"Muitos centros têm escolas onde lecionam o ensino primário, mas quase todos não têm o ensino secundário, o que quer dizer que há crianças que terminam o sétimo ano e ficam em casa", disse Luís Bitone, no balanço da visita que realizou à província de Cabo Delgado.

Segundo Luís Bitone, a maior parte das famílias não possui condições para mandar as suas crianças para outras regiões para dar continuidade aos estudos.

"Há pais que não têm condições para garantir que os filhos continuem a estudar porque perderam tudo devido ao conflito", frisou o presidente da Comissão Nacional dos Direitos Humanos.

Além das limitações relacionadas com o ensino das crianças, Luís Bitone manifestou preocupação com a falta de dados oficiais sobre o número de pessoas que continuam nas regiões de conflito.

"Nenhuma entidade consegue dizer como é que essas pessoas estão, estamos a falar de idosos, mulheres, crianças, pessoas com deficiência que não têm como sair dessas zonas. Esta é uma preocupação muito grande", declarou.

Por outro lado, embora destaque avanços no que concerne à assistência das pessoas deslocadas nos centros de acolhimento, o presidente da comissão considerou que há ainda muitos desafios.

"Ainda continuamos a ter insuficiência grave em várias dimensões em termos de alimentação, abrigo e outras condições básicas", alertou.

Grupos armados aterrorizam Cabo Delgado desde 2017, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico, numa onda de violência que já provocou mais de 2.500 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e 714.000 deslocados, de acordo com o Governo moçambicano.

O mais recente ataque ocorreu em 24 de março contra a vila de Palma, provocando dezenas de mortos e feridos, num balanço ainda em curso.

As autoridades moçambicanas recuperaram o controlo da vila, mas o ataque levou a petrolífera Total a abandonar por tempo indeterminado o recinto do projeto de gás com início de produção previsto para 2024 e no qual estão ancoradas muitas das expectativas de crescimento económico de Moçambique na próxima década.

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