
"Odeio pensar que esta guerra vai a ser prolongada, mas receio que seja. E temos de continuar a insistir numa solução diplomática", mesmo não se vendo vontade neste momento de que seja esse o caminho, sustentou a ex-Presidente numa entrevista à Lusa em Lisboa, onde participou nas Conferências do Estoril.
Em última análise, "com a sua falta de uma vitória militar direta e clara, a maioria das guerras terminam com negociações de paz, por ação diplomática", referiu a estadista.
"Não vejo muito desejo nesse sentido agora", admitiu, porque era preciso a Rússia negociar "honestamente à mesa e lidar com o facto de ter reconhecido as fronteiras da Ucrânia".
Considerando legítima a posição da Ucrânia de não querer ceder território à Rússia, a ex-Presidente croata descreveu a dificuldade que é retomar o território ocupado, afirmando que "é muito difícil" e que a Croácia têm essa experiência.
Para já, Kolinda Grabar Kitarovic pediu que a Europa e o ocidente mantenham "a unidade de propósito" e que sejam capazes de "resistir a qualquer pressão" da Rússia, quer na "guerra de desgaste na Ucrânia, militar e psicologicamente", quer na "guerra de atrito da nossa solidariedade comum".
"E não quero antever que os políticos possam começar a pensar nas próximas eleições e não nas próximas gerações e por em causa a solidariedade que temos mostrado", declarou.
Continuar a apoiar a Ucrânia de todas as formas "é a única maneira de lutar no campo e ganhar a guerra", sustentou, construindo paralelamente a independência económica, sobretudo energética, da Europa em relação à Rússia.
"A independência energética não é só sobre a economia, mas também sobre estabilidade política. Agora fomos forçados a fazê-lo. E não podemos culpar a guerra na Ucrânia por isso. Temos de culpar a nossa inação nos últimos anos, não termos trabalhado para diversificar, e através de energias renováveis, ligar as redes na Europa, fazer a transição dos combustíveis fósseis e trabalhar muito mais estreitamente em conjunto", defendeu.
"E temos de nos habituar ao facto de que a vida na Europa não voltará à situação anterior a 24 de fevereiro (dia em que começou a invasão russa da Ucrânia). Isto (...) mudou a vida na Europa e a arquitetura de segurança, o ambiente de segurança para os anos vindouros", advertiu.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas -- mais de seis milhões de deslocados internos e mais de sete milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções.
Até agora, a ONU apresentou como confirmados 5.663 civis mortos e 8.055 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.
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