
As palavras do ayatollah Ali Khamenei, divulgadas num vídeo transmitido pela televisão oficial local, são as primeiras desde a entrada em vigor, terça-feira, do cessar-fogo que pôs fim a 12 dias de uma guerra desencadeada a 13 de junho por Israel com o objetivo declarado de impedir o Irão de se dotar de armas nucleares, ambição que Teerão nega ter.
"Gostaria de felicitar a grande nação iraniana: em primeiro lugar, pela sua vitória sobre o regime sionista", declarou Khamenei, em que afirmou que Israel "quase entrou em colapso" após os ataques de retaliação do Irão.
Khamenei defendeu que os Estados Unidos só intervieram na guerra porque "sentiam que, se não o fizessem, o regime sionista seria totalmente destruído". Para o líder supremo iraniano, os Estados Unidos "não obtiveram ganhos com esta guerra".
"[Os Estados Unidos] intervieram diretamente na guerra, convencidos de que a sua recusa em se envolver levaria à destruição total do regime sionista", afirmou Khamenei, salientando que os ataques norte-americanos a importantes instalações nucleares "não tiveram nenhuma importância".
Khamenei salientou que o Irão "nunca se renderá" aos Estados Unidos e insistiu que o Presidente norte-americano, Donald Trump, exagerou no impacto dos ataques às instalações nucleares iranianas.
"O presidente norte-americano indicou numa das suas declarações que o Irão deveria render-se. Render-se! Não se trata mais de enriquecimento ou indústria nuclear, mas sim da rendição do Irão. Tal evento [a rendição] nunca acontecerá. Nunca", afirmou Khamenei, ameaçando que Teerão voltará a bombardear bases militares dos Estados Unidos no Médio Oriente se for novamente atacado.
"A República Islâmica tem acesso a importantes bases norte-americanas na região e pode agir contra elas sempre que considerar necessário", afirmou Khamenei, indicando que "o custo para o inimigo e agressor será certamente elevado".
"A República Islâmica saiu vitoriosa e, em retaliação, deu uma bofetada retumbante na cara dos Estados Unidos", afirmou o líder supremo iraniano, numa referência ao ataque iraniano de segunda-feira, com mísseis, a uma base militar norte-americana no Qatar, que não causou vítimas, com Khamenei a referir que Trump procurou "minimizar" o impacto do ataque iraniano.
Khamenei não era visto em público desde que se refugiou num local secreto após o início da guerra, a 13 deste mês, quando Israel atacou instalações nucleares iranianas e matou altos comandantes militares e cientistas.
Após o forte ataque dos Estados Unidos, no passado dia 22, que atingiu as instalações nucleares com bombas 'anti-bunker', Trump ajudou a negociar um cessar-fogo que entrou em vigor na terça-feira.
A 19 deste mês, ainda durante a guerra com Israel, Khamenei divulgou uma mensagem em vídeo e a televisão estatal iraniana e as páginas do líder supremo nas redes sociais anunciaram que divulgaria hoje um novo vídeo ao Irão.
O secretário de Defesa norte-americano, Pete Hegseth, deverá dar ainda hoje uma conferência de imprensa, depois de os meios de comunicação terem questionado a eficácia dos bombardeamentos dos Estados Unidos contra instalações nucleares no Irão.
Trump afirmou que o programa nuclear iraniano foi atrasado em "várias décadas" pelos ataques norte-americanos, tendo Teerão admitido que as suas instalações nucleares foram "consideravelmente danificadas" pelos bombardeamentos xe Israel e dos Estados Unidos.
Mas especialistas levantam a possibilidade de o Irão se ter preparado para o ataque retirando cerca de 400 quilogramas de urânio enriquecido a 60%, nível próximo ao limite de 90% necessário para a conceção de uma bomba atómica para um local desconhecido.
JSD //APN
Lusa/Fim