"A direção do ADI, eleita em congresso realizado no dia 25 de maio de 2019, vem, de forma pública e inequívoca, renunciar ao mandato recebido dos militantes para liderar o partido por um período de três anos", segundo um comunicado enviado à Lusa.

Com a renúncia, o partido "devolve assim à comissão política os poderes estatutários para, se assim entender, prosseguir com a missão de preparação e realização, logo que seja oportuno, de um novo congresso eletivo".

O comunicado, de oito parágrafos, e assinado pelo presidente, Agostinho Fernandes, e o vice-presidente Ekneide Santos, justifica que a "profunda crise" que o partido vive há mais de um ano "é propensa a perpetuar o 'status quo' reinante de indefinição de liderança do partido".

Uma situação que, refere o comunicado, vem "fragilizando cada vez mais a imagem política do ADI, não permitindo ao partido exprimir-se convenientemente no campo político".

Desde setembro do ano passado que esta formação política vive "uma situação anómala de conflito de liderança", resultante da realização de dois congressos eletivos sucessivos.

Umm realizado em 25 de maio de 2019, foi ganho por uma direção liderada por Agostinho Fernandes, e outro congresso realizado em 28 de setembro do mesmo ano, que elegeu Patrice Trovoada, antigo primeiro-ministro e que se mantém ausente de São Tomé e Príncipe desde as eleições legislativas de outubro de 2018.

"Tal situação, em nada abonatória para a imagem e os propósitos do partido, levou a que desde dezembro do ano passado, os dirigentes e elementos integrantes de ambas as direções, constituídas em comissões, tivessem iniciado conversações e intensa reflexão, no sentido de encontrarem uma saída que melhor respondesse aos interesses superiores do ADI", sublinha o comunicado.

Agostinho Fernandes e Ekeneide Santos lembram que em fevereiro deste ano essa comissão chegou a entendimento de que "a solução mais adequada" para a crise seria a realização de um novo congresso, que deveria ocorrer em março.

"Tal solução de consenso foi apresentada aos militantes e à comissão política, que a validou, tendo esta última mandatado a referida comissão para a realização dos trabalhos preparatórios visando a realização do congresso eletivo", explica ainda o comunicado.

A pandemia causada pelo novo coronavírus obrigou à suspensão dos trabalhos e a "reportar o congresso para uma data posterior".

O comunicado do ADI lamenta que "até a presente data, não se vislumbra uma possibilidade de realização nos próximos tempos de um novo congresso".

A direção de Agostinho Fernandes foi reconhecida pelo Tribunal Constitucional, tendo uma fonte deste órgão judicial indicado à Lusa que a renúncia "não transfere imediata ou tacitamente poderes à outra direção", de Patrice Trovoada.

Patrice Trovoada liderou o anterior governo (2014-2018) e o ADI, a que presidia, venceu as eleições legislativas de outubro de 2018, mas sem maioria absoluta - conquistou 25 dos 55 lugares do parlamento, enquanto o Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe - Partido Social-Democrata (MLSTP-PSD, do atual primeiro-ministro, Jorge Bom Jesus) elegeu 23 deputados e fez uma coligação com um conjunto de três partidos (PCD-MDFM-UDD), alcançando assim apoio parlamentar para formar Governo.

Após as eleições e na impossibilidade de formar Governo, Patrice Trovoada anunciou a sua renúncia à liderança do partido da oposição.

No final de junho, o líder parlamentar do ADI anunciou que o partido irá apresentar uma moção de censura contra o Governo de Bom Jesus, acusando o chefe do executivo de "malabarista" e de "conluio com o presidente do parlamento".

MYB // JH

Lusa/fim