Uma tarde seria muito insuficiente para debater o tema, mas a missão de plantar a discussão e dar informação a quem assistiu ao evento Placed, organizado pela associação Reboot, ficou cumprida. O que nós sentimos coletivamente é que há muita gente que não faz melhor porque não sabe como, ou não sabe que deve. E então o nosso foco é sempre a informação”, explica ao SAPO, Maria Hipólito, líder de projeto da associação.

A entrada no mercado de trabalho de refugiados e migrantes foi o tema mais abordado por ser uma das grandes dificuldades de integração desta comunidade. A barreira linguista, a demora no processo de documentação e a burocracia na validação de competências são alguns dos fatores que contribuem para a dificuldade de obter um trabalho. “Em matéria de emprego, temos de ver o que priorizamos, não basta a simpatia e boa-vontade”, lembrou Ana Rita Marques, psicóloga clínica e coordenadora do centro de emprego de Loures e Odivelas, presente no painel de especialistas.

Claro que isto é um problema acima de tudo sistémico e aquilo que é sistémico é sempre um desafio muito maior. Sabemos que não é um evento destes que vai ser uma solução sistémica”, desabafa Maria Hipólito da organização, “mas se o nosso público-alvo começar a falar mais destes temas e a tentar verbalizar que quer que isto seja um tema tratado com mais humanidade, se calhar já chegamos a algum lado. Com toda a gente a remar para o mesmo lado, a pensar ' sim, vamos integrar e vamos integrar bem', chegamos mais longe”, explica.

Maria Hipólito
Maria Hipólito, líder de projetos da associação Reboot créditos: Reboot

A questão da discriminação também foi levantada por Francisca Gorjão Henriques, da associação Pão a Pão. “Sejamos sinceros, os portugueses são simpáticos e amáveis, mas depende de quem têm à frente. Se calhar uma mulher que use um véu e que venha de um país africano, não vai encontrar a mesma simpatia que alguém vindo da Europa.”

A Reboot pretendeu assim também afastar o discurso racista e xenófobo que, por vezes, acompanha estes temas. “Temos de começar a desconstruir as ideias feitas de que os refugiados ou migrantes nos vêm roubar trabalho. São discursos muito pequeninos. Há que compreender que efetivamente não nos estão a roubar trabalho, estão a gerar também riqueza”, remata a líder de projeto da associação. Além de voluntária na Reboot, Maria é também professora de Serviço de Restauração e Bebidas, na Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa e, por isso, também contacta com muitos migrantes que têm ali formação.

Fizemos 4600 quilómetros em três dias”

Além da discussão em torno das questões mais sistémicas de integração, também pudemos ouvir alguns testemunhos de pessoas que, à volta de uma mesa, partilharam a sua história. Histórias difíceis que foram, de certa forma, substituídas por um discurso positivo de gratidão por terem encontrado um lugar onde têm paz e segurança. Nem todos os casos são felizes ou fáceis, mas por ali foram-se ouvindo pessoas.

Foi no mercadinho de roupa, pastelaria, bijuteria e obras de arte feitas por artistas estrangeiros residentes em Portugal, que encontrámos a Maryia e o Myron, o seu filho de seis anos. Numa pequena mesa com alguns pacotes com bolachas em forma de noz podíamos ler “Maryia Sorokolat”. E foi entre as vendas e as interrupções do pequeno Myron, que se queria entreter com o telemóvel da mãe, que Maryia nos foi contando a sua história. Ou pelo menos a sua nova história, que começou no dia 24 de fevereiro de 2022 quando o seu país foi atacado pela Rússia.

Maryia E Myron
Maryia e Myron são refugiados ucranianos em Portugal desde que a guerra começou créditos: Reboot

Mariya fugiu de Kharkiv de carro com o filho na primeira semana de março. “Fizemos 4600 quilómetros em três dias”, conta. O pai de Myron não pôde vir com a família, teve de se juntar aos milhares de homens que ficaram para ajudar o país, e acabou por ser colocado na Cruz Vermelha.

Em Portugal não tinham nada nem ninguém, apenas na memória e nas pesquisas do telemóvel, fotografias das melhores praias portuguesas para praticar surf. “Não sou surfista, mas gostava de começar a fazer e esta era a única referência que eu tinha de Portugal. Achei que podia ser um bom lugar para viver”, diz.

Mãe e filho chegaram a Sesimbra no dia 3 de março, exatamente uma semana após o início da guerra, no dia em que na sua cidade contabilizava 34 mortes de civis devido aos bombardeamentos e ataques russos. Maryia e Myron fugiram das estatísticas. “Lembro-me de cruzar a fronteira com Espanha e apaixonar-me de imediato por este país. É tão verde. E as pessoas foram muito amáveis e até os carros buzinavam em sinal de apoio”, conta.

Maria era chef de Pastelaria em Kharkiv, trabalhava 24 sob 24 horas. O ritmo era alucinante e pouco tempo tinha para o filho, uma realidade que se alterou da noite para o dia. Quando chegaram ficou num apartamento de Airbnb e o senhorio foi das primeiras pessoas a dar-lhe a conhecer os apoios que o governo português tinha para os ucranianos. “Em três semanas conseguimos logo o NIF”, conta Maryia.

Através de um formulário online foi possível os cidadãos ucranianos adquirirem um título de proteção temporária que incluía um Título de Residência Temporária, a atribuição do Número de Identificação Fiscal (NIF), o Número de Identificação da Segurança Social e o Número de Utente do Serviço Nacional de Saúde sem ser precisa uma longa espera.

Maryia
créditos: Reboot

A demora na documentação e a incapacidade de resposta dos Serviços de Estrangeiros e Fronteiras têm sido muito visadas quando o tema é o trabalho. “Se vamos inscrever a pessoa para emprego, temos de ter a garantia ela está regular em território nacional e que tem um documento que a habilita ao exercício da atividade profissional. Esses documentos, seja um título de residência, no caso de os ucranianos substituiu-se pelo título de proteção temporária, vistos de residência ou o próprio estatuto de refugiado, são sempre tratados pelo SEF”, explica Ana Rita Marques. Numa segunda fase, também é este documento que servirá para obter o NIF e o número de segurança social.

“Fugimos para as montanhas onde ficámos  sete ou oito dias sem comer ou beber”

E se para Maryia, Portugal foi uma opção, para Mohsin foi uma imposição e o caminho até cá muito mais atribulado. “Eu vivia em Sinjar com a minha família, somos yazidis, e em 2014 a nossa comunidade foi fortemente atacada”, relembra.

O episódio que Mohsin nos conta é conhecido como o Massacre de Sinjar, quando a 3 de agosto de 2014 o Estado Islâmico lançou um ataque nesta região, no norte do Iraque, território da comunidade Yazidi, uma religião minoritária considerada pelos extremistas islâmicos “adoradores do diabo”. Estima-se que morreram aproximadamente doze mil yazidis, sendo este ataque considerado um genocídio.

Mohsin Alchady
Mohsin é refugiado iraquiano, em Portugal desde 2017 créditos: Reboot

Mohsin tinha 16 anos, era um miúdo como todos os outros: de manhã ia à escola, chegava a casa por volta das duas da tarde, a mãe cozinhava, ele almoçava e à tarde ia jogar à bola, uma das suas grandes paixões. Quando acabasse os estudos iria para a universidade estudar Direito para “ajudar as pessoas”. O futuro foi bem diferente. “Eu e a minha família tivemos de nos proteger e fugimos para as montanhas, onde ficámos cerca de sete ou oito dias sem comer ou beber. A pouca água que havia era para as crianças”, relembra.

Para trás ficou Sinjar onde a vida era simples. “Lá todos éramos família. Quando se cozinhava convidavam-se os vizinhos”, diz. Quando a guerra chegou viu familiares e vizinhos a serem mortos no meio da rua. “Eles levaram os jovens para lutar nas suas milícias, os mais velhos foram mortos e as mulheres jovens levaram-nas para casarem com elas ou para vendê-las por cinco ou dez dólares. Depois disto, muita gente da nossa comunidade fugiu para ter uma vida melhor, sem medo”, conta.

Mohsin caminhou das montanhas até à fronteira com a Síria. Da Síria, passou para a Turquia onde foi apanhado por não ter passaporte e preso durante 33 dias. Ali só tinha direito a uma refeição, que tinha de pagar, e era agredido todos os dias. “Foi a pior altura da minha vida e nunca mais vou querer voltar a estar naquela situação”, recorda com a memória em lágrimas. Depois desse tempo, foi encaminhado para um campo de refugiados de onde fugiu cinco vezes para atravessar o oceano de bote até à Grécia. “As quatro primeiras vezes fomos apanhados e devolvidos ao campo, à quinta tive a sorte de conseguir, eram três botes, dois deles afundaram, vi pessoas a morrer sem poder fazer nada”, conta.

O jovem teve mais de um ano a viver em tendas no campo de refugiados de Atenas. Ele e o irmão mais velho. Na altura, a Alemanha estava a receber muitos refugiados da comunidade yazidi, onde Mohsin já tinha alguma família. Sem ainda saber porquê, foi enviado para Portugal. “Eu tive várias entrevistas com ONGs e disseram-me que tinha de escolher um país para ir e eu disse que queria ir para a Alemanha. Só que havia programas a desenvolver-se e Portugal iria receber refugiados destes campos e, apesar de lhes ter dito que queria ir para a Alemanha, eles disseram que eu ia para Portugal. O meu irmão fez exatamente as mesmas entrevistas ao mesmo tempo e levaram-no para a Alemanha”, conta.

Mohsin Aldachy
Mesa redonda com partilha de histórias créditos: Reboot

Chegou a Portugal em 2017, mas não aceitou o seu destino à primeira e depois de dois dias em Lisboa apanhou um autocarro. O destino final seria Dortmund, na Alemanha, mas, em Madrid, Mohsin foi convidado a sair por não ter passaporte. “Lembro-me de estar na rua a chorar e a perguntar a mim mesmo por que é que isto me estava a acontecer. Eu não merecia aquilo, eu não tinha feito nada de mal, estava só à procura de uma vida melhor.” Então continuou a andar, durante quatro dias, até chegar à fronteira com a França, em Paris dormiu na rua durante duas semanas, mas conseguiu chegar à Alemanha. “Eu mal comi e fiquei mais de três semanas sem tomar banho, que para mim foi o mais duro”, conta. Na Alemanha, depois de um mês com a família, Mohsin teve de voltar a viver no campo de refugiados para conseguir documentos para ficar permanentemente. A recusa para documentos foi constante e um certo dia, batem-lhe à porta e dizem-lhe que não pode ficar mais na Alemanha e é trazido novamente para Portugal. “Aqui receberam-me com um ramo de flores e tinha um cartão a dizer ‘Bem-vindo de volta’”, Mohsin soube naquele momento que era aqui que iria construir uma nova vida.

A forma como a pessoa é acolhida pode ser contentor de angústias e mal-estar”

Quando chegam a um novo país, as preocupações primárias de acolhimento e integração são o alojamento, o acesso a documentação para acesso a emprego, apoios sociais e serviço nacional de saúde, bem como a aprendizagem da língua.

Existem respostas imediatas e organizadas nestas áreas, contudo, no campo da saúde mental ainda não existe uma resposta muito clara. “Esta tem sido uma temática que tem sido abordada com alguma insistência. Muitas vezes o diagnóstico permite diferenciar refugiados, porque mesmo que venha um grupo da Síria, nesse grande grupo existem perfis diferentes, existem histórias diferentes e portanto estas avaliações resultariam em propostas de resposta diferentes. Mas acho que esbarramos novamente com a falta de recursos”, lamenta Ana Rita Marques.

A questão da disponibilidade do próprio Sistema Nacional de Saúde é também um problema que o migrante vai partilhar com um cidadão nacional que não consegue consulta. “A identificação, o encaminhamento e a articulação entre instituições ou serviços pode ser feita, mas depois o Serviço Nacional de Saúde tem de ter resposta imediata nesta especialidade médica para criar este suporte. E é o tempo entre a chegada do refugiado e esta intervenção que vai fazer a diferença na sua integração. E este apoio tem de ter continuidade, não basta um diagnóstico”, explica.

Ana Rita Marques
Ana Rita Marques foi uma das oradoras do painel de discussão do evento créditos: Reboot

Ana Rita Marques acrescenta ainda que o suporte da comunidade e instituições é muito importante e pode fazer a diferença. “A forma como uma pessoa é acolhida, o grupo a que chega, o sítio onde vai residir, a instituição que o apoia, a ação de formação em que vai ser integrado para a aprendizagem da língua; tudo isto é um processo que pode ser contentor de angústias e mal-estar”, diz.

Para Mohsin, o seu contacto com a associação Lisbon Project não podia ter sido melhor contentor. Foi um amigo, também refugiado, que me falou Lisbon Project e que tinha pessoas espetaculares, que ajudavam com a língua e também tinham projetos relacionados com futebol e eu adoro futebol, desde sempre, então pensei imediatamente em procurá-los”, recorda.

O jovem iraquiano veio para Portugal ao abrigo do programa europeu “Programa de Recolocação” que consistia na transferência de refugiados do país de asilo para um país terceiro. Neste âmbito, estima-se que vieram para Portugal, entre 2015 e 2017, cerca de 1520 cidadãos, na maioria vindos da Síria, Iraque e Eritreia. “A maior parte fala árabe e muitas associações precisam de pessoas que falem a língua para ajudar com a tradução, então eu voluntariei-me para trabalhar com a Lisbon Project na altura e eles ajudaram-me a arranjar um trabalho. Arranjei trabalho na primeira semana que cá estive num Airbnb a fazer limpeza e a gerir entradas dos clientes”, recorda Mohsin com um sorriso no rosto que foi a imagem de marca do jovem durante todo o evento e entrevista.

Mohsin não precisava da língua portuguesa, o inglês bastava-lhe.Trabalhou no turno noturno em reposição numa grande cadeia de supermercados, lavou loiça numa grande cadeia de pizzarias onde também teve a oportunidade de estar na cozinha e fazer pizza. Trabalho nunca foi um problema para Mohsin, contudo reconhece que nem sempre é assim para todos. Acredita que tem de se tentar muito. "Até posso responder a dez anúncios, um hei de conseguir. Não é preciso a língua numa série de trabalhos”, recorda.

“Sei que estava a passar por uma depressão”

Quem passa por um processo migratório, passa por uma série de perdas que são agravadas pelo cenário de guerra e conflito. Há quem passe pelo luto de perder amigos e familiares, mas também a perda da língua, dos espaços, da sua rotina, da sua casa, emprego e até do seu estatuto social são muito avassaladoras e tiram estabilidade emocional a quem chega.

Maryia recorda que quando chegou sentia-se anestesiada. Eu estava sem ideias, triste, sei que estava a passar por uma depressão. Estava sem trabalho e sem perspetivas. Também não conseguia frequentar aulas de Português, porque não se sentia mentalmente disponível, ainda hoje não se sente. Foi Myron quem puxou pela mãe. “Ele disse ‘mãe, vamos fazer qualquer coisa! Vamos partilhar a nossa experiência e o nosso amor com as pessoas’ e surge assim a ideia de começarmos a fazer estas bolachas – NUTS – que são ucranianas e a vender no Instagram”, conta Maryia que na Ucrânia tinha o seu próprio negócio como chef de pastelaria.

Além da sustentabilidade financeira que garante, “as necessidades básicas e outras, que não sendo básicas, nos trazem prazer, conforto, alegria e bem-estar”, explica Ana Rita Marques, ter um emprego também é importante para a saúde mental. “Em primeiro lugar é o sentirmos que somos úteis e que temos uma função e propósito. É dar sentido também aos nossos dias”, conclui.

Ana Rita Marques realça que o contrário também é importante ter em conta “não se pode avançar para um emprego e formação se do ponto de vista psicológico as coisas não estiverem tranquilas”, diz. E de novo, a importância do acompanhamento psicológico.

“Quando tens amigos é mais fácil e adaptaste-te melhor a uma nova vida”

A guerra na Ucrânia já dura há um ano e três meses, Maryia achou que acabasse ao final de um mês. Não sabia o que seria o futuro, mas enquanto conduzia com destino a Portugal, com o coração bombardeado e a vida entre destroços, voltar era uma opção mais certa do que agora. Voltou em abril a Kharkiv, com Myron, para visitar a família, mas o que encontrou não soube a casa. Tive uma série de sentimentos estranhos. Percebi que aquele lugar que era meu, já não era mais o mesmo. Não é a minha cidade e as minhas pessoas”, conta. Esteve lá durante duas semanas. “Quando voltámos a Portugal, eu estava no avião a pensar ‘voltámos a casa’. Então agora aqui sinto-me em casa”, remata.

Mãe e filho já não se sentem tão sozinhos. Myron está numa escola que gosta e onde se sente acarinhado, algo que não aconteceu nos primeiros meses, em que foi vítima de bullying, e Maryia está a estudar no Mezze Escola, um programa de formação fundado pela Associação Pão a Pão destinado a refugiados e imigrantes na área da restauração. Conheço novas pessoas da comunidade e tenho amigos de todas as nacionalidades. Quando tens amigos é mais fácil e adaptaste-te melhor a uma nova vida”, diz com alívio.

A próxima etapa é o estágio numa cadeia hoteleira de renome onde Maryia está ansiosa por começar. “Posso trabalhar e ter uma experiência nova.” A vida está a recompor-se, ainda que com muitos estilhaços.

"Basta-me ter comida, segurança e paz"

Mohsin já viveu em Benfica, Ameixoeira, Moscavide e agora Campo de Ourique. As queixas são iguais às de tantos portugueses, os valores das rendas subiram imenso o que o impossibilita de ter uma casa sozinho. Vive com uma família do Iraque, agora a sua família. “Fazemos algumas refeições juntos, é bom”, diz.

O sorriso está sempre presente, jurou a ele mesmo que seria sempre assim. “Eu deixei a minha família e tinha apenas dezasseis anos, eu não tinha ideia nenhuma do mundo fora dali. Quando saí de ao pé deles, eu só via pessoas tristes à minha volta, a chorar, e eu era um deles, mas depois de tudo o que passei as pessoas só me verão com um sorriso na cara”, explica quase em forma de gratidão pela vida que conseguiu.

Mohsin
Mohsin créditos: Reboot

Mohsin diz que nunca teve sonhos e não perspetiva a vida a sonhar, prefere ter objetivos para alcançar. Agora, o primeiro objetivo é ter um certificado da língua portuguesa para depois conseguir a cidadania portuguesa. “Se conseguir a cidadania, tudo vai ser mais fácil e finalmente poderei visitar a minha mãe. Faz dez anos que não a vejo, ela está ainda no Iraque num campo de refugiados. Vivem em tendas, nas diferentes estações do ano, o inverno é muito rigoroso”, diz e agora sim, as lágrimas querem apagar-lhe o sorriso.

O jovem está agora a trabalhar com a Lisbon Project, em part-time, faz o catering dos eventos da associação no período da noite, e no período da manhã trabalha num restaurante. Eu não quero ter muito dinheiro ou ser rico. Para mim, basta-me ter comida, segurança e paz”, diz feliz. Mas garante que ainda vai abrir o seu próprio restaurante. “Mas o meu restaurante seria 100% diferente de todos os outros e a ementa iria ser representada por um prato de cada país em que já estive. Teria pratos da Síria, Turquia, Grécia, Itália, Espanha, Alemanha, Bélgica, Holanda, Iraque e Portugal”, conta entusiasmado.

Ainda assim não se foca muito no que será o futuro, mas mantém o otimismo e recusa-se a não ser positivo. “Eu tento aproveitar cada momento, porque ninguém sabe o que vai acontecer em minutos, então não me quero preocupar com o que vem a seguir”. Também Maryia pensa assim. Talvez seja o resultado de duas vidas que de um momento para o outro viram os seus lugares de amor e conforto serem destruídos. E mesmo assim têm amor para dar.

Nota: Está a decorrer uma campanha para angariação de fundos para o projeto Um cabaz para o mundo, do Centro São Cirilo e o Programa Educativo – Aulas de Português, do Lisbon Project, promovida pela Associação Reboot. Saiba mais no link