"Recebemos chamadas de membros das comunidades que são beneficiários de programas humanitários em todo país", explicou Elda Pereira, gestora da Linha Verde (1458), em entrevista à Lusa.

Em média, segundo Elda Pereira, pelo menos 300 pessoas ligam para a linha verde por dia, um serviço operado maioritariamente por jovens e que recorre a, pelo menos, nove línguas das cerca de 20 faladas em Moçambique.

A informação sobre programas de apoio humanitário e a previsão do tempo estão entre as principais questões apresentadas pelas comunidades, mas os casos mais difíceis para quem opera a linha são as denúncias de abusos sexuais e violência doméstica.

"Os casos mais difíceis são aqueles em que pessoas ligam porque foram violentadas por desconhecidos e, por vezes, chegam até a chorar", conta à Lusa Pedro António Tomás, um dos jovens que opera a linha.

A recomendação para este tipo de situações é sempre a mesma: transmitir empatia e encaminhar a denúncia às autoridades competentes, mas não é fácil manter a "serenidade" necessária.

"É muito emocionante, mas sempre tento fazer o melhor. Os casos de abuso de poder, como corrupção ou fraude, e casos de exploração sexual são os mais difíceis", declara Latifa Amílio, outra jovem operadora da linha.   

A maior parte das ligações são oriundas de Cabo Delgado, província do Norte que desde 2017 enfrenta uma insurgência armada que já provocou a fuga de milhares de pessoas, mas nesta época do ano a região centro também recorre muito ao serviço, tendo em conta que Moçambique atravessa a época chuvosa, que ciclicamente mata e provoca deslocados.

Em Cabo Delgado, as autoridades indicam que há mais de 800 mil pessoas deslocadas devido a insurgência armada, um conflito que já provocou a morte de pelo menos 3.100 pessoas, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.

No centro de Moçambique, a tempestade Gombe, que chegou à costa moçambicana na madrugada de sexta-feira na categoria de ciclone intenso, provocou mais 24.000 deslocados.

EYAC // JH

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