
"As fronteiras vão continuar fechadas por enquanto, pelo menos até haver novas decisões do Conselho de Ministros. No caso da fronteira terrestre, vamos continuar a abrir apenas duas horas, uma vez por semana", explicou à Lusa Aurélio Guterres, coordenador do destacamento de reação rápida do Centro Integrado de Gestão de Crise (CIGC).
"No caso de voos, e pelo menos durante julho, deveremos ficar apenas com os voos da AirNorth, entre Darwin e Díli, três vezes por semana, fretados pelo Governo", explicou.
Guterres sublinhou que, sem casos ativos no país, o foco do Governo continuará a ser nas fronteiras, especialmente as terrestres com a vizinha Indonésia, onde o número de casos continua a aumentar e onde há transmissão comunitária.
Por isso, disse, o Governo deve manter a quarentena obrigatória, ou autoquarentena ou confinamento obrigatório em casa, mantendo igualmente o processo de testes, quer a quem entra no país, quer na vigilância sentinela, a pessoas que se apresentem nos postos de saúde com sintomas de doenças respiratórias.
"Essa vigilância vai continuar", garantiu um dos responsáveis do CIGC, estrutura criada pelo Governo para lidar com a pandemia e que também se extingue com o fim do estado de emergência.
Pedro Klamar Fuik, outro dos elementos do Centro Integrado de Gestão de Crise (CIGC), também refere o foco na fronteira terrestre, explicando à Lusa que há que encontrar um equilíbrio entre as necessidades de vigilância e prevenção e a situação dos muitos timorenses que fazem vida transfronteiriça ou dos que querem regressar.
"A fronteira em si, sobretudo a terrestre, é importante para Timor, sobretudo para as pessoas que vivem daquele lado e têm atividades aqui e vice-versa. Há ainda o canal do comércio transfronteiriço que é muito importante", afirmou à Lusa.
"E também temos de considerar os timorenses que viveram este período de emergência e não se puderam deslocar. E todos querem voltar a casa, obviamente", afirmou.
Uma questão que suscita preocupações, nota Pedro Klamar Fuik, especialmente por haver zonas na Indonésia de contágio comunitário.
"Há zonas onde há mais propagação, ou transmissão comunitária, e as pessoas poderão vir e trazer algum caso infetado, e isto preocupa-nos. Mas não podemos continuar a fechar o país", disse.
A resposta relativamente rápida das autoridades, com o fecho de fronteiras e a quarentena obrigatória a quem chegava, a resposta pronta da população timorense -- dezenas de milhares de pessoas saíram de Díli -- e alguma sorte permitiram a Timor-Leste, pelo menos para já, evitar danos no campo da saúde.
O país registou o seu primeiro caso de covid-19 em 21 de março -- um cidadão estrangeiro que tinha viajado do exterior --, iniciando uma semana depois o primeiro período de 30 dias de estado de emergência.
O segundo caso surgiu em 10 de abril, um cidadão timorense que entrou pela fronteira terrestre com a Indonésia, mais dois poucos dias depois, e em 26 de abril já havia 18 casos.
O número máximo de pacientes infetados, 24, ocorreu no dia 24 de abril, tendo todos os pacientes recuperado e o país ficado sem casos ativos em 15 de maio, quando já decorria o segundo mês de estado de emergência.
Apesar de não ter casos ativos, o Governo optou por alargar o estado de emergência por mais 30 dias, período que termina às 23:59 de hoje, hora local (15:59 hora de Lisboa).
Com o fim do estado de emergência, Klamar Fuik explicou que as funções e responsabilidade da Sala de Situação do CIGC passam agora para o Ministério de Saúde, ainda que a estrutura "desmantelada fique sob alerta, para serem chamados se porventura surgirem novos casos".
Pedro Klamar Fuik sublinhou que o êxito em termos de controlo da doença em Timor-Leste, pelo menos para já, se deve à "cooperação entre Estado, parceiros internacionais e a população".
"Houve uma conjugação de vontades, de todo o público em geral, nacional e internacional, neste combate de uma pandemia global e cujos efeitos se sentem também aqui em Timor-Leste", notou.
Aurélio Guterres também sublinhou esse "esforço conjunto", mas apontou que depois do estado de emergência "há outro desafio", o de continuar a evitar novos casos.
O relatório do CIGC deverá ser apresentado ao Parlamento Nacional na próxima semana.
ASP // PTA
Lusa/Fim