
"A manifestação tem como foco pedir uma reforma da justiça cabo-verdiana e pelos direitos humanos, que estão muito ligados, e muitos outros assuntos impactantes que a população nos tem pressionado", afirmou hoje à Lusa Salvador Mascarenhas, presidente do movimento cívico.
Além disso, apontou outros pontos que são bandeiras de luta do advogado e deputado Amadeu Oliveira, um crítico do sistema de justiça em Cabo Verde, e que está detido em prisão preventiva, após assumir ser autor da fuga do arquipélago de um homem condenado por homicídio.
Desde logo a reforma do Conselho Superior de Magistratura Judicial (CSMJ), órgão de gestão e disciplina dos juízes em Cabo Verde, começando por criar um órgão independente para fiscalizar e controlar os juízes, contendo elementos do Governo, Ministério Público, magistrados e sociedade civil.
Outro ponto é a criação de uma lei de tramitação processual, onde cada processo teria um número, pela sua natureza e valor, para evitar morosidade processual.
"Isso promove a corrupção", alertou Salvador Mascarenhas, pedindo igualmente informatização da justiça e criticando a prisão de Amadeu Oliveira, a pessoa que quer introduzir essas mudanças na justiça cabo-verdiana, mas que está detido.
"É uma prisão preventiva completamente ilegal, com atropelamentos aos direitos humanos, não tem acesso ao computador, está doente, enfim, muita coisa para vermos que o nosso sistema de justiça não está a funcionar normalmente", contestou, pedindo a libertação do advogado, considerando que a prisão preventiva está a ser utilizada como antecipação de pena.
"O que é inconstitucional, ilegal, contra os direitos humanos e uma forma de tentar silenciá-lo", alertou Salvador Mascarenhas, que desta vez colocou a fasquia bastante elevada, esperando a maior manifestação de sempre em Cabo Verde, com cerca de 20 mil pessoas só em São Vicente.
"É um objetivo bastante ambicioso e esperamos conseguir preenchê-lo", perspetivou o porta-voz do grupo cívico.
Em São Vicente, os manifestantes vão concentrar-se na Praceta Dom Luís, percorrendo depois várias ruas da cidade do Mindelo, passam em frente à Câmara Municipal, Palácio da Justiça e a cadeia de Ribeirinha, onde o deputado e advogado Amadeu Oliveira está detido.
Além de São Vicente, a manifestação vai realizar-se também em outras ilhas, como Santo Antão e Santiago, mas também na diáspora cabo-verdiana, com confirmação já de Espanha.
Mas Salvador Mascarenhas aproveitou para apelar a todos para que se concentrem em frente aos tribunais de comarca, e na diáspora em frente das embaixadas de Cabo Verde, para manifestar a sua indignação perante o atual estado da justiça no arquipélago.
Este será o sétimo grande protesto do movimento cívico Sokols 2017, que reclama mais autonomia para a ilha cabo-verdiana de São Vicente, desde o primeiro, em janeiro de 2018, contra o "centralismo exacerbado" no arquipélago.
Também em 05 de julho -- dia da Independência de Cabo Verde (1975) -, de 2019, o movimento realizou uma das maiores manifestações em Cabo Verde, neste caso contra o "bloqueio governamental" a São Vicente e a "má gestão" camarária, garantindo que reuniu 12.000 pessoas nas ruas da cidade do Mindelo.
Desde então, o movimento tem realizado vários protestes e manifestações e tem dado a sua voz e mostrado a sua indignação perante vários atos e ações que considera injustas no país.
O Sokols 2017 inspira-se nos Sokols de Cabo Verde - ou Falcões de Cabo Verde -, uma organização juvenil criada em 1932, em São Vicente, por um funcionário da Western Telegraph Company, à semelhança do movimento checo surgido em 1862.
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