
Como tantas outras coisas, escrever um livro era algo que 'martelava' os pensamentos de David Santos. "Sempre tive um grande fascínio com realidades que tu próprio inventes. A música, que foi o que fui conseguindo fazer, escrever um livro ou fazer uma curta-metragem são coisas que vão estando sempre na minha cabeça, achando eu que se calhar não tenho as aptidões para conseguir fazê-lo", contou em declarações à Lusa.
O livro é "apenas mais uma maneira" que o músico encontrou de expressar a maneira de lidar com o que o rodeia.
Quando "há quatro/cinco anos" começou a escrever as palavras que, entretanto, se transformaram num livro, David Santos "não fazia ideia do que ia acontecer".
"Mas saiu-me aquela ideia de três luzes que se acenderam ao mesmo tempo em três janelas diferentes, e depois tudo aconteceu a partir daí", recordou.
O músico partilhou que "a própria metáfora do livro foi surgindo e o título só aparece mais tarde": "quando eu percebo que o conto está a falar de nos vermos uns aos outros e de como é que nos podemos ver e de como é que às vezes não nos vemos, mesmo estando lá".
"O que nos permite ver o outro é a luz, e a velocidade com que os outros chegam a nós é a velocidade a que a luz se mexe para nós", disse. A velocidade de propagação da luz, por extenso, é "tre^s-vezes-dez-elevado-a-oito-metros-por-segundo".
Por não ter a certeza do tipo de texto que era, passou "um período muito grande sem lhe mexer".
Por ser uma história pequena, "quase como um conto", ponderou acompanhá-la de ilustrações, mas considerou que isso "poderia condicionar o leitor", ao fornecer imagens de personagens e locais que podem ter muitas características diferentes, dependendo da imaginação de cada um. E esta é uma história "que cria muitas imagens na cabeça".
David Santos considera que se "conseguir sugerir realidades às pessoas, ou que as pessoas criativamente vão para o lugar que sentem com o que estão a ler ou a ouvir, já fez sentido".
"Gostava que as pessoas tivessem oportunidade de ler [o livro] e de perceber os paralelismos que estão ali feitos com a sociedade que nós temos, com as pessoas, connosco próprios", partilhou.
A maneira como o texto é apresentado -- o formato e design do livro -- foi pensado com André Santos, do Estaminé Studio, "que tem um trabalho muito grande com recortes".
"Desafiei-o para pensarmos como poderíamos fazer isto e foi a partir desse momento, em que comecei a perceber uma nova dinâmica para edição física do livro, que voltei a pegar no texto e a ver o que podia melhorar".
Depois da edição física do livro, em edição de autor, com o apoio do programa Garantir Cultura, David Santos tem planos para um audiolivro: "é outra versão do que pode ser o conto, uma versão contada, que podia também dar um espetáculo".
"Ainda pode haver outras vidas deste trabalho", que é apresentando hoje ao final do dia no Teatro Maria Matos, em Lisboa, numa sessão que conta com a participação da atriz Isabel Abreu.
Até ao final do ano, o músico irá também apresentar o livro em algumas lojas FNAC e para o ano regressa aos palcos para apresentar ao vivo o álbum "Uma palavra começada por N", editado no ano passado.
JRS // MAG
Lusa/Fim