
Num comunicado divulgado nas redes sociais, na terça-feira à noite, o jornal 'online', com uma versão mensal em papel, disse que a Assembleia Legislativa impediu "repetidamente os jornalistas do All About Macau de realizarem o seu trabalho normal de reportagem sob falsos pretextos".
As profissionais foram detidas quando tentavam entrar no salão do parlamento para assistir à apresentação das Linhas de Ação Governativa (LAG) do secretário para a Administração e Justiça, André Cheong, para 2025.
Também na terça-feira, a Assembleia Legislativa indicou que "permitiu que os jornalistas que não tinham conseguido acesso à sala do plenário, após as necessárias filmagens, pudessem assistir à transmissão em direto" numa outra sala.
O parlamento alegou que houve uma "grande afluência" de jornalistas nos debates das LAG e que "o espaço para entrevistas, bem como os lugares disponíveis na sala do plenário são limitados".
Uma justificação que já tinha sido rejeitada, logo em 17 de abril, pelo All About Macau, uma vez que "aparentemente, ainda havia lugares vagos" para a comunicação social no salão principal.
No comunicado de terça-feira, o jornal sublinhou que a Assembleia Legislativa, "enquanto órgão deliberativo eleito, emitiu finalmente uma resposta ao incidente", mas apenas "após mais de meio mês de silêncio".
O All About Macau acusou o parlamento de "ignorar as disposições da Lei de Imprensa e o artigo 94 do seu regimento".
Este artigo refere que "são reservados aos representantes dos meios de comunicação social, devidamente credenciados, lugares próprios na sala das reuniões".
O jornal lamentou "o primeiro incidente na história de Macau em que os jornalistas que cobriam os trabalhos da Assembleia Legislativa foram levados pela polícia para investigação --- e até enfrentam um processo criminal".
A PSP de Macau indicou, em 17 de abril, que tinha remetido o caso para o Ministério Público.
"Como o caso já entrou em processo judicial, o All About Macau não fará mais comentários", acrescentou o jornal.
Na sequência da detenção, a Sociedade de Jornalistas e Profissionais da Comunicação Europeus na Ásia (JOCPA) disse à Lusa que Portugal deveria ter feito "um gesto discreto ou uma expressão de preocupação" face à detenção destas jornalistas.
"Consideramos o silêncio de Portugal preocupante, dados os seus profundos laços históricos e culturais com Macau", lamentou o presidente da JOCPA, Josep Solano.
Macau, que esteve sob controlo português durante mais de 400 anos, passou em 1999 para a administração chinesa, sob um acordo que previa que a região deveria manter os direitos e liberdades fundamentais, incluindo a liberdade de imprensa, durante os primeiros 50 anos.
Localmente, a Associação de Jornalistas de Macau (AJM) declarou que "lamenta profundamente" a detenção das repórteres, incluindo a presidente desta organização, Ian Sio Tou. Este grupo de jornalistas chineses tinha expressado, dias antes, preocupação com o aumento de eventos oficiais sem cobertura da comunicação social e de "práticas discriminatórias" para com o setor.
"A situação inédita ocorrida é triste e preocupa-nos, pois consideramos que abre um precedente -- no mínimo -- constrangedor", reagiu também à Lusa o presidente da Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau (AIPIM).
José Miguel Encarnação pediu ao Ministério Público "que haja ponderação na avaliação dos factos, por forma a que não haja consequências de maior".
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