
Antiguidades, enfeites de Natal, bicicletas, tacos de golfe e até animais estão na lista de ofertas aos Presidentes dos Estados Unidos (EUA). Há séculos que os líderes norte-americanos recebem presentes de potências estrangeiras. O avião oferecido pelo Qatar - avaliado em 400 milhões de dólares -, que Donald Trump parece estar decidido a aceitar, deverá ser o presente mais caro da história dos EUA.
É uma 'ferramenta' utilizada para fortalecer relações e 'quebrar o gelo' diplomático. A lista de presentes aos EUA tem séculos e conta com roupa, comida, vinho, uma pista de bowling, uma mesa de pingue-pongue, uma pegada de dinossauro fossilizada e até um leão embalsamado.
A mesa "Resolute" onde Donald Trump assinou, assim que foi eleito Presidente dos Estados Unidos, um número recorde de ordens executivas foi oferecido pela Rainha Vitória, em 1880, século XIX, ao Presidente Rutherford B Hayes. É feita de madeira de carvalho do navio britânico HMS Resolute.
Em 1997, o então Presidente do Azerbaijão deu a Bill Clinton e à primeira-dama um tapete com os seus rostos, feito em apenas algumas semanas. Depois de Heydar Aliyev aceitar um convite para visitar a Casa Branca, 12 mulheres trabalharam afincadamente na produção do tapete, um processo que por norma demora meses.
Em 2008, o primeiro-ministro de Israel Ehud Olmert deu a George W. Bush uma bicicleta, depois de saber que o então Presidente não podia correr devido a uma lesão no joelho.
Bush recebeu também um leão embalsamado, uma oferta do Presidente da Tanzânia. E um dragão-de-komodo, uma espécie de lagarto, do Presidente da Indonésia.
A biblioteca presidencial de Barack Obama, o 44º presidente dos Estados Unidos (de 2009 a 2017), conta com milhares de ofertas, como decoração de Natal e abotoaduras de prata. 80 pares de boxers estão entre os presentes mais caricatos oferecidos a Obama.
A biblioteca presidencial de Ronald Reagan acumulou milhões de documentos governamentais, presidenciais e pessoais e milhares de presentes e artefatos.
Donald Trump já recebeu, por exemplo, uma pintura do Presidente de El Salvador e tacos de golfe do primeiro-ministro do Japão, avaliados em 250 mil dólares.
Processo complexo
O processo nem sempre é claro. De acordo com a lei dos Estados Unidos, presentes estrangeiros avaliados em menos de 480 dólares podem ser entregues a funcionários federais. Acima desse valor, é considerado um presente para o "povo dos Estados Unidos", o que significa que é registado e avaliado por uma equipa da Casa Branca.
A maioria das ofertas é transferida para arquivos nacionais ou para a biblioteca presidencial. Por outro lado, se o presente agradar ao Presidente, o líder pode ficar com ele, desde que pague um valor justo de mercado.
De acordo com o The Guardian, alguns acabam por "se perder" durante o complexo processo burocrático. Por exemplo, um cão oferecido pelo Presidente da Bulgária a George W. Bush foi enviado para os arquivos nacionais e acabou por ser adotado por uma família.
O Presidente não ficou com o cão, diz o mesmo jornal, porque uma cláusula da Constituição diz que os detentores de cargos públicos estão proibidos de aceitar presentes de qualquer "rei, príncipe ou Estado estrangeiro" sem a aprovação do Congresso.
Avião oferecido pelo Qatar: o presente mais caro da história
A intenção de Donald Trump ficar com a oferta do Qatar originou críticas de senadores democratas e levantou questões éticas.
A Constituição dos Estados Unidos proíbe os funcionários de aceitarem presentes "de um rei, príncipe ou Estado estrangeiro". Referindo-se a esta regra constitucional, os senadores democratas denunciaram a oferta, afirmando que "cria um claro conflito de interesses, levanta sérias questões de segurança nacional, convida à influência estrangeira e mina a confiança do público no Governo" dos Estados Unidos.
Donald Trump defende firmemente que seria "estúpido" recursar o presente e diz que tenciona usá-lo como novo avião presidencial para substituir o atual Air Force One. Além disso, garantiu que não utilizaria o avião para fins pessoais após o final do mandato.
O gabinete de imprensa da Casa Branca esclarece que "qualquer presente" dado por um Governo estrangeiro é "sempre aceite em total conformidade com todas as leis" e acrescenta que o Presidente Trump está "comprometido com a transparência total".
Avaliado em 400 milhões de dólares, cerca de 360 milhões de euros, o Boeing 747-8 deverá ser o presente mais caro da história dos Estados Unidos.
Donald Trump inicia esta terça-feira uma viagem oficial que o levará à Arábia Saudita, Qatar e Emirados Árabes Unidos.