"A situação é preocupante, temos centenas de famílias em situação de risco, devido à precariedade das habitações e também porque estas situações estão praticamente na linha de água", disse à agência Lusa o presidente interino do Serviço Nacional de Proteção Civil e Bombeiros (SNPCB) de Cabo Verde, Hélio Semedo.

Numa visita ao terreno durante a manhã, o responsável constatou as situações mais preocupantes nos bairros de Castelão, Jamaica, Água Funda e Santaninha.

Além das casas em risco, há ainda algumas ruas alagadas, sobretudo em Chã de Areia e na Várzea, em frente ao Palácio do Governo, numa situação recorrente sempre que chove com alguma intensidade.

Em frente ao gimnodesportivo Vavá Duarte houve ainda inundação nas instalações da Direção Nacional do Ambiente, bem como alagamentos habituais na via pública em outros bairros.

"Também registamos casos de tetos em risco de desabamento", acrescentou o presidente substituto da Proteção Civil, referindo que, além da cidade da Praia, as chuvas caíram um pouco por todo o arquipélago durante a madrugada.

E foram chuvas normais, se comparadas como as que caíram em setembro do ano passado e que provocaram muitos estragos na Praia, cidade com cerca de 150 mil habitantes.

"Sabemos que a cidade da Praia não está preparada para receber as chuvas e qualquer precipitação já inspira alguma preocupação", salientou a mesma fonte à Lusa.

Das visitas ao terreno, o porta-voz da Proteção Civil disse que não foram constatadas melhorias em relação ao ano passado, apenas limpezas nas ribeiras e desassoreamento de canais de drenagem feitos pela Câmara Municipal da Praia.

Em relação às habitações precárias, não tem sido feito um trabalho de fundo na capital do país, o que, por isso, preocupa as autoridades.

O responsável da Proteção Civil revelou ainda que há dois projetos em curso, um financiado pela Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e outro pela cooperação norte-americana, para apoiar as famílias afetadas pelas cheias do ano passado.

As autoridades cabo-verdianas ainda estão à espera do desbloqueio das verbas, que vão abranger 400 famílias dos municípios da Praia, São Domingos, Ribeira Grande, todos em Santiago, e São Vicente.

A equipa da Proteção Civil esteve também no Estádio Nacional, que segundo Hélio Semedo já está preparado para receber algumas famílias em caso de necessidade, tendo lá camas, lençóis e mantas.

"Também temos todas as condições para oferecer algum apoio com alimentação e materiais de higiene, caso seja necessário", apontou, referindo igualmente que o país tem um Fundo Nacional de Emergência, destinado a este tipo de situações.

Hélio Semedo garantiu que a Proteção Civil vai continuar no terreno a acompanhar a evolução da situação, estando também em articulação com o Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica (INMG) para acompanhamento da situação meteorológica.

E sublinhou que ainda se está numa época ciclónica, que iniciou em 01 de junho e vai até 01 de novembro, fazendo com que a qualquer momento o país enfrente uma depressão tropical, com chuvas torrenciais.

"E aí a situação poderá piorar", alertou o também diretor de Planeamento e Operações da Proteção Civil de Cabo Verde.

Na semana passada, as chuvas voltaram a cair na ilha da Boa Vista e afetaram cerca de 250 famílias, sobretudo no bairro denominado de Barraca, a escassos metros do centro de Sal-Rei, principal localidade da ilha.

Em 12 de junho, o Governo cabo-verdiano previu mais um ano de pouca chuva no arquipélago e anunciou um conjunto de medidas para proteger a campanha agrícola, reforçar a resiliência das populações e adaptar o setor aos efeitos das mudanças climáticas.

Em fevereiro, o ministro da Agricultura e Ambiente cabo-verdiano, Gilberto Silva, disse que em 2020 o país ficou "longe" de um ótimo ano agrícola em termos de produção, mas garantiu que ainda assim foi melhor do que os três anos de seca anteriores.

 

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