
Um processo moroso que antes de arrancar obriga a 'demonstrar' os locais de votação, inutilizar boletins de voto que não foram usados e depois contar voto por voto, mostrando o boletim a fiscais e observadores, e a muitos curiosos eleitores.
Duas horas depois das urnas fecharem começam a 'pingar', canalizados pelas várias candidaturas, resultados parciais, recolhidos no terreno, sendo que faltam várias horas para os primeiros resultados oficiais, e mesmo assim provisórios, sejam conhecidos.
Até lá, a tendência do resultado vai-se vendo em riscos escritos em papéis brancos nas paredes dos centros de votação onde o apoio é medido antes da sua digitalização e posterior contabilização pelo Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE).
Apesar de alguns incidentes -- a campanha de José Ramos-Horta denunciou irregularidades -- e de problemas no funcionamento dos estreantes centros de votação paralelos, o voto de hoje decorreu sem problemas de maior.
Os candidatos votaram todos de manhã, com José Ramos-Horta a ser o mais madrugador e o primeiro eleitor a votar em Metiaut, o seu suco (divisão administrativa).
"O número 14 tem pelo menos um voto assegurado", disse Ramos-Horta, depois de votar, referindo-se ao seu número no boletim de voto, enquanto mostrava o dedo roxo, marcado com tinta indelével e que atesta quem já votou.
"Sou dos primeiros a votar e isso é simbólico. Quero sublinhar que, apesar de alguns pequenos incidentes, a campanha decorreu sem problemas. Parabéns para todos os candidatos, povo e sociedade, que garantiram um bom processo eleitoral", afirmou.
Do outro lado da cidade, no bairro do Farol, votava Francisco Guterres Lú-Olo, atual chefe de Estado, que confiante na vitória, considerou que a eleição de hoje "representa a mudança da situação política de Timor-Leste, como também da situação socioeconómica de todo o nosso povo".
Ao seu lado, na campanha e no momento do voto, Mari Alkatiri, secretário-geral da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), partido que apoiou a candidatura de Lú-Olo, e também se mostrou confiante na vitória.
"Não tenho dúvidas nenhumas de que esta foi uma boa campanha. A eleição é extremamente importante para provocar aqui uma mudança de postura, de toda a liderança e todo o povo e penso que conseguimos isso. Estou confiante que o candidato Lú-Olo vai ganhar", disse.
Em outros pontos da cidade votaram outros candidatos, no que foi uma eleição que marcou a entrada em palco de novas vozes políticas, que apostam na mudança geracional.
"Este é um momento importante para haver mudança no próprio país, para assegurar que a mudança que nós queremos, para ter um país mais inclusivo e equitativo, começa hoje", disse à Lusa a ex-embaixadora Milena Pires depois de votar na Escola 5, em Comoro.
Também Vergílio Guterres, jornalista e presidente do Conselho de Imprensa, disse depois de votar no centro de votação Grencinfor, no centro de Díli, que o elevado número de candidatos mais jovens é uma mensagem importante para o país.
"Nas eleições anteriores tive de escolher outra pessoa, mas desta vez tenho garantido pelo menos um voto para mim. E destaco isso, haver muitos candidatos, mas mais da nova geração", disse à Lusa.
"É uma grande mensagem política ao país e ao povo de que a esperança continua acesa para continuar a caminhar. Os velhos vão, os novos vêm e a luta continua", vincou.
Depois de votar na Escola Cristal, Constâncio Pinto, outro dos candidatos da dita 'geração continuadora', considerou o voto de hoje crucial, depois de vários anos de impasse político, com a economia e o desenvolvimento estagnados.
"Precisamos de uma liderança nova, com visão nova ao serviço deste país. Ter muitos candidatos é um sinal de vontade de mudança, principalmente a nova geração. Temos um grande problema de desemprego muito alto neste país e este país precisa de novas soluções", disse.
Em Vila Verde, depois de votar, Mariano Assanami Sabino também se referiu à elevada participação de jovens nas primeiras horas da votação para a eleição do novo chefe de Estado é um sinal de esperança para o futuro.
Sabino, outrora membro da ala juvenil da resistência à ocupação indonésia, disse esperar que a eleição ajude os mais jovens "a exercer o seu direito político, votando pela mudança para Timor-Leste e para o seu futuro, dos jovens".
"Vinte anos depois da independência é momento certo para os jovens exercerem bem o seu direito político", afirmou.
"A grande participação é um sinal de esperança para o futuro", afirmou Sabino.
Entre os mais velhos, e a votar na ponta leste do país, o ex-chefe das forças armadas, Lere Anan Timur, também falou de transição, mas disse que ainda há que a preparar.
"Esta eleição é importante porque é a última oportunidade para prepararmos a nova geração para o futuro. Os líderes da resistência já estão na velhice e temos que preparar os mais jovens", afirmou, em declarações por telefone à Lusa.
"Precisamos de um Presidente que saiba promover o diálogo entre os líderes e a união entre eles e o povo. Precisamos de estabilidade, e de levar a nossa juventude para o futuro", considerou.
Um total de 859.613 eleitores são chamados hoje a escolher o próximo Presidente timorense, entre 16 candidatos, o maior número de sempre.
O único resultado provisório conhecido é da Austrália onde Ramos-Horta foi o mais votado, com 45,85% do total, à frente de Lú-Olo com 28,08% e de Milena Pires, com 16,38%, num voto em que alguns eleitores choraram por não poder votar, visto não ter sido possível, por causa da covid-19, atualizar os cadernos eleitorais.
Sinal negativo a elevada abstenção que na Austrália atingiu os 76,53%.
ASP // JNM
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