
De acordo com um relatório operacional daquela agência das Nações Unidas (ONU), consultado hoje pela Lusa, os recentes ataques dos "grupos armados não estatais", nas província de Cabo Delgado e Niassa, no norte de Moçambique, deslocaram milhares de pessoas e interromperam o acesso humanitário.
"No norte de Moçambique, a situação de segurança continua a deteriorar-se (...), a intensidade renovada do conflito está agora a afetar áreas anteriormente consideradas relativamente estáveis, incluindo Ancuabe e Montepuez [distritos de Cabo Delgado], que registaram cerca de 15.000 e 5.000 novas deslocações, respetivamente", refere-se.
Desde outubro de 2017, a província de Cabo Delgado, rica em gás, enfrenta uma rebelião armada com ataques reclamados por movimentos associados ao grupo extremista Estado Islâmico, que chegaram a provocar mais de um milhão de deslocados.
Além de Cabo Delgado, a vizinha província de Niassa também já foi palco em abril de um ataque de membros destes grupos, que decapitaram dois guardas-florestais, enquanto o Estado Islâmico reivindicou a morte de três pessoas num ataque na mesma zona.
O ACNUR avança que mais de 25.000 pessoas foram deslocadas "numa questão de semanas" pelos novos ataques de grupos aramados no norte do país.
"Na província do Niassa, onde até há pouco tempo a deslocação era limitada, mais de 2.000 pessoas foram forçadas a fugir das suas casas desde meados de março. Juntam-se aos quase 1,3 milhões de pessoas que foram desalojadas pelo conflito armado, ciclones consecutivos e pela seca", explica.
No entanto, aquela agência da ONU reconheceu que, apesar dos desafios aliados ao terrorismo, o ambiente político de Moçambique mantém-se "calmo", com a atenção agora virada para o "planeamento do desenvolvimento a longo prazo".
O alerta do ACNUR surge depois de a ONU estimar, esta semana, que quase 5,2 milhões de pessoas estão a precisar de assistência, devido à "tripla crise" em Moçambique, resultado de "conflito armado, eventos climáticos extremos recorrentes e meses de agitação pós-eleitoral".
O coordenador e diretor adjunto para a África Ocidental e Central do ACNUR sublinhou que a realidade é particularmente grave na província de Cabo Delgado.
Xavier Creach disse que a atividade de grupos armados não estatais aumentou o número de deslocações e a destruição de infraestruturas, dificultando também os esforços de recuperação.
Só em 2024, pelo menos 349 pessoas morreram em ataques de grupos extremistas islâmicos na província, um aumento de 36% face ao ano anterior, segundo dados divulgados recentemente pelo Centro de Estudos Estratégicos de África, uma instituição académica do Departamento de Defesa do Governo norte-americano que analisa conflitos em África.
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