A presidente da Confederação dos Sindicatos de Hong Kong, Carol Ng, já perdeu a conta aos telefonemas ameaçadores e insultos que recebeu desde que o seu número de telefone foi divulgado pelo 'site' pró-Pequim.

"Eles sabem que podem provocar medo às pessoas", disse à AFP a militante pró-democracia, admitindo que a perseguição lhe provoca ansiedade.

Desde que a nova lei da segurança nacional imposta por Pequim ao território entrou em vigor, em 30 de junho, o 'site' anónimo HK Leaks divulgou dados pessoais de pelo menos 14 pessoas que acusa de violarem o diploma, que pune atividades subversivas, secessão, terrorismo e conluio com forças estrangeiras com penas que podem ir até à prisão perpétua.

O site, promovido por grupos associados ao Partido Comunista Chinês, surgiu em agosto de 2019, dois meses após o início dos maiores protestos pró-democracia no território desde a cessão à China.

Desde então, já divulgou dados pessoais de mais de 2.000 pessoas que considera culpadas de vários delitos, conduzindo uma intensa campanha de 'doxing' (a prática de pesquisar e divulgar informações privadas).

Apesar de o comissário para a proteção da vida privada de Hong Kong ter instado o 'site' a remover os dados pessoais divulgados, e das queixas apresentadas à polícia, o 'site' continua em atividade, publicando moradas, perfis nas redes sociais e números de telefone, com descrições dos alegados crimes praticados por pessoas associadas aos protestos.

Quando se tornou um alvo, Carol Ng passou a receber "um dilúvio" de chamadas e mensagens no WhatsApp e Facebook, enviados por "azuis", a cor associada ao campo pró-Pequim, em contraste com o amarelo do movimento pró-democracia.

Albergado por um servidor russo, o 'site' muda com frequência de morada, dificultando as ações judiciais.

O portal, que conta com 230 mil visualizações de páginas únicas anuais, de acordo com SiteWorthTraffic, considera os participantes nos protestos do ano passado como autores de "motins", um crime punido com dez anos de prisão, e defende que 2.000 agentes da polícia e simpatizantes pró-Pequim também foram vítimas de 'doxing'.

Figuras destacadas do movimento pró-democracia, como Joshua Wong, figuram numa secção com o título "desordeiros independentistas", que inclui ainda o magnata dos 'média' Jimmy Lai, detido em 10 de agosto e mais tarde libertado sob fiança, numa operação no âmbito da lei de segurança nacional, ou a ativista Agnes Chow, detida no mesmo dia.

Entre as pessoas que o HK Leaks acusa de violarem a nova lei estão o ex-deputado Nathan Law, co-fundador do partido Demosisto, ao lado de Joshua Wong, exilado no Reino Unido após a aprovação do diploma, e o ativista estudantil Tony Chung, com 19 anos.

Detido no final de julho, Chung foi uma das primeiras vítimas do diploma, acusado de promover a independência do território através de um grupo de estudantes que fundou em 2016, dissolvido antes da entrada em vigor da lei, em junho.

Os protestos na antiga colónia britânica, no ano passado, levaram à detenção de mais de nove mil pessoas, durante a pior crise política desde a transferência da soberania para a China, em 1997.

A resposta de Pequim surgiu este ano, com a imposição da lei da segurança nacional na região administrativa especial chinesa, levando ativistas a refugiarem-se no Reino Unido e em Taiwan.

PTA (JMC) // FPA

Lusa/Fim