
Sem representação parlamentar, mas convicta da possibilidade de conseguir alterar essa realidade, Joana Amaral Dias volta a encabeçar a lista do ADN. Nas Europeias do ano passado, fez uma campanha diferente de todas as demais, apostando no confronto e nas redes sociais para esbater a menor cobertura mediática que os partidos sem representação parlamentar ainda têm e chegar a potenciais votantes. Uma estratégia que seguiu também nesta corrida, agora ao Parlamento, chegando a confrontar Luis Montenegro e Pedro Nuno Santos, principais figuras na disputa do próximo governo. É estratégia assumida para suprir essa desvantagem, mas também para "fazer ver" o que o ADN considera estar errado e mostrar que "não tem medo" de expor o que considera "crimes".
No dia em que discursou na varanda da Assembleia da República, em mais um momento de campanha em que o ADN não segue as normas, Joana Amaral Dias explica ao SAPO ao que vem. E com que podem contar os portugueses que votarem ADN.
Qual será a sua prioridade, caso seja eleita deputada à AR?
A nossa prioridade, como partido humanista, popular e patriótico que é o ADN, é devolver a voz ao povo. Isso começa por devolver ao povo o dinheiro que sistematicamente lhe tem sido roubado por via da corrupção sistémica – falo da corrupção de Estado, cujo pináculo é o saco azul, o ministério-fantasma que todos os anos existe no Orçamento do Estado sob a rubrica “Despesas Excecionais”, no valor de 13 mil milhões de euros, mais do que uma bazuca. É um roubo consentido e legitimado por todos, sublinho, todos, os partidos com representação parlamentar e pelo próprio Presidente da República que promulga o OE. Não podemos continuar a consentir que isso aconteça. Os portugueses entendem que algo não está certo quando são o povo que mais horas trabalha na Europa por semana, quando são dos que mais pagam impostos mas na hora H não há justiça, saúde ou escola pública que lhes valha. E a razão é esta: estão a ser saqueados. Essa será a nossa prioridade: obrigar a que essas despesas sejam enxutas, até um máximo de 1% no OE para fazer face a imprevistos do Estado, que são compreensíveis, mas os demais dez ou 11 mil milhões sejam devolvidos aos portugueses.
Seria muito dinheiro.
Basta ver que 13 mil milhões dariam para construir todos os anos 33 hospitais ou 100 mil T2 de 90 metros quadrados em Lisboa ou no Porto. Isto dá para perceber a magnitude do roubo e esta sangria tem de ser estancada já.
Porque decidiu voltar a ser cabeça-de-lista pelo ADN?
Quis responder ao desafio do partido, depois do resultado muito interessante nas Europeias, em que ficámos à frente do PAN, e porque continuamos a ter esta convergência de ideias. Fazia todo o sentido representar o partido e representar todos os portugueses. Quero ser a cara daqueles que não têm voz, que não se sentem representados, que não se identificam com a atual forma de fazer política. Por isso respondi a esta missão.
A sua campanha é diferente de todas as outras. É uma forma de contornar a falta de exposição mediática de partidos mais pequenos?
Sim, a campanha é diferente porque na verdade a lei eleitoral é violada. Não há igualdade no tratamento das candidaturas e não é respeitada a pluralidade democrática. Um partido em crescimento, como o ADN, tem de se fazer ouvir e as pedras são as armas dos pobres. Naturalmente que uma política mais intervencionista, mais ativista, também dá visibilidade. Mas não é só isso, é que eu e o ADN não temos medo de enfrentar o poder, como ficou plasmado na Ovibeja, quando confrontei Luís Montenegro sobre o uso indevido de meios do Estado, ou quando confrontei Pedro Nuno Santos com a apropriação indevida de dinheiros públicos. O ADN quer levar essa coragem à AR, que se tornou no local do crime, quer saneá-la de políticos corruptos, ladrões. Vai de cabeça erguida e costas direitas, sem medo de enfrentar esta elite corrupta e impune. Que não o será mais.
Veria com bons olhos uma mudança na forma como elegemos os deputados, minimizando o desperdício de votos? Qual?
Sim, somos favoráveis a um círculo nacional e ao término do Método de Hondt, que só favorece aqueles que já lá estão. Na verdade, a sociedade é muito mais plural e diversa do que isso e importa dar voz e espaço a isso.
Seria mais capaz de viabilizar o programa eleitoral do PS ou da AD?
O ADN não viabilizaria nunca um programa nem da AD nem do PS. Lutamos justamente contra eles e contra estes 50 anos de esbulho, de vilipêndio, de saque a Portuga e aos portugueses. As promessas de Abril não foram cumpridas. O 25 de Abril é um aborto, teve um infeliz desaguar, e nós queremos um levantamento popular, que a História seja escrita pelo povo. Nós queremos dar voz ao povo e que o poder seja do povo. Portanto, as promessas, os direitos de Abril, não passam de uma quimera, como sabem todas as pessoas que trabalham todos os dias para pôr comida na mesa e que sabem que em Portugal ter um emprego ou às vezes dois não chega para as tirar da pobreza.
Imigração, Saúde e Habitação são os grandes temas em debate: o que propõe para cada um deles?
Quanto ao primeiro tema, propomos uma Imigração altamente controlada, que não traga pessoas para serem escravas e diminuir o valor da mão-de-obra em Portugal. Não admitimos subsídio-dependentes – enquanto existirem portugueses com fome e frio, idosos, mulheres grávidas a passar dificuldades, não podemos dar nem mais um euro a estrangeiros. A seriedade começa em casa. Defendemos também o apelo a uma imigração de qualidade, que venha construir Portugal, como a diáspora portuguesa tem feito do Luxemburgo ao Canadá, dos EUA à Alemanha, nessa emigração que contribui para o Estado-nação – e que Portugal deve defender na imigração.
Na Saúde, defendemos um sistema de ADSE para todos, de adesão voluntária, que não só proteja o hoje moribundo sistema da ADSE como também o SNS, que permita valorizar a rede de cuidados de saúde que já existe em todo o território nacional, com capilaridade, mas que só está disponível para alguns, criando cidadãos de primeira e de segunda.
Quanto à Habitação, defendemos construção pelo Estado, proteção às famílias portuguesas – até como forma de incentivar a natalidade, contribuindo para acabar com o que consideramos o maior flagelo dos portugueses que é a sua própria extinção. Nunca se nasceu tão pouco e morreu tanto em Portugal. A mortalidade excessiva nas crianças e nos adultos muito preocupa o ADN.
E como vê o compromisso de dedicar 2% do OE à Defesa, dado o atual contexto geopolítico?
Os portugueses têm de entender que cada ponto do OE para a Defesa é um ponto tirado aos idosos portugueses, às crianças, aos mais vulneráveis, aos portadores de deficiência, a todos os trabalhadores cujo salário não chega para pagar as contas. É preciso ver que a Europa já gasta muito em Defesa – aliás, juntamente com o Reino Unido, a Europa gasta quatro vezes mais do que a Rússia. E mesmo assim perdeu a guerra, por isso não me parece que o caminho seja acrescentar guerra à guerra, armas às armas, mas antes somar paz à paz, pugnar pelo desenvolvimento do Estado social, pela Educação, pela Cultura. E posicionar a Europa como uma voz dialogante, diplomática, de que Portugal precisa. Nós dizemos sim à vida e não à guerra, defendemos mais bebés e menos violência. Isto está no nosso ADN.