As eleições estão agendadas para 06 de setembro, mas responsáveis pró-Pequim estão a levantar a hipótese de a votação para o Conselho Legislativo ser adiada naquele território semi-autónomo chinês devido ao ressurgimento de casos associados ao novo coronavírus.

"Opomo-nos ao adiamento das eleições para o Conselho Legislativo. O Governo deve é refletir no falhanço dos trabalhos de prevenção da pandemia", pode ler-se numa declaração conjunta dos candidatos e da Frente Cívica de Direitos Humanos (FCDH).

O documento surge uma semana após os partidos pró-democracia terem realizado primárias, algo que a China considerou como "uma provocação séria", alertando que algumas das campanhas podem ter violado a nova lei de segurança nacional imposta ao território.

"Esta é uma provocação séria contra o sistema eleitoral corrente", segundo um comunicado do Gabinete de Ligação, que representa o Governo chinês na cidade semiautónoma.

Na declaração de hoje, os subscritores manifestam a sua oposição ao Governo local e ao gabinete de ligação do Governo central em Macau e Hong Kong que procuram "reprimir as primárias", "mostrando-se "solidários com os promotores das primárias ameaçadas".

Por outro lado, lembram que mais de 600 mil cidadãos participaram numa votação não oficial que consideram "legal e constitucional".

"Nas primárias, cada candidato é um concorrente, mas com a confiança dos 610.000 eleitores, todos são aliados e irmãos neste momento, lutando por mais de 35 anos do Conselho Legislativo, contra a tirania", salienta-se na mesma nota.

Os candidatos e o movimento lançam ainda "um aviso" ao Partido Comunista Chinês: "um regime que atropela os direitos humanos provocará certamente a condenação de todo o mundo".

"Sem medo da repressão, unidos, a lutar por mais de metade do parlamento!", concluiu-se na declaração conjunta.

No mesmo dia, o ativista Joshua Wong e um dos rostos mais conhecidos do campo pró-democracia de Hong Kong anunciou oficialmente a sua candidatura, ele que foi um ator proeminente nos protestos de 2014, acabando mesmo por ser detido e condenado.

"Após a lei de segurança nacional, o risco para os candidatos eleitorais não é apenas de serem desqualificados, mas de serem expostos diretamente a ameaças físicas e enviados para cumprir sentença numa prisão chinesa", disse Wong em comunicado, sublinhando a responsabilidade de ter sido um dos candidatos mais votados nas primárias.

A lei da segurança nacional criminaliza atos secessionistas, subversivos e terroristas, bem como o conluio com forças estrangeiras para intervir nos assuntos da cidade.

Na lei também se determinou que qualquer pessoa condenada por pôr em risco a segurança nacional será proibida de concorrer às eleições ou de ocupar cargos públicos.

O documento entrou em vigor a 30 de junho, após repetidas advertências do poder comunista chinês contra a dissidência em Hong Kong, abalado em 2019 por sete meses de manifestações em defesa de reformas democráticas e quase sempre marcadas por confrontos com a polícia, que levaram à detenção de mais de nove mil pessoas.

Hong Kong regressou à soberania da China em 1997, com um acordo que garante ao território 50 anos de autonomia a nível executivo, legislativo e judicial, bem como liberdades desconhecidas no resto do país, ao abrigo do princípio "Um país, dois sistemas", também aplicado em Macau, sob administração chinesa desde 1999.

JMC // ANP

Lusa/Fim