
No comunicado, a que a Lusa teve acesso, a CET pretende esclarecer a "situação canónica" de Martinho Gusmão, que abandonou a vida clerical para se pode candidatar a Presidente da República.
"O senhor Martinho Gusmão perdeu o estado clerical de maneira permanente e não transitória (...) Consequentemente a ele foi concedida também a dispensa do celibato", refere a nota.
"Ele não é apenas suspenso do exercício do ministério sacerdotal, mas, conforme (...) as normas da Igreja, fica excluído do exercício do ministério sagrado, enquanto perdeu de maneira permanente o estado clerical", sublinha.
O comunicado é assinado pelo arcebispo de Dili, Virgílio do Carmo da Silva, pro-presidente da CET e foi divulgado na véspera do arranque da campanha para as eleições presidenciais timorenses.
O arcebispo recorda a carta de 15 de outubro de 2021 em que o cardeal Luís António Tagle, prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, encoraja Gusmão a "ter uma vida exemplar como leigo a a prestar um serviço útil e frutuoso à comunidade cristã através dos dons e talentos que Deus lhe concedeu".
Porém, destaca que essa carta "em nenhum lugar contém encorajamento explícito ou referência ao entrar na vida política ou ao se candidatar a qualquer cargo político, embora ele fique livre de escolher o caminho da atividade política como qualquer outro leigo cristão".
E explica ainda que Martinho Gusmão "não recebeu nenhuma carta pessoal do Santo Padre, mas apenas a citada carta do cardeal Tagte, dirigida em nome do Papa aos ex-sacerdotes que perderam o estado clerical a pedido deles, e são, portanto, convidados a viver uma vida exemplar como leigos".
Na segunda-feira, o arcebispo de Díli disse à Lusa que nenhum candidato às eleições presidenciais de 19 de março em Timor-Leste deve usar símbolos ou atributos religiosos nas suas campanhas, insistindo que a igreja "é imparcial".
"O presidente da conferência episcopal já anunciou que nenhuma candidatura deve usar os símbolos ou atributos religiosos para a campanha. O bispo já disse isso publicamente e já enviou cartas para as paróquias, para os cristãos e para os candidatos", disse Virgílio do Carmo da Silva, em declarações à Lusa.
"Isto são questões sagradas e que não devem ser profanadas para interesses políticos ou pessoais dos candidatos", sublinhou.
Na fase de pré-campanha para as eleições presidenciais tem havido algumas referências à religião e, em concreto à Igreja Católica, em algum material de campanha distribuído nas redes sociais.
O caso mais emblemático é o de Martinho Gusmão que chegou a produzir cartazes onde figurava a foto do Papa Francisco, tendo declarado publicamente contar com o apoio dos padres e religiosos do país para a sua candidatura.
Também Isabel Ferreira, mulher do primeiro-ministro Taur Matan Ruak, tem feito várias referências a Deus e à fé durante a sua pré-campanha.
"A Igreja sempre teve uma posição clara que é proibido usar atributos e símbolos da Igreja para a campanha. Esse é o princípio. Mas se o candidato não tem consciência e usa isso, derrota-se a si mesmo", afirmou.
"Não é verdade [que a Igreja apoie um candidato]. A igreja nunca apoia um candidato ou outro. Todos são timorenses, são cidadãos de Timor e católicos e por isso a Igreja é imparcial e apoia todos", disse.
A campanha para as presidenciais começa na quarta-feira e a primeira volta decorre a 19 de março.
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