A acusação da organização internacional de defesa dos direitos civis foi avançada a propósito do Dia da Naksa, que é hoje assinalado em memória do deslocamento forçado de aproximadamente 300 mil palestinianos durante a guerra de junho de 1967.

De acordo com a organização, a operação militar israelita em curso desde março levou ao maior deslocamento de palestinianos na Cisjordânia desde 1967, devido sobretudo a ataques aos campos de refugiados de Jenin e Tulkarem, na Cisjordânia ocupada, que os tornaram inabitáveis.

"O exército israelita enviou tanques, realizou ataques aéreos, destruiu edifícios, escavou estradas e infraestruturas e impôs restrições extensivas à liberdade de circulação através de postos de controlo e bloqueios de estradas", avança a Amnistia, em comunicado, citando o Ministério da Saúde palestiniano, para dizer que, entre 21 de janeiro e 04 de junho, as forças israelitas mataram pelo menos 80 palestinianos, dos quais 14 crianças, no norte da Cisjordânia.

"A transferência ilegal de pessoas protegidas é uma grave violação da Quarta Convenção de Genebra e um crime de guerra", apontou a diretora sénior de Investigação, Advocacia, Política e Campanhas da Amnistia Internacional, Erika Guevara Rosas, no mesmo comunicado.

A responsável defendeu que "Israel deve cessar imediatamente as práticas ilegais que levam ao deslocamento forçado de palestinianos, incluindo ataques a áreas residenciais, destruição de propriedades e infraestruturas, restrições generalizadas de acesso e circulação impostas aos palestinianos".

"Algumas destas medidas equivalem a punição coletiva, o que também é proibido pela Quarta Convenção de Genebra", sublinhou a responsável da Amnistia.

Para Erica Guevara, "estas ações fazem parte de um padrão mais amplo de políticas e práticas ilegais de Israel para desapropriar, dominar e oprimir os palestinianos na Cisjordânia".

A Amnistia Internacional dá ainda conta de queixas de membros de comités populares dos campos de refugiados de Jenin, Nur Shams e Tulkarem, que disseram ter sido deslocados cerca de 40 mil residente, metade dos quais do campo de Jenin.

Imagens de vídeo verificadas pela Amnistia Internacional "fornecem provas de demolições em grande escala de casas e danos à propriedade civil e infraestruturas nos campos", adianta a organização internacional, acrescentando que as detenções também aumentaram drasticamente, com a Comissão Palestiniana de Detidos a relatar que aproximadamente mil palestinianos foram detidos em Jenin (700) e Tulkarem (300) desde o início da operação.

As forças armadas israelitas declararam os campos de refugiados de Jenin, Nur Shams e Tulkarem como zonas militares fechadas, estacionando equipas militares nos locais e impedindo os residentes de aceder às suas casas ou ao que resta delas, adiantou a organização.

Além disso, acrescentou, "testemunhas afirmaram que as forças israelitas disparam contra civis que tentaram regressar, mesmo que apenas para verificar as suas propriedades ou recolher os seus pertences".

"Um exemplo gritante" da situação, sublinha a organização, aconteceu a 21 de maio, quando uma delegação diplomática de representantes de mais de 20 países, incluindo de Portugal, Reino Unido, França, Canadá, China e Rússia, foi "alvo de disparos de soldados israelitas enquanto visitava o campo de refugiados de Jenin".

Para a diretora sénior de Investigação da Amnistia, é essencial que a comunidade internacional responsabilize Israel pelas "violações contra os palestinianos" e, em particular, "pelo seu cruel sistema de 'apartheid' e ocupação ilegal".

A falta de responsabilização "encorajou Israel e alimentou novas violações flagrantes dos direitos dos palestinianos", defendeu Erika Guevara.

Uma "parecer consultivo do Tribunal Internacional de Justiça, de julho de 2024, deixou bem claro: a presença de Israel no Território Palestiniano Ocupado é ilegal e deve terminar rapidamente", sublinhou a responsável, instando os Estados a substituir as declarações por ações concretas.

Todos os países "devem parar imediatamente de fornecer armas e assistência militar a Israel e suspender quaisquer atividades comerciais que possam contribuir para as suas graves violações do direito internacional", considerou.

Os Estados "devem também apoiar e cooperar plenamente com o Tribunal Penal Internacional na investigação e julgamento dos crimes ao abrigo do direito internacional na Palestina", concluiu.

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