
De acordo com a proposta, subscrita pelo vereador responsável pelo pelouro do Urbanismo, Ricardo Veludo (independente, eleito nas listas do PS), está prevista "a instalação de quatro unidades comerciais e de uma unidade de serviços", que ocupará a totalidade do piso em sótão, correspondente à mansarda.
Segundo a arquiteta Francisca Alves, diretora do gabinete que elaborou o projeto, as principais premissas "são reabilitar e preservar todos os espaços icónicos do quarteirão, assumindo uma intervenção contida e fiel ao original com base na imagem em representação no cartulário pombalino".
Conforme refere André Caiado, arquiteto fundador do gabinete, num vídeo explicativo a que a Lusa teve acesso, o cartulário pombalino é um conjunto de plantas que foi desenhado e desenvolvido como referência para recuperar a cidade de Lisboa após o terramoto de 1755, com as regras principais de métrica, da dimensão dos vãos, janelas, caixilharias e acabamentos, entre outros elementos, além de uma solução estrutural para resistir a tremores de terra e evitar a propagação de incêndios.
Atualmente, segundo Francisca Alves, todo o quarteirão, onde durante quase um século esteve instalada a antiga pastelaria Suíça, está "num elevado estado de degradação".
O projeto "Quarteirão do Rossio" prevê repor todo o piso térreo, com o desenho e métrica do cartulário pombalino, à exceção da zona das lojas históricas onde as fachadas serão reabilitadas e mantidas. Todas as cantarias serão também reabilitadas, tal como os varandins, entre outros elementos, e será feita a substituição integral de toda a caixilharia (no piso térreo em ferro pintado a verde e nos pisos superiores em madeira pintada a branco com um aro verde).
Quanto às antigas lojas, Francisca Alves refere que a "Manteigaria União" é a que tem "mais elementos de elevado valor arquitetónico e patrimonial que serão todos mantidos, como o mobiliário a e pintura mural do teto".
A "Pérola do Rossio", loja de chás e cafés e que é a única que se mantém em atividade, será "na íntegra mantida tanto no interior, como na fachada, assim como o seu comércio e a família arrendatária".
A cobertura dos edifícios será uniformizada, "com uma solução mais próxima da baixa pombalina" e no interior, que está "em muito mau estado", serão recuperados os tetos e pinturas.
Segundo uma nota dos promotores do projeto, o quarteirão é desde 2018 propriedade da empresa JCKL Portugal -- Investimentos Imobiliários.
Os vereadores do PCP já anunciaram, entretanto, que irão votar contra a proposta por considerarem que "uma vez mais" se está a assistir "a uma oportunidade perdida de dotar o centro da cidade de uma multifuncionalidade desejável que mantenha a cidade habitada e viva".
"O PCP considera que não é através de megaempreendimentos comerciais que se revitaliza o centro histórico de Lisboa", lê-se numa nota enviada pelo gabinete dos vereadores comunistas.
Na nota, o PCP recorda que o "Rossio é uma das praças mais emblemáticas da cidade e da Baixa Pombalina e foi, desde sempre, palco de acontecimentos importantes e marcantes na história de Lisboa", prometendo combater "o caminho de descaracterização da cidade de Lisboa, da venda do seu património a fundos estrangeiros, que especulam e contribuem para o encarecimento do custo de vida da cidade".
VAM // MLS
Lusa/Fim