará questionar a importância da semente que escorregou das mãos do técnico do Manchester United, obviamente sem qualquer espécie de paralelo com a modesta herança deixada por João Pereira.
Fustigado por uma onda de lesões que afetou sobretudo o meio-campo, com Daniel Bragança, Morita e João Simões a fazerem rarear as opções para o corredor central, o míster nascido em Mirandela arrepiou caminho a meio da viagem e na sequência dos empates comprometedores com Arouca e AVS tratou de cimentar o regresso ensaiado ao desenho com três defesas.
A partir daí, sem contar com os compromissos da Taça de Portugal, o método Amorim garantiu um ciclo de oito vitórias e dois empates (com Braga e... Benfica), o que é revelador do tal conforto que os jogadores voltaram a experimentar e que pelo menos foi determinante para garantir a pole position à entrada para a derradeira volta.
Ao reconhecer que as ideias originais trazidas do berço podiam comprometer o êxito, a flexibilidade e a sensatez propagadas pelo Ruigido do transmontano devolveram o onze ao território tático que foi amadurecido e aprimorado desde 2020, não sendo por acaso que Viktor Gyokeres disparou para a liderança da Bota de Ouro europeia assim que o 3x4x3 foi reassumido na plenitude.
Claro que, para superar a concorrência de astros da dimensão de Mbappé e Salah, o goleador da máscara tem de aproveitar ao máximo os 90 minutos diante do Vitória, quiçá invertendo o papel desempenhado no dérbi.
Na Luz, o sueco fez o passe para o tento de Trincão e em Alvalade esperará que seja o rei das assistências a retribuir com juros, um pouco na linha do que o esquerdino fez quatro meses depois do penálti que ficou por marcar em Leiria e que deixou a... malta do Sporting a ferro e fogo.