
Carlos Moedas consegue surpreender-nos no nível dos seus argumentos. Desta vez e se o Leitor não esteve atento, acusouo PS de cinismo político a respeito de propaganda eleitoral e disse “retirámos todos esses cartazes. Mas hoje é triste ver que um partido como o PS, um partido com responsabilidade, enche novamente a cidade de cartazes”.
Depois de ter enxameado cidade de propaganda elogiosa do seu trabalho, paga com o dinheiro de todos, é espantoso o atrevimento para falar em cinismo sobre propaganda eleitoral.
Caro Leitor, como pode testemunhar, nos últimos quatro anos, os lisboetas perceberam que o principal atributo de Carlos Moedas é a propaganda. Os lisboetas viram-no e sentiram no lixo abundante por recolher nas ruas de capital, nos espaços verdes descuidados e nos buracos que enchem as ruas. Viram também como podem ser pesadas as consequências para uma cidade quando o seu presidente só se importa com os dois minutos: dois minutos para um vídeo, dois minutos para umas declarações.
Causa surpresa que Carlos Moedas possa sentir que a propaganda é um tema forte para si ou que pode utilizar para atacar adversários. Caro Leitor, se reparar com atenção, irá constatar que, os únicos cartazes colocados por Moedas foram na saída da A2 (regresso do Algarve) e na entrada de Lisboa, perto de Alverca, na A1.
Fê-lo porque sabe que em Lisboa não precisa de cartazes, uma vez que pode contar com a utilização desviada e em abuso de poder da rede de publicidade institucional municipal para fazer a sua campanha, enxameado a cidade de mensagens de cariz elogioso da sua atuação paga pelo dinheiro de todos - desde chaves entregues à higiene urbana - numa clara violação da utilização da publicidade institucional e dos deveres de neutralidade das entidades públicas.
Nada disto é novo. Até aqui e em anteriores eleições Carlos Moedas, inclusive em instância de recurso para o Tribunal Constitucional, já foi condenado a remover a sua propaganda. É também facto público que o atual Presidente já teve dois processos de contraordenação neste mandato pela utilização abusiva da publicidade institucional.
O que fica cada vez mais claro é que Carlos Moedas não tem um problema com a propaganda. Tem um problema com a propaganda dos outros e com ideias diferentes das suas. Para Moedas, rede institucional da cidade deve servir como uma selfie em XXL de propaganda do próprio, feita pelo próprio. Um homem humilde que tem a necessidade de afixar cartazes por toda a cidade a auto elogiar o seu trabalho. Ou aparecer em 260 fotos num livro com 252 páginas.
Neste histórico de delinquência eleitoral, e numa pessoa comum e limitada por regras éticas e morais e exigente consigo próprio, diria para si mesmo: “Nas costas dos outros vemos as nossas. Aquele que não tem pecado, atire a primeiro pedra.” Se estas frases limitam uma pessoa comum, não limitam Carlos Moedas. É, aliás, bem demonstrativo que, num dos temas do seu mandato, a retirada de cartazes do Marquês de Pombal seja utilizada como arma de arremesso, quando Carlos Moedas foi o candidato que em 2021 optou por rasgar um consenso existente entre PS e PSD sobre a não colocação de cartazes eleitorais nessa praça, mesmo em período de campanha, colocando lá a sua propaganda.
Tem ouvido falar em radicais e moderados nesta campanha? O que dizer do radical que está disposto a rasgar consensos de anos entre principais partidos, mesmo quando são difíceis de obter? Como descrever a atuação de quem retira cartazes dos outros, mas entende que os seus não têm qualquer problema? Ocorrem-lhe mais palavras do que cinismo ou cínico?
A campanha eleitoral ainda está a começar, mas o que sugiro a um contorcionista eleitoral sem limites, é que se recorde do que afirmava Moedas candidato “Penso que é vergonhoso quando nós vemos que na nossa sociedade hoje, aquele que é o incumbente, que é Presidente da Câmara, utiliza os meios, utiliza o dinheiro dos contribuintes para fazer campanha política.” Modere a sua crítica, dê mais aos lisboetas do que cinismo, mentiras e propaganda. Discuta Lisboa e os seus problemas. Apresente soluções e trabalho. Foi tudo o que faltou nos últimos quatro anos.