
Num dia dedicado a Aveiro, a arruada que contou com a presença de André Ventura e do cabeça de lista pelo distrito, Pedro Frazão, arrancou ao final da manhã junto à estação de comboios.
Perto do final do percurso de cerca de um quilómetro, em direção à ria, um pequeno grupo de pessoas de etnia cigana mostrou o seu descontentamento perante o partido Chega.
"Racista. Nós trabalhamos, nós temos tantos direitos quanto vós, fazemos descontos", gritaram, acrescentando que são cidadãos portugueses.
Falando pelo grupo, Belarmina Fernandes explicou depois aos jornalistas que ela e as pessoas que a acompanham, "amigos", estavam perto do local quando passou a caravana do Chega e que esta foi uma manifestação espontânea.
"Nós incentivamos os nossos filhos a estudar, a trabalhar. Eu trabalho, cada um que aqui está faz formação, eles estudam para chegar a algo melhor", disse, pedindo que "o ódio pare de ser alimentado pelo André Ventura".
"O Chega não pode apoderar-se do nosso país, se isso acontecer é uma desgraça total", defendeu.
Dizendo que cada vez sentem "mais represálias" desde o aparecimento do Chega, Belarmina Fernandes alertou que as próximas gerações "vão viver tempos piores".
Belarmina considerou também que "erros há na comunidade cigana, como fora da comunidade cigana" e salientou que "já chega de racismo e já chega de alimentar tanto ódio".
A mulher disse também que "uma militante do Chega" disse que o grupo tinha "direito a estar na Roménia, e não em Portugal", e indicou que iria apresentar queixa.
"Não é racista, é terem todos que trabalhar, como toda a gente. É terem de trabalhar como toda a gente tem de trabalhar, é só isso. Não é nenhum racismo, nem nenhum fascismo. É terem de trabalhar e cumprir as mesmas regras que todos os outros", comentou André Ventura quando ouviu os protestos destas pessoas, sem se aproximar.
Confrontado pelos jornalistas, o líder do Chega considerou que estas críticas não são verdadeiras e que se tratou da "vitimização habitual que a comunidade cigana faz e procura para poder atacar [o partido] sem qualquer razão".
"Acredito que a etnia cigana em Portugal tem de cumprir todas as regras que os outros cumprem. Há uns que trabalham, há uma grande maioria que não trabalha, fazem as mulheres casar aos 13 anos, vivem num estado de desagregação face à regra geral da comunidade absoluta. Não sou eu que sou fascista, são eles que querem regras à parte em Portugal, e eu não posso aceitar isso", respondeu.
Esta arruada foi das menos participadas desde o arranque oficial da campanha e das que teve mais contestação. À medida que a comitiva avançava, anunciada pelas bandeiras do partido e os cânticos de apoio, as poucas pessoas com quem se cruzou faziam votos de boa sorte e deixavam palavras de incentivo, mas também houve gritos de "fascista" ou "racista", vindos de longe.
Uma destas pessoas foi Arlete Santiago. A angolana, que não vive em Portugal, mas tem cá família e passa bastante tempo no país, considerou que "as palavras do Ventura são chocantes" e disse que até aqueles que não estão no país "sentem-se ofendidos".
"Cada vez que o Chega cresce, o discurso é mais terrível. Ele só solta horrores", acrescentou, contrapondo que "há muito imigrante a contribuir para o país e a fazer coisas boas".
FM // JPS
Lusa/Fim