
Aileu, Timor-Leste, 25 nov (Lusa) - A última bandeira das Falintil, braço armado da resistência timorense, foi arriada pouco depois das 10:00 de 01 de fevereiro de 2001, numa cerimónia emotiva em Aileu, a vila onde a insurreição armada nasceu em agosto de 1975.
Ao som de uma corneta herdada do tempo da administração portuguesa, a bandeira azul, branca e verde desceu vagarosamente do longo mastro que se erguia no campo de futebol da vila de Aileu.
Três soldados timorenses fizeram descer pela última vez a bandeira das Forças Armadas de Libertação Nacional de Timor-Leste e, em sentido, dobraram-na e levaram-na ao chefe de Estado Maior cessante das Falintil, Taur Matan Ruak que cerimoniosamente a entregou a Xanana Gusmão.
O histórico comandante do braço armado da resistência timorense, que entre 1978 e 1992 chefiou as Falintil, recebeu o estandarte e visivelmente emocionado levou-o à cara. Dobrou-se sobre a bandeira e escondeu a face durante alguns segundos. Pareceu um compasso mais longo. Quando levantou a cabeça estava a chorar.
De Taur Matan Ruak, que tinha acabado formalmente de cessar funções como chefe de estado-maior das Falintil, Xanana Gusmão recebeu também uma arma que segurou na mão direita, beijando-lhe a coronha.
Minutos depois subiu no mesmo mastro a bandeira das Nações Unidas, o estandarte que até à independência em 2002 representou "o mais novo exército do mundo", as Forças de Defesa de Timor-Leste (FDTL), que começaram com 650 homens escolhidos de entre os cerca de 1.500 elementos que integravam as Falintil. Taur Matan Ruak assumiu o comando operacional.
Ladeado por Xanana Gusmão e pelo administrador transitório da ONU, Sérgio Vieira de Mello, José Maria Vasconcelos, nome de código Taur Matan Ruak, foi oficialmente empossado no cargo de comandante-em-chefe das FDTL.
Xanana Gusmão e Vieira de Mello colocaram as primeiras insígnias ao chefe militar timorense, que se tornou o primeiro brigadeiro-geral das FDTL.
O momento foi também marcado por uma missa rezada em tetum e português pelo bispo de Díli, Ximenes Belo e por três outros padres timorenses, entre eles o 'ministro' dos Assuntos Sociais, Filomeno Jacob.
"O povo acredita em Deus e hoje especialmente quer recordar os seus mortos, os que morreram por uma causa justa, por uma causa nobre e por causa deles podemos dizer que existe Timor-Leste", disse Ximenes Belo.
Rezou em tétum e falou em português aos presentes, homenageando todos "os que morreram nas vilas e cidades, nos vales e nas florestas" e recordando-os como "elementos essenciais" da luta pela independência de Timor-Leste.
Uma recordação que ficou marcada num simples monumento de cimento, ainda fresco nesse dia, onde uma cruz de madeira tosca e uma placa verde e amarela foi colocada a relembrar "A memória dos mártires das Falintil" e o período de vida do braço armado timorense: 20 Agosto de 1975 a 01 de fevereiro de 2001.
Enterrado no cimento, representando essas mesmas mortes, uma espingarda SKS do 'inimigo indonésio' e as armas menos 'profissionais' com que muitos timorenses lutaram - uma lança e uma espada.
Um por um, os principais líderes timorenses e individualidades internacionais depositaram coroas de flores.
Logo a seguir uma longa fila dos 'anónimos', os que verdadeiramente são representados no pequeno monumento, e uma salva de tiros, disparados com uma mistura de alegria e de tristeza.
E depois algumas viúvas. Um choro que se sentiu atrás das muitas velas, acesas de repente aos pés do monumento, colocado a poucas centenas de metros de outro, que recorda o massacre de vários soldados portugueses às mãos do exército japonês durante a II Guerra Mundial.
ASP // JMR
Lusa/Fim